Nonato Guedes
Recente debate entre candidatos a prefeito de São Paulo na TV Cultura ficou famoso pela agressão de José Luiz Datena contra Pablo Marçal com uma cadeirada, ato que viralizou na internet. Mas uma retrospectiva feita por José Inácio Pilar e publicada no site “O Antagonista” apontou, pelo menos, sete piores debates políticos na TV, envolvendo “condestáveis” do cenário nacional como o ex-governador Leonel Brizola, o ex-presidente Fernando Collor de Mello e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O incidente na corrida eleitoral este ano em São Paulo foi atribuído à crescente polarização política que o país experimenta e à própria espetacularização dos debates. “Parece que alguns candidatos têm preferido focar na imagem pessoal, mesmo que à custa do vazio propositivo de seus planos de governo, que é o que de fato deveria importar para os seus eleitores, já que pautarão suas gestões”, relata a reportagem do “Antagonista”.
A confusão na TV Cultura, neste mês de setembro, começou quando Pablo Marçal disse que Datena ameaçou lhe dar um tapa no debate anterior, mas que era covarde para cumprir a promessa, o que levou Datena a perder o controle. Marçal reagiu na hora mas depois recorreu ao atendimento médico e o debate foi interrompido por alguns minutos, antes de continuar sem a presença de Datena, que é famoso como apresentador de programas policiais na televisão. Em 2020, durante debate da TV Globo, Weslian Roriz, esposa do ex-governador de Brasília, Joaquim Roriz, enfrentou dificuldades para se expressar, cometendo gafes, como ao soltar a pérola “Quero defender toda aquela corrupção”, corrigindo-se em seguida. Sua falta de experiência a fez recorrer a anotações, mas suas respostas foram frequentemente desconexas. Em ataques aos adversários, utilizou táticas que desviaram o foco de questões importantes, como o transporte público. A ex-primeira-dama mencionou várias vezes seu marido, que renunciou à candidatura uma semana antes devido à Lei da Ficha Limpa.
Outro episódio, já neste ano de 2024, deu-se em Teresina, no Piauí, durante debate da TV Band entre candidatos a prefeito. O Dr. Pessoa, do PRD, protagonizou um dos momentos mais inusitados da história política brasileira ao dar uma cabeçada no candidato do PSOL, Francinaldo Leão. A discussão, que já estava acirrada por divergências sobre políticas públicas, escalou quando o prefeito, após a sua fala, se aproximou do adversário, em pé, à sua frente, e lhe deu uma testada. Houve grande repercussão, com Pessoa sendo criticado pela violência em um ambiente que deveria ser democrático. Em 1989, na eleição presidencial, o primeiro debate do primeiro turno reuniu nove dos 22 candidatos ao Planalto num pool entre Globo, SBT, Manchete e Band. O desrespeito ao limite de tempo era a regra, não exceção, com a campainha tocando frequentemente. Em dado momento, Paulo Maluf insinuou que Leonel Brizola era desequilibrado, no que este pediu réplica, negada por Maluf, com o clima esquentando e Brizola chamando os apoiadores do rival de “filhotes da ditadura”.
Já no segundo turno, em 1989, o confronto direto entre Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Maio marcou o Brasil e dominou as atenções. Collor usou ataques pessoais contra Lula, tentando desqualificar o candidato do Partido dos Trabalhadores ao mencionar sua vida pessoal. O debate, embora sem agressões físicas, ficou conhecido pela intensidade das ofensas, que influenciaram negativamente a imagem de Lula na reta final da campanha. O candidato petista ainda teria sido prejudicado por uma versão editada e resumida que a Globo passou no Jornal Nacional seguinte. Em 2000, no debate da Rede Bandeirantes para as eleições municipais de São Paulo, Maluf estava usando seu minuto extra de tempo de resposta para dizer que Marta Suplicy não tinha qualificação para ser prefeita, no que ela o interrompeu. Mais à frente, nessa mesma fala, após novas tentativas de interrupção, ele disse para ela: “fica quietinha”, no que ouviu um enfático “cala a boca”, respondido em mesmo tom por ele. Em seguida, cortaram para o intervalo.
O último caso mencionado nessa retrospectiva envolveu Eduardo Leite e Onyx Lorenzoni em 2022 no Rio Grande do Sul. O debate na campanha para o governo do Estado entre Eduardo (PSDB) e Lorenzoni (PL) não saiu do controle com baixarias ou agressões, mas certamente entrou na história. O que marcou esse debate foi a forma como um dos candidatos se esquivou continuamente a responder a uma pergunta do adversário por 9 vezes em menos de dois minutos, sempre com frases claramente evasivas. A reportagem do “Antagonista” manifesta a esperança de que os futuros debates possam trazer mais propostas construtivas e menos agressões, embora o histórico recente indique o contrário. Em última análise, o formato que os debates passaram a ter, com a irrelevância de jornalistas mediadores e o enfrentamento direto entre candidatos, acaba produzindo acertos de contas e tentativas de radicalização, deixando em segundo plano a proposta de teorizar sobre os problemas existentes em cada localidade para fazer valer o pugilato entre postulantes. Nesse aspecto, a “cadeirada” de Datena em Pablo Marçal é o caso mais emblemático da baixaria a que chegou a própria política brasileira nos