Nonato Guedes
Ainda que não venham a ter chances concretas de se elegerem prefeitos de João Pessoa e Campina Grande amanhã, o ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga (PL) e o ex-secretário de Saúde do governo Azevêdo, Jhony Bezerra (PSB), terão feito um “investimento político” para o futuro com suas candidaturas registradas este ano, podendo obter passaporte para fazer carreira nas disputas vindouras. Dos dois, Jhony é quem mais se aproxima da hipótese de avançar para um segundo turno, se este cenário despontar, embora as projeções indiquem um favoritismo do atual prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil) com possibilidade de liquidar a fatura já agora. Queiroga está mais distante no pódium em João Pessoa. Chega a figurar em empate técnico com outros dois nomes que disputam acirradamente o segundo lugar, mas é o último colocado nesse universo. Ainda esta semana trouxe a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro para agenda na Capital, que não parece ter acrescentado muito ao seu potencial, em face, inclusive, da concorrida programação, dada a participação de Queiroga no debate da TV Cabo Branco na quinta-feira.
Em comum entre ambos, além da condição de médicos, a circunstância de serem estreantes na atividade política. Jhony foi lançado praticamente de última hora pelo esquema do governador João Azevêdo quando restou comprovada a inviabilidade de uma candidatura dissidente do ex-prefeito e deputado federal Romero Rodrigues (Podemos) no bloco de Bruno. Queiroga ascendeu ao posto de candidato em João Pessoa desbancando o comunicador Nilvan Ferreira, que em 2020 havia avançado para o segundo turno contra Cícero Lucena (PP) mas que enfrentou guinada espetacular na própria biografia, afastando-se do bolsonarismo e do PL, filiando-se ao Republicanos do deputado federal Hugo Motta e lançando-se candidato em Santa Rita, na região metropolitana, com o apoio do governador João Azevêdo. O malabarismo de Nilvan foi encarado como pragmático para a sua própria sobrevivência, diante da falta de espaço ou de apoio na Capital para levar à frente uma nova campanha, e também como um ensaio para novos projetos políticos, deixando para trás derrotas que vinham se acumulando. A aposta de 2024 lhe credencia, seja qual for o resultado, porque amplia a sua visibilidade.
Sobre Marcelo Queiroga, é certo que já para as eleições de 2022 seu nome chegou a ser cogitado dentro do PL para concorrer a um mandato de deputado federal pela Paraíba, assim como fizeram ex-ministros em outros Estados, que se elegeram tanto à Câmara como ao Senado e atualmente ocupam espaços de influência na conjuntura e nas grandes decisões sobre os problemas nacionais. O próprio então presidente Jair Bolsonaro, que conheceu Marcelo por intermédio de um dos seus filhos e o convocou para a Pasta da Saúde em momento extremamente delicado para o país, às voltas com situação de emergência decorrente da pandemia de covid-19, estimulou o auxiliar fiel a ingressar na política, por considerá-lo articulado e preparado para defender as bandeiras que remanescem à passagem do ex-capitão pela Presidência em uma quadra tumultuada que o país enfrentou. Queiroga intuiu a oportunidade agora em 2024 e é indiscutível que, apesar de polêmico por ser bolsonarista, tem contribuído para elevar o nível do debate sobre os problemas que afligem a Capital paraibana, trazendo propostas inovadoras que poderão ser implementadas por concorrentes que venham a se eleger. Em 2026, Queiroga poderá cogitar até mesmo sair candidato a governador, como lhe aconselhou Bolsonaro certa vez.
A verdade é que Marcelo Queiroga e Jhony Bezerra, com histórias distintas e atuando em campos ideológicos extremamente opostos (o primeiro à direita, o segundo à esquerda) candidataram-se a prefeito em João Pessoa e Campina Grande porque demonstraram vocação política, que talvez tenha ficado represada por certo tempo, adormecida nos escaninhos das suas ambições e esperando uma oportunidade para desabrochar. Figuras como Jair Bolsonaro e João Azevêdo identificaram neles potencial para tentar oxigenar o próprio processo político e lograram persuadi-los a encarar desafios que não estavam nos respectivos radares, talvez nem mesmo nas estratégias dos esquemas políticos distintos em que militam. Em todo caso, independente do desfecho de percentuais que venham a obter no domingo, estarão credenciados ou cacifados para novos embates. Já não será jejunos ou ilustres desconhecidos para segmentos influentes do eleitorado paraibano nos dois colégios mais importantes da geografia política local.
Em 2022, houve o lançamento de um balão de ensaio, por parte do governador João Azevêdo, quando lançou o nome da então deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB) para concorrer ao Senado, substituindo ao deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP), que era o preferido mas refugou a pretensão, preferindo candidatar-se a uma reeleição segura à Câmara. Aguinaldo foi reeleito, PLollyanna não, mas a candidata a senadora surpreendeu os meios políticos alcançando votação expressiva contra pesos-pesados como o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) e contra o favorito, Efraim Filho, do União Brasil, que acabou consagrado. O que se diz é que Pollyanna é um quadro de valor que em qualquer espaço, em 2026, pode ser acionado novamente por João Azevêdo e líderes do seu esquema. No momento, ela se engaja de corpo e alma na campanha do filho, Pedro Feitosa, a prefeito de Pombal, com chances, e exerce no governo uma secretaria que tem linha direta com pastas relevantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.