Nonato Guedes
A reação do Palácio do Planalto às derrotas sofridas pela esquerda e pelo PT nas eleições municipais de domingo foi no sentido de minimizá-las e de enfocar, no contraponto, o desempenho dos partidos que compõem a “frente ampla” de sustentação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como dividendo positivo no cômputo geral. Esta foi a atitude manifestada pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, confrontado com o domínio da centro-direita no pleito recente, através de partidos como o PSD, o MDB, o PP e o União Brasil, que compõem o chamado Centrão no Parlamento. Juntas, essas agremiações conquistaram mais da metade das prefeituras municipais no país. O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro e o Republicanos, do governador paulista Tarcísio de Freitas, tiveram os maiores crescimentos, ficando em quinto e sexto lugares.
Sobre o Partido dos Trabalhadores, a avaliação é de que o número de prefeituras aumentou em relação a 2020 para 248, seguindo em disputa em pelo menos treze cidades, mas o balanço que está sendo feito indica que o resultado está aquém do esperado pelo partido e pelo governo. A legenda sofreu decepções em Teresina, Goiânia, João Pessoa e em cidades importantes do interior, como Campinas (SP), Araraquara (SP) e Uberlândia (MG). Padilha minimizou o quadro após reunião com o presidente Lula na manhã de ontem. Disse o ministro, textualmente: “Lideranças que compõem essa frente ampla do governo, que apoiam o presidente Lula, que o apoiaram no primeiro, no segundo turno das eleições de 2022, derrotaram os ícones da extrema direita”. Ele focou, em especial, conforme reportagem do UOL, nas duas únicas vitórias de apoios lulistas no primeiro turno: as reeleições de Eduardo Paes (PSD) no Rio de Janeiro e de João Campos (PSB) no Recife. Padilha argumentou que Bolsonaro foi derrotado no seu condomínio, na sua casa na cidade do Rio de Janeiro, por uma liderança que compõe a frente ampla a que ele se referiu e que fez questão, no anúncio de sua vitória, de agradecer ao presidente Lula. Paes derrotou Alexandre Ramagem, do PL, e João Campos venceu o ex-ministro bolsonarista Gilson Machado.
Ao falar em frente ampla, o ministro apontou para todos os 10 partidos que compõem o governo, parte deles de centro-direita. Uma dessas siglas, inclusive, protagonizou a principal derrota do PT neste primeiro turno: o ex-prefeito Sílvio Mendes (União Brasil) derrotou o deputado estadual Fábio Novo, do PT, em Teresina. O União Brasil tem dois ministros no governo, mas costuma se declarar independente e faz oposição ao PT e à esquerda na grande maioria dos Estados como São Paulo, Bahia e Goiás. Em São Paulo, na campanha deste ano, o PT pela primeira vez não lançou candidato próprio, preferindo fechar com a candidatura do deputado federal Guilherme Boulos, do PSOL, que vai enfrentar no segundo turno o atual prefeito Ricardo Nunes, do MDB. A ex-prefeita Marta Suplicy, repatriada para o PT, é vice na chapa de Guilherme Boulos. A conta feita por Padilha inclui o deputado estadual Igor Normando (MDB) em Belém. Candidato do governador Helder Barbalho (MDB), próximo ao governo, ele apoiou Lula em 2022 mas, na cidade, o PT havia endossado a reeleição do prefeito Edmilson Rodrigues, do PSOL, que acabou com menos de 10% dos votos.
Ao comentar as eleições deste ano, Alexandre Padilha ponderou: “Sabemos da força dessa extrema direita no país, ninguém nega essa força, ninguém nega a capilaridade nacional dessa força. Agora, acreditamos que no segundo turno essas lideranças que compõem a frente ampla do presidente Lula têm todas as condições de derrotar, inclusive, essas lideranças da extrema direita”. Para analistas políticos, a avaliação do ministro traz algumas complexidades. Em Goiânia, por exemplo, onde o bolsonarista Fred Rodrigues (PL) saiu de quarto nas pesquisas para a primeira colocação e deixou a deputada Adriana Accorsi (PT-GO) de fora. O ex-deputado Sandro Mabel segue na disputa, pelo União Brasil. Ele é o nome do governador Ronaldo Caiado, do mesmo partido, opositor do governo federal. Também há exemplos de partidos que nacionalmente estão mais ligados a Lula, mas regionalmente não. Em São Paulo, onde Lula grudou em Guilherme Boulos do PSOL, o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, tenta a reeleição. Ele é apoiado por Jair Bolsonaro e sempre foi um crítico da esquerda. O MDB tem três ministros no governo do presidente Lula.
Com exceção de São Paulo e de Fortaleza, onde conseguiu garantir seus candidatos no segundo turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi a nenhuma outra capital eleitoralmente, situação que deve mudar neste segundo turno, de acordo com os prognósticos. Para as próximas duas semanas já há agenda marcada. Nesta semana, vai a Fortaleza, onde Evandro Leitão (PT) concorre no segundo turno e Belém, com Igor Normando. Na semana que vem, vai à inauguração do aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, onde Maria do Rosário (PT) segue na disputa. O Planalto diz entender que uma eleição está ligada a outra. “Nunca existiu no Brasil e não existe essa relação direta entre pleitos”, diz Padilha. O UOL revela que, embora um crescimento de partidos da direita não indique, necessariamente, uma derrota de Lula em sua reeleição, aponta que a relação de forças está cada vez pendendo mais para o lado oposto do grupo do presidente da República.