Nonato Guedes
A ascensão do candidato Marcelo Queiroga (PL) na reta final em João Pessoa e do candidato Jhony Bezerra (PSB) em Campina Grande foi o grande fato novo do primeiro turno das eleições municipais, a ponto de levá-los para o segundo turno dando combate aos respectivos prefeitos – Cícero Lucena (PP) e Bruno Cunha Lima (União Brasil) que postulam a recondução aos cargos. Na Capital, a perspectiva de ultrapassagem de Queiroga foi captada pela pesquisa Quaest-TV Cabo Branco, divulgada na noite do sábado, que cravou 16% para ele, em visível empate técnico com Ruy Carneiro, do Podemos, que obteve 17% das intenções. Cícero manteve a liderança com 53% das intenções, computados os votos válidos – e a expectativa era de que, em hipótese de segundo turno, o confronto do prefeito fosse com Carneiro, seu ex-aliado político. Desse ponto de vista, houve reviravolta no cenário, com o deputado Luciano Cartaxo, do PT, em quarto lugar, com 11,77% dos votos.
Em Campina Grande, segundo maior colégio eleitoral do Estado, a performance do ex-secretário de Saúde Jhony Bezerra, estreante em disputa política, surpreendeu os analistas e os adversários, que apostavam numa vitória de Bruno Cunha Lima em primeiro turno, embora a campanha não tenha registrado profusão de pesquisas que indicassem o termômetro real da disputa. De resto, Bruno enfrentou desgaste a partir da demora na estratégia de campanha, devido à vacilação do ex-prefeito e atual deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos, que veio a se definir na undécima hora depois de ter alimentado anseios recônditos de que assumisse uma postulação. Decisões administrativas polêmicas tomadas pela gestão de Bruno também terão contribuído para abalar suas chances no páreo, em paralelo com a ofensiva maciça desencadeada pelo governador João Azevêdo e seus correligionários para alavancar a candidatura de Jhony Bezerra. O governo do Estado anunciou investimentos de vulto na cidade de Campina Grande e o governador insistiu na importância da parceria com um candidato do seu esquema, o que pode ter sensibilizado a fatia de eleitores indecisos, ávidos por um choque de avanço no processo de desenvolvimento da Rainha da Borborema.
Em relação ao prefeito Cícero Lucena, já se disse que a sua campanha foi pontuada por turbulências em clima de tensão permanente, com episódios judiciais e policiais de repercussão, que foram exaustivamente explorados pelos três adversários principais – Marcelo Queiroga, Ruy Carneiro e Luciano Cartaxo. O atual gestor demonstrou fôlego e resiliência, mantendo a campanha ativada e turbinada em tempo integral – e contou, ainda, com o reforço de lideranças políticas de outros partidos e com o engajamento declarado do governador João Azevêdo, que desde o primeiro momento fixou-se pelo apoio à sua reeleição. Nas declarações ontem à noite sobre os resultados, o chefe do Executivo celebrou as conquistas de Cícero Lucena e de Jhony Bezerra no primeiro turno e prognosticou cenário vitorioso na rodada decisiva. Em relação a Cícero, opinou que ele representa o que a cidade precisa, enfatizando, aí, a identificação entre o candidato e o eleitorado e, sobre a votação de Jhony, avaliou que ela traduz o sentimento de mudança que seria latente junto a parcelas do eleitorado em Campina Grande. Sinalizou claramente que o empenho será redobrado agora, inclusive, na formulação das táticas para assegurar o triunfo derradeiro.
O ex-ministro Marcelo Queiroga procurou apresentar-se na disputa como o verdadeiro candidato bolsonarista-raiz, aludindo à sua passagem pela Pasta da Saúde num momento difícil para o país, devido à calamidade da pandemia de covid-19. Ele massificou as ligações com o ex-presidente Jair Bolsonaro, extraiu vídeos com este em apoio à sua postulação e na semana do pleito trouxe a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro para uma agenda restrita, na tentativa de estreitar os laços com os remanescentes da gestão de direita conservadora que empalmou o poder no país. Ressalte-se, ainda, o papel relevante exercido na campanha de Queiroga pelo seu candidato a vice-prefeito, o pastor e procurador da Fazenda Nacional Sérgio Queiroz, conhecido pela sua militância como educador, que obteve votação expressiva em João Pessoa ao Senado em 2022 e concorre pelo Novo, “vendendo” um perfil de desvinculação com oligarquias políticas tradicionais que sobrevivem no comando da cena política paraibana. A tendência é que no segundo turno o ex-presidente Bolsonaro esteja mais presente na Capital paraibana, ao lado de outras figuras de projeção do seu “staff” no mutirão para fortalecer a candidatura de Marcelo Queiroga.
Há dúvidas sobre como se posicionarão os candidatos Ruy Carneiro e Luciano Cartaxo no segundo turno da disputa em João Pessoa. Eles se acusaram entre si mas bateram forte, sobretudo, no prefeito Cícero Lucena e no ex-ministro Marcelo Queiroga. Independente de abstenção dos dois derrotados, os respectivos votos que amealharam no primeiro turno flutuarão entre Cícero Lucena e Marcelo Queiroga. No caso de Cartaxo, já no primeiro turno, ele não contou com o engajamento de líderes e militantes do Partido dos Trabalhadores e se impôs junto à cúpula graças à articulação do ex-governador Ricardo Coutinho, que indicou a mulher, Amanda Rodrigues, para a vaga de vice. Em última análise, a reaproximação entre Cartaxo e Ricardo Coutinho pode ter contribuído para desgastar o candidato petista em 2024, restando dúvida agora, também, quanto ao posicionamento que o presidente Lula terá, já que no primeiro turno não se envolveu na guerra eleitoral em João Pessoa.