Nonato Guedes
A expectativa de que a campanha eleitoral para prefeito de João Pessoa fosse nacionalizada, no clima da polarização entre lulistas e bolsonaristas que é a marca registrada em várias Capitais, reforçou-se com a entrada em cena do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga (PL), que ascendeu à vaga destronando o comunicador Nilvan Ferreira, premido a migrar para Santa Rita e filiar-se ao Republicanos a fim de disputar a edilidade local. Queiroga, afinal, esteve na linha de frente do governo de Jair Bolsonaro, na campanha de vacinação contra a covid-19, enfrentando críticas, sobretudo, dos adversários do ex-presidente, diante de estatísticas alarmantes sobre o saldo da calamidade. Mas o foco foi desviado e, de certa forma, Queiroga foi poupado de bombardeio porque o foco da disputa passou a ser a atual gestão do prefeito Cícero Lucena (PP), que busca mais um novo mandato para seu repertório. O tom é plebiscitário, com o prefeito mostrando que avançou muito e os adversários contrapondo que a administração poderia ter avançado mais.
Nos últimos dias, coincidindo com o afunilamento do calendário no rumo do primeiro turno, quando a fatura poderá ser liquidada conforme projeções de alguns institutos, os três principais adversários de Cícero juntaram-se para atacá-lo, insinuando supostas ligações de membros da atual gestão com pessoas envolvidas no tráfico de drogas em áreas do território pessoense. As denúncias feitas em conjunto por Luciano Cartaxo (PT), Ruy Carneiro (Podemos) e Marcelo Queiroga (PL) intentaram criar um fato novo, de grande impacto ou repercussão, capaz de alterar a dinâmica de uma campanha que os analistas da mídia avaliam como insípida e desmotivadora, sem as mobilizações de vulto que carimbaram campanhas anteriores em João Pessoa. Ontem, Lucena partiu para a contra-ofensiva, denunciando a atuação de milícias digitais com a participação de elementos estranhos à Paraíba e anunciando interveniência junto ao próprio Supremo Tribunal Federal para apuração de fatos no bojo do inquérito sobre “fake news” que tramita naquela Corte sob o comando do ministro Alexandre de Moraes. A troca de petardos ofuscou, em parte, o debate de propostas, alçando a primeiro plano a polêmica sobre segurança ou insegurança nas eleições de seis de outubro.
Se a orquestração ensaiada pelos adversários de Cícero vai surtir efeito ou não, de alguma forma, no mapa das intenções de voto, já se poderá ter uma prévia na terça-feira com a divulgação da segunda rodada de pesquisa d Quaest Consultoria e Pesquisa, contratada pela TV Cabo Branco, afiliada da Rede Globo na Paraíba. Na primeira pesquisa, Cícero Lucena despontou com ampla vantagem sobre os concorrentes, alcançando 53% das intenções de voto. Luciano Cartaxo teve 12%, Ruy Carneiro 11% e Marcelo Queiroga 7%, configurando-se um tríplice empate, conforme a metodologia adotada pelo instituto e a margem de erro da pesquisa, que é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Nesse levantamento, que entrevistou 952 eleitores da Capital, 9% se declararam indecisos, enquanto 8% afirmaram que irão votar em branco, nulo ou não irão votar. Os índices de rejeição de postulantes como Luciano Cartaxo e Ruy Carneiro chegaram a ser considerados bastante expressivos – fator que teria contribuído para consolidar o favoritismo de Cícero Lucena. A tendência, em qualquer circunstância, seria oscilação na taxa de vantagem experimentada por Cícero – e a dúvida é saber até que ponto a oscilação foi impactante ou não no curso da campanha travada.
Nos debates já promovidos por diferentes veículos de imprensa – como rádio, televisão, e por entidades sociais, bem como nas sabatinas individuais igualmente encetadas com os candidatos a prefeito de João Pessoa, as questões nacionais não têm tido prioridade, concentrando-se mesmo o foco na discussão da problemática municipal. Os adversários apontam falhas ou omissões nas gestões empalmadas por Cícero Lucena e este, além de se defender, reage com informações sobre volume de obras e serviços com que a Capital é contemplada. Realça, em particular, o êxito da parceria que empreende com o governo do Estado, pilotado por João Azevêdo (PSB), que foi reeleito em 2022 e que é um eleitor declarado do presidente Lula, tendo sido bem tratado pelo governo federal, diferentemente do que aconteceu na gestão Bolsonaro, quando enfrentou obstáculos para liberar pleitos de interesse da Paraíba. A ampla coligação partidária montada para dar sustentação à candidatura de Cícero, envolvendo, principalmente, legendas de centro, possibilita uma mobilização maior por parte do esquema de apoio à candidatura à reeleição. Também vale lembrar que a ausência do presidente Lula e do ex-presidente Bolsonaro em palanques de aliados em João Pessoa tem influência para não nacionalizar a campanha, restringindo o confronto às questões paroquiais que são agitadas de parte à parte, de forma massificada.
A situação em João Pessoa para as eleições municipais é atípica devido ao fato de que o PT tem candidatura própria (a do deputado Luciano Cartaxo, apoiado fortemente pelo ex-governador Ricardo Courtinho) enquanto Cícero tem o apoio de um eleitor declarado de Lula, o governador João Azevêdo, com o compromisso do atual prefeito de se engajar na reeleição do petista em 2026. Essa conjuntura, certamente, influenciou para que na visita feita a João Pessoa, a pretexto de “agenda institucional”, o presidente Lula não tivesse evento político com ninguém – nem mesmo com Luciano Cartaxo, do PT. A agenda institucional foi mantida com o governador, e restou a Cartaxo a expectativa de contar com o mandatário num eventual segundo turno, se houver, e se ele lá estiver. Já Queiroga vê o tempo passar sem que seu padrinho, Jair Bolsonaro, dê as caras na Capital paraibana. Já se cogita que apenas a ex-primeira-dama Michelle venha, na reta finalíssima do primeiro turno. Mas a esta altura reina a dúvida sobre se Michelle ou o próprio Bolsonaro teriam alguma influência para alavancar Queiroga a um hipotético segundo turno.