Nonato Guedes
O deputado paraibano Hugo Motta, líder do Republicanos na Câmara Federal, intensifica reuniões com expoentes políticos de diferentes partidos, em Brasília, como parte das articulações que empreende para se eleger presidente daquela Casa no pleito marcado para fevereiro de 2025. Motta tem se aproximado de figuras do entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a exemplo dos ministros Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, e Camilo Santana, da Educação, com quem esteve reunido ultimamente, mas também procura estreitar canais de diálogo com apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Os dois líderes que polarizam a cena política brasileira, em conversas pessoais com Hugo Motta, manifestaram simpatia pela sua pretensão, ainda que não tenham oficializado posição de compromisso. Mas se disseram abertos ao entendimento e ao prosseguimento das conversações a respeito da sucessão do atual presidente Arthur Lira (PP-AL).
Hugo Motta, na atual conjuntura, cumpre uma dupla jornada, pois além de se envolver de corpo e alma na costura de sua candidatura a presidente da Câmara, atua no sentido de fortalecer o Republicanos, que ele preside, nas eleições municipais deste ano em regiões da Paraíba. A sua perspectiva, já reiterada em diversas oportunidades, é de que o Republicanos venha a exercer uma posição maior de protagonismo no cenário estadual. Nas eleições de 2022, a legenda fez acordos simultâneos para apoiar as candidaturas do governador João Azevêdo (PSB) à reeleição e do seu adversário, Efraim Filho (União Brasil), ao Senado, ambos vitoriosos. Para 2026, a agremiação quer espaços concretos na chapa majoritária, estando de olho em vagas ao Senado e na própria candidatura ao Executivo, pleito já assumido pelo deputado estadual Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa. O próprio nome de Hugo Motta tem sido mencionado como opção qualificada, quer ao Senado, quer ao governo do Estado, mas seu nome entrou no radar para a sucessão ao comando da Câmara, fazendo arrefecer movimentos em outras direções.
O parlamentar paraibano ganhou espaços na disputa à presidência da Câmara depois que o deputado federal Marcos Pereira (SP), presidente do seu partido, até então cotado, desistiu de pleitear a cadeira exercida por Arthur Lira e, automaticamente, indicou o nome de Motta como alternativa ou substituto, assegurando todo o apoio da bancada do PR e prometendo empenho junto a outras bancadas no Legislativo. Os movimentos deflagrados pelo Republicanos produziram uma espécie de reviravolta no processo para a eleição à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, levando o próprio presidente Hugo Motta a reavaliar posturas e a admitir apoio ao nome de Hugo Motta. O deputado Elmar Nascimento, do União Brasil da Bahia, considerou-se traído pelo presidente Arthur Lira e, como represália, anunciou a manutenção de sua postulação. Foi mais além, fechando um acordo com o deputado Antonio Brito, do PSD da Bahia, também pretendente à vaga, para caminharem juntos no objetivo de influenciar a sucessão de Lira. O dirigente nacional do PSD, Gilberto Kassab, deu aval para que a união avançasse e descartou a possibilidade de hipotecar solidariedade à pretensão de Hugo Motta.
Diante das oscilações verificadas no processo, que parecia sob controle do presidente Arthur Lira, criou-se uma incógnita no âmbito dos partidos e entre os próprios postulantes à cadeira sobre o desfecho da estratégia que possa sair vitoriosa. A direção nacional do Partido dos Trabalhadores, presidida por Gleisi Hoffmann, deputada federal pelo Paraná, apressou-se em afirmar que não tinha fechado compromisso com a pretensão do deputado Hugo Motta ou com outros nomes que se insinuam no páreo e acrescentou que “no momento oportuno” iria consolidar entendimentos a respeito do assunto, uma vez realizadas consultas dentro da bancada. Outros partidos continuam se dizendo indefinidos no processo, na expectativa de uma definição melhor da conjuntura. O deputado Hugo Motta pressentiu essa situação e passou a agir, principalmente, nos bastidores, para fortalecer sua pré-candidatura, recolocando-a no papel de favorita dentre as opções apresentadas. No paralelo, intensificam-se as conversas entre líderes, no intervalo das campanhas eleitorais que estão exigindo o engajamento da grande maioria dos parlamentares nos Estados.
O deputado Hugo Motta, de acordo com avaliações de setores da mídia nacional, continua com cacife para construir a sua candidatura à sucessão de Arthur Lira, bafejado, sobretudo, pelo trânsito que possui junto a bancadas distintas e pelo estilo afirmativo com que pauta os acordos firmados em plenário ou nos corredores da Câmara dos Deputados. Mas ele está sendo desafiado a demonstrar que, realmente, tem o consenso para conquistar um posto que é cobiçado na hierarquia de poder, por ser o terceiro depois da presidência e da vice-presidência da República. Motta, ao mesmo tempo, tem que atender a demandas que interessam de perto ao presidente Arthur Lira, empenhado em não ficar em posição subalterna depois que deixar o reinado na Câmara dos Deputados, e, simultaneamente, atender a compromissos com grupos políticos, tanto ligados a Bolsonaro como ligados ao presidente Lula. Após o primeiro turno das eleições municipais, Motta ganhará fôlego para dedicar-se com prioridade ao projeto que pode guindá-lo a uma posição de destaque na estrutura de poder da República.