Nonato Guedes
O economista paraibano Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda durante o governo de José Sarney, afirmou, ontem, em entrevista à Rádio CBN João Pessoa que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva piorou a situação fiscal do país antes mesmo do início, com a aprovação da PEC da Transição calculada em mais de R$ 200 milhões. “O Lula afirma todo dia que não vai ter reforma, não vai deixar de gastar nisso ou naquilo. Ele tem uma ideia equivocada de que o que promove a economia do país é o gasto público, como dizia Dilma Rousseff, que gasto é vida, e na verdade o que gera a riqueza é o aumento da produtividade, ou seja, produzir mais com os mesmos recursos e não gastando mais dinheiro público”, acrescentou Maílson, entrevistado pelos jornalistas Felipe Nunes e Caio Ismael. Ele defendeu medidas de controle como forma de promover a economia,
– A minha impressão, pelo andar da carruagem, é que em algum momento isso vai nos levar a uma grande crise, a exemplo dos gastos previdenciários, que vão continuar invadindo o orçamento das despesas discricionárias. Isso significa que em algum momento, no futuro, o Brasil terá um encontro com essa realidade – prognosticou Maílson, observando que a equipe econômica do terceiro governo de Lula “surpreendeu positivamente” com o ministro Fernando Haddad e a ministra Simone Tebet, respectivamente, nas pastas da Fazenda e do Planejamento, mas acabou encontrando empecilhos na postura do presidente Lula (PT), que, a seu ver, não dá sinais de que pretenda implementar mudanças na estrutura da gestão federal. Mencionou como exemplos uma nova reforma da Previdência e uma reforma administrativa, além da desindexação de gastos.
“Por mais que o ministro Haddad e a ministra Tebet tenham sugerido que é hora de discutir temas como a vinculação de impostos à saúde, à educação e à Previdência, e de implementar uma reforma administrativa que elimine os privilégios, que são muitos no funcionalismo federal, particularmente no Judiciário, não há ambiente político para isso e o governo não faz nenhum mesmo para convencer a sociedade de que o excesso de gastos nos levará a uma grande crise”, pontuou Maílson da Nóbrega. Ele também analisou o embate entre o presidente da República e decisões tomadas pelo Banco Central sobre a taxa de juros. Maílson defendeu a decisão mais recente do Bacen, que elevou a taxa Selic em 0,25%, o que, na sua opinião, foi uma decisão baseada na realidade da conjuntura econômica vigente no Brasil. O ex-ministro projetou mais aumentos dos juros para os próximos meses e estimou que a taxa deve chegar a 12% em janeiro de 2025. Além das pressões inflacionárias, conforme destacou, o mercado não acredita que o governo irá cumprir a meta estabelecida e, em paralelo, as expectativas não estão ancoradas.
Em recente análise que fez no seu blog na revista “Veja”, Maílson da Nóbrega ponderou que o presidente Lula contribuiu para evitar a reeleição de Jair Bolsonaro, “um político de pendores autoritários que acalentou, parece, o sonho de tornar-se um ditador”, mas distanciou-se do político pragmático da campanha de 2002, quando abandonou as ideias insustentáveis do programa do PT. Escolheu, então, um banqueiro para presidir o Banco Central, uma maldição para os petistas. “Agora – avalia – ele tem defendido visões dissociadas da realidade. Provoca incertezas que influenciam a taxa de câmbio, cujos impactos inflacionários prejudicam as classes menos favorecidas. Acusou o presidente do BC de não ter compromisso com o Brasil, preferindo viajar para Miami. Arvorando-se de especialista em política monetária, disse que a taxa de juros básicos, a Selic, é injustificável. Questionou a independência do BC, ignorando que essa é a característica nas nações ricas e em grande parte dos países emergentes, inclusive, na América Latina. Inventou que no “imaginário do mercado, o presidente do BC tem que ser um representante do sistema financeiro” e concluiu que o chefe da autoridade monetária não é intocável.
Na visão de Maílson, Lula, com isso, defendeu o direito de indicar o dirigente do Banco Central e de tirá-lo se não gostar. “Ocorre – adverte o ex-ministro – que a tese da independência está consolidada por décadas de experiência e vasta literatura. Com ela, o banco tem a capacidade de resistir aos caprichos de políticos da hora, que buscam reduzir a taxa de juros para elevar sua popularidade. Quando isso aconteceu, a consequência foi inflação alta, como no governo de Dilma Rousseff”. Para o economista paraibano, o presidente Lula goza de muita credibilidade entre os menos informados e entre letrados que não entendem como funcionam a política monetária e as grandes empresas. Suas declarações animam integrantes de seu governo a fazer afirmações semelhantes, caso do ministro das Minas e Energia, que, violando regras mínimas da liturgia e urbanidade que o cargo exige, declarou que iria ter a “alegria” de ver a saída de Roberto Campos Neto do comando do BC. Maílson arremata: “Quando a maior autoridade do país e auxiliares falam em solenidades ou entrevistas, seus comentários costumam ter repercussões, positivas ou negativas. Ao discorrer sobre temas complexos como os aqui comentados, é recomendável que se informem adequadamente, evitando ser traídos por improvisos inconsequentes. É assim que agem os líderes que acertam ao transmitir suas mensagens”.