Nonato Guedes
O senador licenciado Efraim Filho, do União Brasil, avaliou, ontem, em entrevista ao programa “60 Minutos”, da Rádio Arapuan, que a base política liderada pelo governador João Azevêdo (PSB) dá sinais de desidratação como consequência de divergências e enfrentamentos nas eleições municipais que estão sendo travadas em várias regiões do Estado e prognosticou que o racha será inevitável no pós-eleitoral, com impacto na própria Assembleia Legislativa. De acordo com ele, há insatisfação por parte de alguns deputados da base com a postura adotada pelo governador, que não conseguiu conciliar ou acomodar facções municipais na disputa pelas prefeituras e optou por tomar posição, com isso afastando expoentes fiéis ao bloco governista. “Estamos na expectativa de adesões que virão fortalecer as oposições para os embates futuros, de 2026”, cravou o parlamentar, na entrevista a Rudney Araújo e Fernando Braz.
Efraim licenciou-se do mandato a pretexto de se dedicar à campanha eleitoral nos municípios, como retribuição pelo apoio que recebeu de líderes locais na sua própria campanha ao Senado em 2022, que ainda hoje exalta como “histórica e ousada”, já que resultou na vitória contra pesos-pesados da política como o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) e figuras emergentes como a ex-deputada estadual Pollyanna Dutra, do PSB. Ele está sendo substituído, até 17 de outubro, pelo primeiro suplente André Amaral e afirmou que no retorno às atividades parlamentares terá oportunidade de se envolver no debate de questões nacionais relevantes, citando como exemplo que a regulamentação da reforma tributária está parada no Parlamento, apesar da aprovação tanto na Câmara dos Deputados como no Senado, inclusive, com modificações que foram propostas em meio aos debates encetados com representantes da própria sociedade, bem como com autoridades do governo e especialistas no assunto. Para ele, outros temas urgentes da conjuntura geral serão agitados, com certeza, na retomada do ritmo legislativo. O senador frisou que a participação de grande número de parlamentares na campanha eleitoral do país serviu para que eles estreitassem relações com a base municipalista, inteirando-se de demandas que darão a tônica dos futuros debates no Congresso.
O União Brasil aposta fichas, nas eleições municipais deste ano, na vitória, em primeiro turno, do candidato Bruno Cunha Lima, seu filiado, que concorre a um novo mandato em Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado. Efraim analisa que na Rainha da Borborema foi feita uma construção paciente e exitosa que atraiu o apoio do deputado federal e ex-prefeito Romero Rodrigues, do Podemos, para a candidatura de Bruno, além de engajar líderes como o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que avançou para o segundo turno das eleições ao governo em 2022. Mas, conforme Efraim, há perspectivas de vitória em inúmeros colégios eleitorais médios e pequenos da Paraíba, graças a costuras feitas que possibilitaram não só o lançamento de nomes do União Brasil mas o apoio em caráter de aliança a candidatos de outros partidos. Efraim diz que o esquema governista liderado por João Azevêdo errou feio ao investir numa suposta divisão das oposições, esperando cerca de um ano pelo alinhamento do deputado Romero Rodrigues, que não se concretizou. No final das contas, o PSB lançou a candidatura do ex-secretário de Saúde, Jhony Bezerra, mas Efraim acha que é uma candidatura “tapa-buraco” que não tem condições de bater o alegado favoritismo de Bruno Cunha Lima em Campina Grande.
Segundo o senador, as oposições na Paraíba estão trabalhando com estratégia e profissionalismo político dentro do projeto de conquistar o poder estadual e, por causa disso, estão logrando colecionar resultados promissores em diversas localidades. Esses resultados – acredita o parlamentar – constituirão o esteio da campanha de 2026, quando a busca da unidade será acentuada e quando as possibilidades de consenso estarão reforçadas graças aos próprios laços que estão sendo estreitados nos embates municipais de 2024. Efraim Filho não assumiu, oficialmente, a pretensão de ser o candidato desse bloco ao governo na sucessão de João Azevêdo, lembrando que há outros nomes em pauta como os do ex-deputado Pedro Cunha Lima e do deputado Romero Rodrigues ou do prefeito Bruno Cunha Lima. “A formação da chapa para 2026 será um processo de construção das oposições em cima dos números da eleição de 2024 e dentro da estratégia de acolhimento dos insatisfeitos de outros esquemas políticos que queiram somar para uma mudança de chave na realidade política do Estado”, conceituou o parlamentar licenciado.
Ele ressaltou que as divergências entre PP e Republicanos, aliados do governador João Azevêdo, são latentes e têm se aprofundado mediante declarações de integrantes dos respectivos partidos que possuem ambições concorrentes para o pleito de 2026 – situação que poderá beneficiar naturalmente as oposições, mediante defecções anunciadas ou em vias de consumação. Efraim declarou estar disposto a contribuir da melhor forma possível para o triunfo do bloco a que pertence, hipótese em que coloca o seu nome à disposição como alternativa para concorrer ao Executivo estadual. Ele comentou, ainda, a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, explicando que, embora não tenha direito de voto naquela Casa onde já atuou, torce pela vitória do deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos, por considerá-lo credenciado para ascender ao posto. Na sua leitura, o processo de sucessão à cadeira do deputado Arthur Lira (PP-AL) caminha para um consenso entre forças distintas na Câmara e se tornará mais nítido depois das eleições municipais, dado o engajamento da grande maioria dos parlamentares na campanha pelo interior do Brasil.