Nonato Guedes
Na reta final da campanha em João Pessoa chama a atenção a “temporada de caça” a Cícero Lucena, movida implacavelmente por três adversários que estão empatados entre si, tecnicamente, mas a uma boa distância do prefeito da Capital, filiado ao Progressistas (PP) e candidato à reeleição. Um ex-prefeito por duas vezes, Luciano Cartaxo, novamente candidato pelo PT, o eterno candidato a prefeito, deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, e um estreante, o ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga, fizeram um pacto para unir forças visando barrar a qualquer preço a conquista de um novo mandato por Cícero, que até então tem liderado pesquisas de institutos especializados. Os três ganharam fôlego com a prisão da primeira-dama Lauremília Lucena, no bojo de uma operação que investiga a infiltração de facções do crime organizado no pleito e que é questionada por supostas ilegalidades que estão para ser dirimidas a qualquer momento no âmbito da Justiça Eleitoral.
A obstinação de Cartaxo, Queiroga e Carneiro é tirar Cícero da prefeitura de qualquer maneira. Eles abriram suas campanhas eleitorais menos preocupados em debater propostas para João Pessoa e diretamente focados numa orquestração combinada para neutralizar ou apagar Cícero no páreo. Chegaram a promover um ato conjunto, em frente à sede do Tribunal Regional Eleitoral, sinalizando denúncia sobre clima de insegurança para a realização das eleições, domingo, na Capital, diante da ação do “crime organizado” com o qual estariam conluiados setores da administração municipal. O espetáculo foi montado para reforçar o pedido de tropas federais à Corte, que até o momento não teve confirmação por parte do TSE em Brasília. Desesperados com a dificuldade de avançar substancialmente nas pesquisas de intenção de votos, os três mosqueteiros da disputa de 2024 arquitetaram novas investidas contra Cícero, numa campanha sistemática de ataques pessoais ao prefeito e a familiares seus – até que a Polícia Federal agiu e efetuou a prisão da mulher do alcaide, que governa João Pessoa pela terceira vez.
No último sábado, dia em que ocorreu a detenção de Lauremília, a TV Correio anunciou a realização de um debate, à noite, entre os candidatos a prefeito da Capital – e todas as atenções se voltaram para a figura de Cícero Lucena, que vivia sua própria odisseia, às voltas com medidas legais para revogar a punição contra Lauremília e, em paralelo, com estratégias para manter viva a campanha. Entre apoiadores dos demais candidatos, a convicção era a de que Cícero estava emocionalmente nocauteado e sem as mínimas condições para participar de qualquer debate ou debater qualquer assunto ligado à administração pessoense. Candidatos adversários chegaram, mesmo, a sugerir que o chefe do executivo municipal renunciasse ao próprio mandato que ora exerce e que, pela Lei, só se completa no último dia do último mês deste ano de 2024. Era a pressão organizada dentro do raciocínio de que Lucena estava vulnerável e que jogaria a toalha, deixando o terreno livre para que o eleitorado optasse entre os outros pretensos “salvadores da Pátria”. Ficaram aparentemente estupefatos quando o prefeito não só foi ao debate como confrontou os seus oponentes pela orquestração ensaiada em sincronia com denúncias que foram feitas nas esferas policial e judicial.
O prefeito Cícero Lucena, na verdade, não apenas tem comparecido a debates, em que aborda o “caso Lauremília” como se mantém plenamente ativo, nas ruas, em mobilizações e eventos programados pela coordenação de sua campanha para a última semana da competição nas urnas no primeiro turno na Capital paraibana. Político experimentado, que enfrentou outras vicissitudes no passado, Lucena sabia que qualquer hesitação ou vacilação de sua parte desencadearia um processo, talvez irreversível, de desmotivação e abandono nas hostes de apoiadores que até aqui sustentam o seu favoritismo na disputa eleitoral. Essa “resiliência” do prefeito acabou contaminando positivamente os seus liderados e os expoentes da coordenação de sua campanha, que mantêm acesa a chama enquanto o setor jurídico agiliza providências para normalizar situações que enfrentaram acidentes de percurso na reta final, recorrendo, nas últimas horas, ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, para incluir denúncia sobre atuação criminosa de milícias digitais na campanha de João Pessoa no teor do inquérito em tramitação na Corte sobre a extensão dessa atuação em todo o território nacional.
Na semana decisiva da campanha eleitoral para o primeiro turno em João Pessoa, a expectativa entre os analistas políticos é quanto aos desdobramentos que pode vir a ter o caso envolvendo o prefeito Cícero Lucena, não só do ponto de vista dos efeitos das ações policiais-judiciais, mas, sobretudo, do ponto de vista do sentimento de reação de grande parte do eleitorado quanto ao mérito das denúncias de suposto conluio com facções atuantes do crime organizado em território pessoense. Essas reações só podem ser medidas através de pesquisas – e, nesse sentido, há uma verdadeira inflação de pesquisas registradas (calculadamente uma dezena), indicando que até o Dia “D” haverá pesquisa para todos os gostos num Estado que não vive sem elas. O esforço de Cícero, correndo contra o relógio, é no sentido de não enfrentar uma sangria de votos, mas, sim, de conservar percentuais que o mantenham competitivo no páreo, rumo, até mesmo, a um segundo turno, se esta hipótese vier a entrar no radar nesta etapa finalíssima.