Nonato Guedes
Campina Grande, segundo colégio eleitoral da Paraíba, vive uma disputa acirrada na reta final para as eleições municipais de domingo, com o confronto aberto entre os candidatos Bruno Cunha Lima (União Brasil), que pleiteia a reeleição, e Jhony Bezerra, ex-secretário de Saúde do Estado, que estreia no cenário pelo PSB com o apoio decidido do governador João Azevêdo e todo o seu esquema. A estratégia de Bruno é focada na luta para garantir a vitória já no primeiro turno, enquanto o “staff” de Jhony trabalha em sentido inverso, buscando criar as condições para o segundo turno. Há outros candidatos no páreo e o atual prefeito acredita que está superando a soma dos adversários, o que teria sido mostrado por pesquisas que chegaram ao seu conhecimento. Além de Cunha Lima e Bezerra, concorrem o deputado Inácio Falcão, do PCdoB, o empresário Arthur Bolinha, do Novo, André Ribeiro, pelo PDT e o professor Nelson Júnior, do PSOL.
Bruno tem sofrido bombardeio por causa de medidas polêmicas como a exoneração de cargos comissionados na gestão, ocorrida em 2023 e justificada por ele como necessária para aquele momento, argumentando que, no período, Campina sofria, como muitos municípios brasileiros, com a queda no repasse do FPM, o que obrigou a administração a adotar ajustes para evitar um colapso ou agravamento da situação. Jhony fustiga o prefeito, também, por alegadas omissões na área da Saúde e em setores de infraestrutura na Rainha da Borborema, e massifica o contraponto valendo-se de ações empreendidas pelo governo do Estado. Ressalta, ainda, que com sua eventual eleição, a cidade poderá ser beneficiada devido à sintonia com o governo João Azevêdo, explicando que em alguns casos a gestão de Bruno recusou o diálogo com a administração estadual para a celebração de parcerias em benefício da população. Essa versão é contestada por Bruno, que se defende com insinuações sobre discriminação a Campina Grande, apesar da sua importância estratégica no mapa da Paraíba.
O ambiente de radicalização já levou Bruno, numa entrevista, a afirmar que após a campanha poderia dialogar com os demais postulantes, menos com Jhony, a quem critica “pela forma de conduzir o processo eleitoral”, inclusive, com ataques contra a sua honra. O governador João Azevêdo, que tem marcado presença constante em eventos de campanha do seu candidato a prefeito em Campina Grande, insiste nos discursos na necessidade de se quebrar a hegemonia do grupo Cunha Lima e seus aliados no poder local, observando que isto não contribuiu positivamente para o avanço de conquistas e de projetos de desenvolvimento. De acordo com João Azevêdo, a administração de Bruno é pautada pelo desinteresse na colaboração com o governo estadual em políticas públicas que poderiam oferecer melhor qualidade de vida para os segmentos mais carentes, criando impasses que poderiam ser equacionados com a vitória do médico Jhony Bezerra, pela preocupação que este demonstra em carrear parcerias proveitosas para a Rainha da Borborema. Jhony tem se comprometido publicamente com a solução de impasses históricos que, a seu ver, foram se acumulando em gestões municipais e acena, também, com parcerias com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para coroar projetos que tem agitado na campanha eleitoral.
A cronologia da disputa eleitoral este ano em Campina Grande foi marcada por hesitações e atropelos na definição de candidaturas, o que chegou a provocar perda de tempo na deflagração das táticas eleitorais propriamente ditas. Bruno conviveu por mais de um ano com o “fantasma” de uma provável candidatura do ex-prefeito e deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos, alimentada pelo mutismo do parlamentar em anunciar qualquer definição sobre o processo eleitoral de 2024. Esse comportamento estimulou movimentos de políticos ligados ao governador João Azevêdo, como o deputado estadual Adriano Galdino, do Republicanos, presidente da Assembleia Legislativa, no sentido de tentar atrair Romero para a oposição a Bruno, assumindo a candidatura a prefeito. De outra parte, montou-se uma força-tarefa que teve expoentes como o senador Efraim Filho, do União Brasil, e o ex-governador Cássio Cunha Lima, do PSDB, para integrar Romero ao palanque de Bruno. A operação teve o aval do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que, apesar de divergências com Romero, não opôs nenhuma restrição a entendimentos para engajá-lo. Quando, finalmente, anunciou que não seria candidato e apoiaria Bruno, Romero já havia atropelado o cronograma de Bruno no combate aos adversários.
A eleição para prefeito de Campina Grande, como sempre, é uma prévia para composições visando a disputa estadual de 2026, pelos reflexos inevitáveis que tem, sobretudo, na campanha ao governo. Em 2022, o então deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) conseguiu a proeza de levar o páreo para o segundo turno contra o governador João Azevêdo, abrindo-se diferença estreita entre ambos na etapa finalíssima. O projeto do agrupamento de oposição de retomar o Palácio da Redenção envolve nomes como o do senador Efraim Filho, do deputado Romero Rodrigues e do próprio Pedro Cunha como alternativas para 2026, mas essa discussão será aprofundada após a confirmação das urnas no próximo domingo. Independente de virar ou não o jogo para prefeito, Jhony Bezerra despontou em 2024 como um quadro político valioso no esquema do governador João Azevêdo, passando a encabeçar cogitações, no bloco governista estadual, para daqui a dois anos.