Nonato Guedes
O deputado estadual Luciano Cartaxo comprou brigas dentro do PT para ser indicado candidato do partido a prefeito de João Pessoa e, com o decisivo apoio do ex-governador Ricardo Coutinho, logrou a proeza, derrotando internamente a deputada estadual Cida Ramos, que tinha a adesão de correntes influentes do petismo. A segunda parte da estratégia de Cartaxo consistia em atrair o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o seu palanque – mas ele chega à reta final do primeiro turno sem esse trunfo e focado, preferencialmente, na apresentação de propostas ao eleitorado pessoense, tentando adquirir um “recall” positivo das duas gestões que empalmou até 2020, quando não conseguiu eleger sua candidata, Edilma Freire. Ao mesmo tempo, ele centra sua campanha em críticas à gestão do prefeito Cícero Lucena (PP), que postula a reeleição, embora poupe o governador João Azevêdo (PSB), apoiador de Lucena.
Lula aparece no Guia Eleitoral de Cartaxo em close individual e com uma mensagem lacônica: “Em João Pessoa, vote em Luciano Cartaxo”. De resto, o presidente da República, que é tido como único cabo eleitoral da esquerda, tem uma presença tímida na campanha neste primeiro turno em outras localidades importantes do país. Uma reportagem do UOL mostra que a ausência foi sentida pelos candidatos de sua base e que a expectativa já era que Lula só fizesse atos de campanha “fora do expediente”, ou seja, nas noites de dias úteis e nos finais de semana, mas se desejava que ele participasse mais ativamente. O líder petista centrou fogo em apenas três cidades, onde foi fisicamente – de resto, gravou vídeos e tirou foto com candidatos pelo país. Interlocutores próximos elencam três motivos para o comportamento de Lula: agenda corrida, ciúmes entre candidatos e evitar o excesso de exposição. Na prática, Lula participou de atos eleitorais em São Paulo, São Bernardo do Campo (SP) e Fortaleza (CE). Na capital paulista, em apoio à candidatura de Guilherme Boulos, do PSOL, em São Bernardo, seu reduto eleitoral, onde surgiu com o Sindicato dos Metalúrgicos, em apoio ao candidato Luiz Fernando (PT), em Fortaleza recomendando o deputado estadual Evandro Leitão, petista.
O Partido dos Trabalhadores tem candidatos próprios em treze capitais – e, naturalmente, os petistas esperavam mais em termos de participação presencial do presidente da República. O argumento é que Lula pode mudar a trajetória de uma eleição, seja pela participação popular, seja pela arrecadação de dinheiro, seja para mostrar a força da candidatura. Publicamente, em João Pessoa, Luciano Cartaxo não reclamou, nem mesmo quando Lula esteve em agosto e cumpriu extensa agenda administrativa com o governador João Azevêdo, que apoia outro candidato. A expectativa, tanto de Cartaxo quanto do ex-governador Ricardo Coutinho, é de que Lula venha num segundo turno. Os dois expoentes petistas acreditam que haverá segundo turno na Capital paraibana e que a polarização será entre Cícero e Luciano Cartaxo, numa comparação de gestões. Aliás, é nessa comparação que Luciano tem investido fortemente em suas intervenções no Guia Eleitoral, em sabatinas e entrevistas que concede a órgãos de imprensa. Ultimamente, passou a mirar o deputado federal Ruy Carneiro (Podemos), que está à sua frente em algumas pesquisas, mas tecnicamente empatado com ele e com o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga (PL) no segundo lugar.
Além da ausência de Lula, pela sua projeção como cabo eleitoral, Luciano Cartaxo ressente-se, embora não passe recibo, do engajamento ativo da militância do Partido dos Trabalhadores em João Pessoa. A sua escolha, quase uma “sagração” por parte da cúpula nacional presidida pela deputada Gleisi Hoffmann, desgostou segmentos da legenda no Estado e levou-os a cruzar os braços na Capital, empenhando-se apenas por candidatos proporcionais, ou apoiando candidaturas a prefeito em outras cidades do interior do Estado. Essa atitude tem sido tomada pelo próprio Jackson Macedo, presidente estadual do PT, que é tido nas hostes internas como “simpatizante” de Cícero Lucena, dada a sua posição defendida ardentemente de que a legenda não deveria ir para uma aventura política-eleitoral, mas, sim, perfilar com candidatura eleitoralmente viável, até como tática para reforçar uma antecipada candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição em 2026. O grande “padrinho” de Cartaxo é, mesmo, o ex-governador Ricardo Coutinho, que lançou a mulher, Amanda Rodrigues, como candidata a vice, e cogita voltar à cena política estadual dentro de dois anos.
No capítulo das propostas, Luciano Cartaxo tem defendido a criação de um fundo para bancar a tarifa zero progressiva no transporte público. Essa tarifa zero parece constituir a sua principal bandeira agitada na campanha de 2024, em meio à citação de obras e serviços que assegura ter empreendido nas duas gestões à frente da prefeitura de João Pessoa. O candidato do PT afirma que vai buscar parcerias com o governo federal, bem como emendas no orçamento da União. “Sou aliado do presidente Lula e já pautei esse debate com o governo federal. Eu assumo esse compromisso com o povo de João Pessoa: vamos implementar de maneira progressiva a tarifa zero para o povo da Capital”, enfatizou ele numa entrevista à rádio CBN. Com um vasto currículo, que inclui mandatos como o de vereador, deputado estadual e vice-governador do Estado, Luciano Cartaxo justificou que pleiteia o terceiro mandato na perspectiva de poder concluir projetos que, por alguma razão, não puderam ser executados até então. A reabertura do Terminal de Integração do Varadouro é outra de suas prioridades, conforme deixou claro. As dúvidas a respeito de Cartaxo são duas: se haverá segundo turno em João Pessoa em 2024, e se ele (Cartaxo) estará numa segunda rodada, já que o deputado Ruy Carneiro mostra-se à frente dele, no tríplice empate técnico pela segunda vaga.