Nonato Guedes
Graças ao perfil político moderado que construiu ao longo de sua trajetória, equidistante de radicalismos e paixões ideológicas, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (Progressistas), que concorre à reeleição, vem tendo a preferência simultânea de eleitores identificados com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de eleitores que se identificam com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Os dois são expoentes máximos da polarização que divide o país e que chega a ser mais acentuada em centros urbanos importantes de outras regiões como Sul e Sudeste. Essa característica da campanha de Lucena ficou à mostra num recorte da segunda pesquisa “Quaest” sobre as eleições para prefeito da Capital paraibana, contratada pela TV Cabo Branco, afiliada da Rede Globo e divulgada no último dia 17. Nesse levantamento, Cícero oscilou de 53% das intenções de voto para 49%, mantendo-se na liderança, contra 14% do deputado Ruy Carneiro, do Podemos, 11% do deputado Luciano Cartaxo, do PT e 11% do ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, do PL.
O instituto perguntou ao eleitor que votou em Lula e Bolsonaro, no segundo turno das eleições de 2022, qual a sua intenção de voto em outubro deste ano e o resultado foi que 61% dos que votaram em Lula para presidente da República admitiram intenção de voto em Cícero este ano, e 41% dos que votaram em Bolsonaro também manifestaram preferência por ele, indicando que o alcaide mantém-se acima da polarização nacional entre os dois líderes e que esse fenômeno de polarização não contaminou o cenário da disputa na Capital paraibana. Uma reportagem do “Jornal da Paraíba” sobre detalhes da pesquisa “Quaest” avaliou que Lucena tem conseguido abocanhar fatia importante dos dois tipos de eleitores mais à esquerda e mais à direita, atraindo intenção de voto dos que se dizem conservadores e, também, dos que se definem como progressistas, mas que não se sentem representados pelos candidatos que têm relação direta com os maiores líderes políticos do país na conjuntura em vigor. O Partido dos Trabalhadores tem um candidato próprio, que já foi prefeito de João Pessoa por duas vezes e que é recomendado no Guia Eleitoral pelo presidente Lula, embora Luciano Cartaxo não tenha conseguido trazer o mandatário para uma agenda política-eleitoral neste primeiro turno.
Enquanto isso, o ex-presidente Jair Bolsonaro aparece em imagens recomendando o voto em Marcelo Queiroga, que tem como vice um outro ex-auxiliar da administração bolsonarista, o pastor e educador Sérgio Queiroz, do Novo. Queiroga, nos últimos dias, cometeu um ato falho em declaração a uma emissora de rádio após participar de debate quando sugeriu que o eleitor que não quisesse votar nele poderia optar por outros dois candidatos, o que foi entendido como referência a Cartaxo e a Ruy Carneiro, diante da omissão em relação ao nome de Cícero Lucena, que foi criticado pelo ex-ministro da Saúde. Essa manifestação de Marcelo Queiroga acabou contribuindo para confundir mais ainda a opinião pública pessoense e, aparentemente, para enfraquecer o cacife do candidato do PL, dada a impressão de que ele poderia estar jogando a toalha, embora, para todos os efeitos, mantivesse o discurso da candidatura, em meio a propostas que julga necessárias e que diz saber como executar, dada a sua passagem pela Pasta da Saúde numa situação de calamidade como a que assolou o Brasil com a pandemia de covid-19. O ex-ministro parece agastado com a ausência de Bolsonaro, fisicamente, até agora, na sua campanha, já que contava com isto para alavancar sua performance nas pesquisas de intenção de voto.
A explicação para o trânsito do atual prefeito entre lulistas e bolsonaristas pode estar no próprio comportamento de Cícero Lucena, que não assume posição de radicalismo em relação ao panorama político nacional e busca, de propósito, fugir do enquadramento ideológico entre esquerda e direita que é agitado nesse cenário. Dá-se, também, que o prefeito candidato à reeleição tem o apoio declarado do governador João Azevêdo (PSB), que é considerado apoiador de primeira hora de Luiz Inácio Lula da Silva e que na campanha de 2022 manifestou adesão ao líder petista mesmo com este declarando apoio, no primeiro turno, à candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB. Somente no segundo turno do pleito de 2022 foi que Lula gravou depoimento de apoio a João Azevêdo. A base lulista na Paraíba, de resto, é disputada por pelo menos três figuras próximas ao presidente – o governador Azevêdo, o senador Veneziano e o ex-governador Ricardo Coutinho. Embora não tenha afinidades maiores com o PT ou com o lulismo, Cícero antecipou compromisso de apoio à candidatura do presidente à reeleição em 2026 e tem feito acenos de convivência ou de acomodação para expoentes do petismo em João Pessoa.
De acordo com o instituto “Quaest”, a administração de Cícero, apesar de bombardeada pelos candidatos adversários, é aprovada por 58% dos que foram entrevistados na segunda pesquisa recentemente divulgada, e reprovada por apenas 11%. O prefeito faz campanha com base na divulgação do volume de obras e serviços que beneficiam a população de João Pessoa, iniciativas que, muitas vezes, são executadas em parceria com a administração do governador João Azevêdo. Aliás, o chefe do Executivo estadual, nesta reta final do primeiro turno, ampliou seu engajamento na campanha, falando no Guia Eleitoral justamente sobre o caráter bem-sucedido das parcerias com a gestão pilotada por Lucena. Na campanha eleitoral em curso, o representante do Progressistas assume claramente o discurso da continuidade, assegurando que em mais um mandato terá a oportunidade de avançar programas que, por alguma dificuldade, não puderam ser viabilizados até agora. O crédito que lhe está sendo conferido pela maioria do eleitorado pesquisado seria, do ponto de vista de interlocutores do prefeito, um reconhecimento pelas ações empreendidas e pelo compromisso de fazer muito mais.