Nonato Guedes
A terceira pesquisa “Quaest-TV Cabo Branco”, divulgada na noite de ontem, revelou que o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (Progressistas), consegue manter o favoritismo para as eleições de hoje em primeiro turno apesar de ter enfrentado turbulências que, por via de consequência, confundiram parcelas do eleitorado e ocasionaram oscilações de votos, com possível migração para outros candidatos. Desde o primeiro levantamento, datado de 24 a 26 de agosto, quando Cícero obteve 53% das intenções de voto, a liderança do páreo esteve com ele, oscilando em setembro para 49% e, agora, avançando para 55% dos votos válidos, o que indica a chance de liquidar a fatura já no primeiro turno, embora os adversários prometam se empenhar até o último instante por uma reversão que produza, pelo menos, a emergência de um segundo turno. O deputado Ruy Carneiro, do Podemos, registrou ascensão promissora, com 17% das intenções, seguido de perto por Marcelo Queiroga, do PL, com 16% (configurando-se empate técnico dentro da margem de erro). Luciano Cartaxo, do PT, aparece com 12%, um percentual desalentador para ele e para o partido.
Convém recapitular que nas vésperas da eleição o candidato Cícero Lucena deparou-se com adversidades no próprio núcleo familiar, decorrentes da ordem de prisão contra a sua esposa, Lauremília Lucena, no bojo de uma operação da Polícia Federal sobre interferência de organizações criminosas no andamento da disputa eleitoral na Capital paraibana. O fato teve, naturalmente, ampla repercussão nos meios políticos e sociais, atenuada, todavia, por ilegalidades apontadas na operação contra a primeira-dama da Capital e uma secretária particular. O prefeito, a par do esforço para reverter a medida extrema, deu provas de resiliência no enfrentamento aos adversários que tentaram capitalizar os efeitos do “fato novo”, de que foi exemplar o seu comparecimento a um debate em emissora de televisão no mesmo dia em que sua esposa se encontrava no presídio Júlia Maranhão. De forma análoga, os três principais adversários – Ruy, Cartaxo e Queiroga se uniram, superando divergências pessoais, para pleitear ao Tribunal Regional Eleitoral a requisição de tropas federais em João Pessoa, o que não foi deferido por parte do TSE, a instância maior.
A orquestração movida contra Cícero para desgastá-lo na reta final da campanha eleitoral foi a estratégia que restou aos demais postulantes para conseguir avançar na corrida sucessória em João Pessoa. Até então, o foco era concentrado na crítica à administração do gestor do Progressistas, com cobranças em torno de obras anunciadas e de ordens de serviço expedidas para implementação de serviços essenciais, principalmente na infraestrutura e mobilidade urbana, além de omissões em áreas estratégicas como Saúde e Educação. A postura afirmativa de Cícero, não fugindo ao bombardeio ou ao confronto pretendido pelos adversários, contou pontos a seu favor e neutralizou o discurso agressivo, proferido tanto por Ruy Carneiro como por Marcelo Queiroga e Luciano Cartaxo. Este último ainda tentou direcionar a campanha para um comparativo de gestões, já que foi prefeito por oito anos, concluídos em 2020, e misturou ao pacote as gestões de Ricardo Coutinho, ex-prefeito e ex-governador, mencionado na Operação Calvário, cuja esposa, Amanda Rodrigues, é a vice na chapa encabeçada por Luciano. Esses movimentos táticos não surtiram efeito, dando a impressão de que Cícero estava “blindado” em face das acusações que seriam inevitáveis.
O mito de que a campanha deste ano em João Pessoa reproduziria a polarização ideológica nacional entre a esquerda, assumida por partidários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a direita, centrada nos remanescentes bolsonaristas como o ex-ministro Marcelo Queiroga e seu vice, o pastor Sérgio Queiroz, do Novo, não funcionou perante o eleitorado pessoense. Os próprios postulantes preferiram focar na discussão da problemática local, que tinha contornos mais interessantes para eles. Além do mais, nem o presidente Lula nem o ex-presidente Jair Bolsonaro deram as caras em João Pessoa neste primeiro turno. O chefe de governo e líder petista ainda veio, mas para cumprir agenda institucional na companhia do governador João Azevêdo (PSB), apoiador declarado de Cícero Lucena, sem demonstrar interesse em cumprir agenda política paralela com o candidato Luciano Cartaxo e seus seguidores. Lula alegou razões estratégicas para não se envolver em algumas das campanhas eleitorais, lembrando que tem aliados em posição de confronto em diferentes localidades e que, por isso mesmo, iria restringir sua programação, sem falar que havia compromissos internacionais a serem cumpridos e urgências nacionais que exigiam atenção integral e solução imediata por parte do governo federal. Isto privou, praticamente, o palanque de Cartaxo, da presença de figuras mais expressivas do PT nacional para reforçar sua nova candidatura a prefeito de João Pessoa.
Em relação ao ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, somente esta semana ele conseguiu trazer a João Pessoa a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, mulher do ex-presidente Jair Bolsonaro, para um evento restrito que não parece ter rendido maiores dividendos eleitorais para sua campanha, ainda que não a tenha prejudicado. O crescimento vegetativo de Queiroga, apontado pela pesquisa, se deu em cima do seu trabalho de arregimentação, da identificação de eleitores da direita conservadora com ele e da inação do “staff” de Luciano Cartaxo, o que lhe possibilitou a ocupação de espaços, na “cola” do candidato e deputado federal Ruy Carneiro. No cômputo geral, a fotografia apresentada pelo instituto “Quaest” evidencia que o cenário manteve-se dentro da expectativa de previsibilidade, e que a chance de Cícero ser reeleito em primeiro turno é sinalizada por um dado: a sua cotação com mais de 51% dos votos válidos.