Nonato Guedes
O deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, que faz uma terceira tentativa para se eleger à prefeitura de João Pessoa nas eleições deste ano pautou o início da sua campanha em 2024 por acusações fortes à gestão de Cícero Lucena (PP), seu ex-aliado político e atual concorrente, e por críticas ao candidato do PT, deputado estadual Luciano Cartaxo, insinuando que ele já teve a oportunidade de promover o crescimento da Capital em dois mandatos e, no entanto, não avançou substancialmente nesse sentido além de fazer restrições, também, ao ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, candidato do PL, “por desconhecer a realidade local”. Como consequência dessa postura de franco-atirador, Carneiro entrou na alça de mira dos oponentes, é acossado por denúncias graves e tem desviado a estratégia ocupando-se em responder ao “fogo cruzado” com que é alvejado. A tática de Ruy consiste em polarizar com Cícero Lucena, líder das pesquisas, e tentar empurrar a decisão para um segundo turno.
O “calcanhar de Aquiles” de Ruy Carneiro, explorado pelos rivais na corrida eleitoral, tem sido a sua condenação a 20 anos de prisão no “Caso Desk” por fraude licitatória e lavagem de dinheiro na época em que foi secretário estadual de Esporte, numa das gestões de Cássio Cunha Lima (PSDB). A condenação criminal do parlamentar efetivou-se em fevereiro deste ano e a sua defesa recorreu. O processo por improbidade chegou a ser anulado em 2020 por alegado cerceamento de defesa e Ruy Carneiro esmera-se em afirmar que as acusações são requentadas e que sua inocência está comprovada, ao mesmo tempo em que nega irregularidades geradoras da condenação, acrescentando que suas contas foram aprovadas pelo TCE. Os adversários, em debates ou em sabatinas e entrevistas, cobram esclarecimento mais minucioso da parte do deputado federal para que não pairem dúvidas sobre transações envolvendo o dinheiro público. Na pesquisa do instituto “Quaest” para a TV Cabo Branco, afiliada da Globo, Ruy Carneiro está com intenções de voto à frente, no segundo lugar, mas tecnicamente empatado, dentro da margem de erro, com os candidatos Luciano Cartaxo e Marcelo Queiroga.
Em tom de desabafo, o candidato do Podemos alega que é alvo de bombardeio por causa do seu crescimento nas pesquisas de intenção de voto e, supostamente, das condições concretas para avançar na disputa a prefeito de João Pessoa. Quando não está envolvido na estratégia de defesa perante insinuações e ataques, o parlamentar aproveita para formular propostas para as questões mais cruciais que afetam a população pessoense, algumas consideradas “mirabolantes” por adversários como o ex-ministro Marcelo Queiroga, que invoca sua experiência de gestor público numa fase difícil vivida pelo país, com a calamidade decorrente da pandemia de covid-19. O carro-chefe do discurso de Ruy é o transporte coletivo – ele chegou a insinuar, sem apresentar provas concretas, a existência de um “esquemão” envolvendo empresas do setor em presumível conluio com a atual administração, aponta a falta de investimentos na frota de ônibus e a desativação de pontos de integração do transporte nos diferentes logradouros de João Pessoa. De forma incisiva, promete dar um “basta” a esse “esquema”, buscando sensibilizar parcelas da população que dependem do transporte coletivo de qualidade no seu dia a dia.
Nas suas abordagens como candidato, de fato, Ruy Carneiro demonstra conhecimento de alguns “gargalos” do serviço público na Capital, incluindo deficiências em obras de infraestrutura e falhas ou omissões no segmento da Saúde – o que o leva a enfatizar, reiteradamente, que tem experiência e que está mesmo pronto para administrar João Pessoa. No início dos anos 2000, na segunda gestão de Cícero Lucena, ele foi uma espécie de “eminência parda”, ocupando a chefia da Casa Civil que atendia a demandas de toda natureza encaminhadas à apreciação do poder público. Foi nesse período que se deixou morder pela “mosca azul” da política e viabilizou sua candidatura à sucessão de Cícero, com o apoio deste, em 2004. Acabou derrotado por um líder emergente, Ricardo Coutinho, que concorria pela esquerda e se elegeu por duas vezes consecutivas à prefeitura pessoense. Em 2020, Ruy fez a segunda tentativa, já rompido com Cícero, e acabou em terceiro lugar. O segundo turno acabou sendo disputado por Lucena e pelo comunicador Nilvan Ferreira, que, à época, era filiado ao MDB. Mas a expressiva votação alcançada animou o parlamentar a continuar perseguindo a ambição de ser prefeito.
Como deputado federal, Ruy Carneiro tem uma atuação razoável e elenca como um grande feito do mandato a condição de co-autor da chamada Lei Seca, que foi saudada como decisiva contribuição para redução dos crimes de trânsito, diante da aplicação de penalidades severas para os motoristas infratores. Tem atuado, também, em agendas relevantes, como a batalha pelo pagamento do piso nacional para o segmento da enfermagem, o que ganhou evidência diante da mobilização dos técnicos e agentes de saúde no período da pandemia de covid-19. A marca maior do deputado, porém, é a destinação de emendas parlamentares para fundações e outras entidades da sociedade, que, mesmo assim, rende polêmica, diante de suposto favorecimento a instituições de Campina Grande em detrimento de congêneres de João Pessoa. Na campanha de Ruy não há engajamento maior de padrinhos influentes, mas ele conta com apoios valiosos como o do senador Efraim Filho, do União Brasil, e do ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB. Em todo caso, a terceira tentativa em conquistar a prefeitura mostra o quão ele é obstinado nas metas políticas, restando saber se de fato conseguirá manter a polarização tão almejada com Cícero, o líder das pesquisas.