Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (PSB) não esconde que se sentiu revigorado com a vitória de candidatos do seu partido e de partidos aliados a prefeito na maioria dos municípios paraibanos, em diferentes regiões. Agora, aposta fichas nos resultados das eleições em segundo turno em João Pessoa, com o seu candidato Cícero Lucena (PP), que enfrenta o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, do PL, e em Campina Grande, onde o ex-secretário de Saúde do Estado Jhony Bezerra, lançado quase de última hora pelo agrupamento do socialista, dá combate ao prefeito Bruno Cunha Lima, do União Brasil, na rodada finalíssima. O chefe do executivo considera que a ascensão de Jhony na Rainha da Borborema foi vertiginosa, levando-se em conta o pouco tempo de duração da sua entrada em cena e o fato do ex-secretário ser estreante em disputa política, o que sinaliza, a seu ver, expressão da vontade de mudança por parte de segmentos do eleitorado da cidade serrana.
A tendência do governador é de um engajamento maior ou mais constante neste segundo turno nos dois maiores colégios eleitorais do Estado. Na Capital, o prefeito Cícero Lucena aguarda um posicionamento oficial do PT, mas mesmo que isto não ocorra em forma de apoio tem a expectativa de atrair votos petistas decisivos para consolidar uma diferença maior sobre Marcelo Queiroga. João Azevêdo, em entrevista, opinou que, por coerência, a posição natural do PT seria de alinhamento com Lucena, que está entrosado com João, por sua vez apoiador declarado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas não ignora que subsiste dentro do petismo a resistência liderada pelo ex-governador Ricardo Coutinho, que saiu derrotado do primeiro turno, com sua mulher Amanda Rodrigues compondo no papel de vice a chapa do deputado Luciano Cartaxo, detentora de um humilhante quarto lugar na contagem final. A candidatura de Cartaxo, como se sabe, foi uma imposição de cima para baixo, partindo da cúpula nacional que ignorou pareceres dos diretórios municipal e estadual do PT e avaliou que Luciano, por ter sido prefeito duas vezes, teria “recall” para alavancar o projeto de candidatura própria da legenda. Um erro de cálculo imperdoável, que chegou a ser alertado por figuras como Jackson Macedo, dirigente estadual.
A convivência entre o PT paraibano e o governador João Azevêdo na conjuntura é sempre complicada devido à influência avassaladora exercida a nível interno pelo ex-governador Ricardo Coutinho, que, inclusive, estaria preparando o seu retorno ao cenário político em alto estilo nas eleições de 2026, conforme vazou para a imprensa. Mas o desfecho pífio da candidatura petista em 2024 deverá provocar reflexões da cúpula nacional presidida pela deputada Gleisi Hoffmann, conjugado com o fato concreto de que há um bolsonarista-raiz enfrentando o segundo turno em João Pessoa, que é o ex-ministro Marcelo Queiroga. No primeiro turno, Luciano Cartaxo evitou nacionalizar a disputa, mesmo com a presença de Queiroga no páreo, preferindo partir para uma comparação de gestões entre ele e o progressista Cícero Lucena. Essa estratégia não surtiu efeito – e, no campo do combate propriamente dito a Cícero Lucena quem logrou sobressair de forma mais contundente foi um ex-aliado dele, o deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, que, inclusive, sonhava com a hipótese de estar no segundo turno. O dado surpreendente foi que Queiroga atuou, como se diz, “pelas beiradas”, exaltando o governo Bolsonaro e se auto-elogiando, embora fosse criticado por não ter sido generoso com a Paraíba quando da sua passagem por uma Pasta estratégica, mesmo no período de calamidade representado pela covid-19.
Para este segundo turno, a estratégia central de Marcelo Queiroga continua sendo focada em dois pontos: na defesa do governo Bolsonaro, realçando a sua atuação no enfrentamento à pandemia mediante campanha maciça de vacinação e, por outro lado, na parceria com o seu candidato a vice, o pastor e procurador da Fazenda Nacional Sérgio Queiroz, do Novo, que tem saldo médio eleitoral expressivo em João Pessoa, como ficou demonstrado na disputa ao Senado em 2022 quando ele foi o mais votado, concorrendo pelo minúsculo PRTB. Na campanha deste ano, Queiroz demonstrou afinidade estreita com o cabeça de chapa, Marcelo Queiroga, e ambos apareceram em dobradinha no Guia Eleitoral trocando impressões sobre propostas de governo para a cidade de João Pessoa, com ênfase para a Saúde, a Educação e infraestrutura. O ex-presidente Jair Bolsonaro, que enviou sua mulher, Michelle, à capital paraibana, na reta finalíssima do primeiro turno, desta feita deverá ter uma agenda mais proativa em João Pessoa ao lado do candidato do PL, na pregação dirigida aos segmentos da direita conservadora, dos quais ele procura ser o legítimo representante, apesar da emergência de líderes no mesmo campo ideológico, a exemplo do ex-coach Pablo Marçal, que tumultuou a eleição em São Paulo e por um triz não avançou para o segundo turno.
Entre aliados e interlocutores do governador João Azevêdo, analisa-se que a disputa eleitoral em João Pessoa, a partir de agora, tende a se revestir de um conteúdo mais ideológico, clareando posições que ficaram indefinidas no primeiro turno dado o fato de que o prisma ideológico não foi o fio condutor daquela campanha. Nesse cenário move-se o governador João Azevêdo em atmosfera de otimismo, entendendo que sua administração, colateralmente, vem dando suporte a candidaturas apoiadas pelo seu esquema político, como as do prefeito Cícero Lucena e do ex-secretário Jhony Bezerra. Há muita incógnita pela frente, mas cabe anotar um dado interessante: o próprio governador animou-se de forma tal com o resultado do pleito que voltou a cogitar a hipótese de concorrer a uma vaga ao Senado em 2026, durante entrevista que concedeu sobre seu futuro político.