Nonato Guedes
Um fato que era raro no governo de Jair Bolsonaro (PL) tem se tornado frequente no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): a presença de ministros de Pastas relevantes na Paraíba, cumprindo agendas administrativas em conjunto com o governador João Azevêdo (PSB) e cravando anúncios de programas, obras e investimentos no Estado. São ministros que não chegam de mãos abanando e que ainda fazem questão de cumprir o rito institucional, dividindo com o chefe do Executivo estadual a repercussão dos benefícios trazidos. Tal aconteceu, ainda ontem, quando o governador e o ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, lançaram o programa Acredita no Primeiro Passo – Acredita Paraíba. Foi firmado convênio entre as duas gestões para capacitação de 2.850 paraibanos em situação de vulnerabilidade social, de 16 a 65 anos, em 15 cursos de qualificação profissional, com investimentos de R$ 2,5 milhões.
Houve, ainda, concessões de crédito por parte do BNB, com a presença do presidente da instituição, o ex-governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e pela reinserção de beneficiários do Bolsa Família ao mercado de trabalho, o que levou João Azevêdo a destacar a importância da iniciativa no fortalecimento de uma série de ações que já vêm sendo deflagradas. Para o governador, há um conceito fundamental no programa Acredita no Primeiro Passo, que é oferecer crédito a juros baixos aos microempresários, o que se soma a um programa de grande sucesso na Paraíba – o Empreender, que vai na mesma direção. O presidente do BNB, Paulo Câmara, revelou que em menos de três meses o Acredita no Primeiro Passo já movimentou na região Nordeste cerca de R$ 180 milhões e acrescentou que até o final do ano serão investidos mais R$ 500 milhões. Ressaltou que o objetivo é dar condições às pessoas, que hoje estão no Cadastro Único, de poder empreender, de ter uma oportunidade a mais e de fazer com que os seus sonhos e aspirações tornem-se realidade. Quanto ao Empreender Paraíba, desde 2019 já foram atendidas quase 17 mil pessoas, com injeção, na economia, do montante de R$ 128,5 milhões.
O registro de agendas constantes de ministros do governo Lula na Paraíba tem contribuído, indiscutivelmente, para turbinar este segundo mandato empalmado pelo governador João Azevêdo, que durante os quatro anos da meteórica gestão Bolsonaro enfrentou adversidades e obstáculos para acesso a ministérios em Brasília e para a liberação de recursos indispensáveis para complementar os recursos próprios, do Estado, com vistas a dar partida a iniciativas governamentais de impacto. No governo Bolsonaro, Azevêdo pagou o preço de ser nordestino e de se declarar como apoiador do líder petista Luiz Inácio Lula da Silva. Ele e outros governadores da região foram penalizados por não rezar pela cartilha bolsonarista que fazia a apologia do extremismo político e de bandeiras retrógradas, focadas em retrocessos históricos. Bolsonaro xingou gestores desta região, foi preconceituoso em relação ao próprio povo nordestino e se tomou de fúria quando, numa reação fulminante, os governadores viabilizaram a criação do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Nordeste, com flexibilidade para cumprir agendas internacionais e facilitar o aporte de recursos vitais para a concretização de projetos. O Consórcio tem sido dirigido em caráter de rodízio, que já levou o próprio governador da Paraíba ao seu comando, estando, atualmente, sob a batuta da governadora Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte, que, por coincidência, é natural da Paraíba.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou vindo à Paraíba este ano, em pleno fragor da campanha eleitoral, tendo cumprido agenda preferencial em conjunto com o governador João Azevêdo para resgatar dívidas com a população paraibana e, ao mesmo tempo, sinalizar que o Planalto não está insensível às demandas do nosso Estado. A visita de Lula vinha sendo retardada diante de óbices plantados nos bastidores por adversários do governador socialista, mas a ausência já vinha tendo repercussão negativa para a imagem do presidente petista, agravada pelo fato de que ele não se furtava a cumprir agendas em Estados vizinhos, como Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. A praxe, nesses casos, recomendava que o governador João Azevêdo se deslocasse aos Estados co-irmãos para ter um espaço qualquer de diálogo no roteiro com o presidente da República, o que criava uma situação de subordinação ou dependência, em prejuízo das relações republicanas ou federativas, por mais que o presidente Lula se desdobrasse em atenções e até mesmo em manifestações de afetividade para com o governador paraibano.
Lula, em nenhum momento, desde que foi reinvestido, pela terceira vez, na Presidência da República, discriminou a Paraíba ou negou-lhe apoio em urgências ou emergências que demandaram de 2023 para cá. O governador João Azevêdo, por sua vez, não cruzou os braços e atuou o tempo todo no sentido de credenciar o Estado no contexto nacional, viabilizando empreendimentos com origem no território paraibano e assegurando a sustentabilidade de projetos que resultaram da criatividade do povo e das lideranças produtivas locais. No paralelo, demonstrou zelo obsessivo quanto ao compromisso de efetivar o equilíbrio fiscal-financeiro da Paraíba, uma espécie de passaporte para a obtenção de empréstimos ou a facilitação de cursos e investimentos, diante da conjuntura de austeridade que aqui é praticada. O ministro Wellington Dias, em particular, já se tornou familiarizado com a Paraíba, mas outros ministros, que foram colegas de Azevêdo no Consórcio Nordeste, também demonstram atenção para com o Estado. E contam, inegavelmente, com todo o apoio do presidente Lula para corresponder à expectativa de encaminhamento e solução de pleitos estruturantes que aguardam desfecho ou celeridade.