Nonato Guedes
Na segunda pesquisa Quaest, divulgada, ontem, pela TV Cabo Branco, afiliada da Rede Globo na Paraíba, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (Progressistas) mantém-se na liderança de forma inquestionável, embora tenham sido registradas oscilações favoráveis nos percentuais de outros três candidatos que estão empatados tecnicamente, dentro da margem de erro. No levantamento realizado entre os dias 24 e 26 de agosto, com 852 eleitores, Lucena despontou com ampla vantagem sobre os concorrentes, alcançando 53% das intenções de voto contra 12% do deputado estadual Luciano Cartaxo (PT), 11% do deputado federal Ruy Carneiro (Podemos) e 7% do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga (PL). Na pesquisa realizada entre os dias 14 e 16 de setembro, com o mesmo contingente de entrevistados, Cícero teve uma queda de nível, passando de 53% para 49%, enquanto Ruy subiu de 11% para 14%, Cartaxo oscilou de 12% para 11% e Queiroga avançou de 7% para 11%.
Em relação a este novo levantamento, a avaliação da gestão de Cícero Lucena, que está no terceiro mandato, situou-se em torno de 58%, contra 27% de rejeição pessoal. O petista Luciano Cartaxo, que já governou duas vezes a Capital, disparou na rejeição com 51%, seguido por Ruy Carneiro, com 43% e pelo bolsonarista Marcelo Queiroga com 35%. Na nova pesquisa espontânea, Lucena exibe 36% de intenções de voto contra 6% de Ruy, 5% de Cartaxo e 6% de Queiroga, em meio a um universo de 43% de indecisos. O candidato Yuri Ezequiel (UP), que não havia pontuado na pesquisa anterior, agora aparece com 1% das intenções de voto, enquanto Camilo Duarte (PCO), cuja candidatura está sub-judice, não registrou intenção de voto em nenhum dos dois levantamentos. Desta feita, a Quaest fez simulações de segundo turno, hipótese que não é considerada no radar e Lucena liderou em três cenários. Ou seja, a fotografia das pesquisas contratadas pela emissora do Sistema Paraíba de Comunicação guarda coerência ou linearidade nas projeções formais, indicando o persistente favoritismo do prefeito Cícero Lucena, que é apoiado pelo governador João Azevêdo, do PSB.
É pertinente levar em conta que a nova pesquisa foi a campo após quinze dias de Guia Eleitoral (a propaganda gratuita nas emissoras de rádio e televisão) e trinta dias de campanha propriamente dita, com igualdade de espaços para todos os postulantes que se habilitaram a disputar a prefeitura pessoense. Um outro fato superveniente já captado pela pesquisa divulgada ontem foi a união entre três candidatos adversários de Cícero – Luciano Cartaxo, Marcelo Queiroga e Ruy Carneiro em um ato simbólico promovido em frente ao Tribunal Regional Eleitoral para assinalar o pedido de tropas federais que eles formularam (e que ainda não foi definitivamente julgado), combinado com a denúncia veemente sobre suposto clima de insegurança na campanha eleitoral em andamento em João Pessoa. Os três foram enfáticos ao denunciar a atuação de facções vinculadas a organizações criminosas, interferindo no contexto eleitoral de 2024, além de insinuar conexões entre agentes da administração municipal com pessoas que operam no tráfico de drogas. A expectativa era de que fosse criado um fato novo, de grande impacto sobre a sorte das eleições, destronando o prefeito Cícero da liderança a que foi alçado, mas essa expectativa frustrou-se para os candidatos adversários até porque não houve consistência documental, em termos de provas, para sustentar o argumento da denúncia.
Não somente o prefeito Cícero Lucena mas familiares seus foram atacados violentamente por candidatos de oposição, uma atitude que surpreendeu a opinião pública de João Pessoa e acabou contribuindo para desqualificar o discurso dos oponentes. Causou estranheza, principalmente, a junção do petista Luciano Cartaxo com o bolsonarista Marcelo Queiroga em um evento de campanha, o que desagradou simultaneamente a apoiadores do lulismo e a seguidores bolsonaristas, atmosfera reforçada pela proibição de cúpulas de partidos como o PL e PT a eventuais alianças entre facções que são reconhecidamente rivais e que polarizam o cenário político nacional sob o estímulo desse cenário de polarização artificial, numa estratégia focada muito mais nas eleições de 2026 do que propriamente nas eleições municipais de 2024. Já se disse, neste espaço, que a nacionalização da campanha não “pegou” em João Pessoa. Quando perceberam isto, os oponentes de Cícero partiram para agitar as questões locais, mas exageraram no tom de algumas informações que tentaram passar como verdadeiras para o eleitor mas que careciam de melhor fundamento. Desse ponto de vista, o espetáculo do ‘abraço’ entre Cartaxo, Queiroga e Carneiro teve o efeito de um tiro no pé, para eles, em plena fase de radicalização da disputa, que demandaria estratégia mais eficiente para conquistar eleitores indecisos.
É flagrante, nas entrelinhas da pesquisa Quaest-TV Cabo Branco, a dificuldade de candidatos como Luciano Cartaxo, Ruy Carneiro e Marcelo Queiroga em produzir táticas de sensibilização junto a parcelas influentes do eleitorado de João Pessoa. A essa dificuldade somam-se os problemas logísticos e específicos de campanha: no PT, Luciano Cartaxo assistiu a uma debandada de expoentes da legenda e até mesmo a declarações de apoio a Cícero Lucena, como a que foi feita, ontem, pelo ex-deputado Frei Anastácio Ribeiro. Ninguém viu a ex-pré-candidata a prefeita e deputada Cida Ramos em qualquer evento de campanha de Cartaxo, que praticamente endeusou apenas a figura do ex-governador Ricardo Coutinho, que indicou sua mulher, Amanda Rodrigues, para vice. Fora daí, Luciano vive a ilusão de contar com o presidente Lula num segundo turno, embora não tenha certeza quanto a esse cenário. Ruy pecou por dar à sua campanha um caráter gritante de revanchismo contra Cícero, que já foi seu aliado. Além do mais, não conta no seu palanque com figuras de expressão que possam reforçá-lo. Queiroga, dentro das suas limitações de estreante, foi quem errou menos até agora, mas ainda não conseguiu assegurar Jair Bolsonaro na campanha. Cícero, sob todos os pontos de vista, tem posição confortável, mas ele é o primeiro a dizer que não alimenta triunfalismos. Continuará trabalhando e pedindo votos até o último dia que a Lei lhe permitir.