Nonato Guedes
O apoio do ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) e do senador Efraim Filho (União Brasil) à candidatura do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, do PL, a prefeito de João Pessoa neste segundo turno faz parte de uma articulação dos dois parceiros políticos com vistas à disputa ao governo do Estado em 2026. Desse ponto de vista, a opção por Queiroga tornou-se natural dentro da estratégia para tentar enfraquecer o esquema de forças liderado pelo governador João Azevêdo (PSB), que saiu amplamente fortalecido no primeiro turno das eleições municipais de 2024. O objetivo final é buscar a derrota do prefeito Cícero Lucena (Progressistas), candidato de João à reeleição, que obteve ampla vantagem sobre Marcelo Queiroga, não obstante o bolsonarista ter avançado para o confronto com ele, desbancando nomes como o do deputado federal Ruy Carneiro (Podemos) e do deputado estadual Luciano Cartaxo (PT).
Pedro Cunha Lima observou que está sendo correto com o PL mesmo não tendo tido contrapartida deste no pleito de 2022, quando ficou posicionado no segundo turno contra o governador João Azevêdo. O PL, em 2022, teve como candidato ao Executivo estadual o comunicador Nilvan Ferreira, que, com a entrada de Queiroga com honras e com o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro, migrou para o Republicanos e candidatou-se a prefeito de Santa Rita, perdendo por diferença estreita para o candidato Lucas Alvino, do PP, apoiado pelo prefeito Emerson Panta. No segundo turno a governador, adotou posição de neutralidade. Mas cabe lembrar que naquela campanha o então deputado federal Pedro Cunha Lima não firmou atitude em relação à disputa presidencial, mesmo quando esta ficou polarizada no segundo turno entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. A tática de Cunha Lima foi a de demonstrar independência quanto aos dois postulantes, embora expoentes do seu grupo tenham declarado abertamente preferência por Jair Bolsonaro no confronto com Lula.
O apoio ao ex-ministro Marcelo Queiroga em João Pessoa neste segundo turno foi costurado sob a condição do PL em Campina Grande apoiar a candidatura do prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil) à reeleição. Bruno disputa o segundo turno contra o médico Jhony Bezerra, ex-secretário de Saúde do Estado e filiado ao PSB, um estreante em política que surpreendeu os analistas e adversários com a sua ascensão para a batalha decisiva contra o atual prefeito, de tradição política-familiar enraizada no segundo colégio eleitoral do Estado. O governador João Azevêdo tem intensificado sua permanência na Rainha da Borborema e ainda ontem informou que vai alternar seu engajamento entre aquela cidade e a Capital, procurando reforçar nesta última o esquema do prefeito Cícero Lucena, que conseguiu manifestação de apoio do diretório municipal do PT, apesar do anúncio de “neutralidade” por parte do ex-prefeito e ex-candidato Luciano Cartaxo. O chefe do Executivo estadual tem consciência de que as batalhas em João Pessoa e Campina Grande no segundo turno tendem a se tornar acirradas, mas mantém a confiança em que os candidatos que apoia sairão vitoriosos.
A pressa do senador Efraim Filho e do ex-deputado Pedro Cunha Lima em manifestar solidariedade à candidatura do ex-ministro Marcelo Queiroga foi interpretada como parte da ofensiva para assegurar espaços para a oposição ao esquema político do governador do Estado na perspectiva de enfrentamento nas eleições de 2026. Efraim Filho, que venceu a disputa ao Senado em 2022 derrotando a candidata do PSB, Pollyanna Dutra, e o candidato do PT, ex-governador Ricardo Coutinho, já vem se anunciando pré-candidato ao Executivo dentro de dois anos, alegando ser uma consequência natural dos espaços de liderança que conquistou na conjuntura estadual, bem como da sua estratégia para fortalecer e preparar o União Brasil como agremiação importante no contexto das forças políticas mais representativas do Estado. Ele não coloca a postulação em termos categóricos e chega a fazer acenos para o deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos, e para o próprio ex-deputado Pedro Cunha Lima. O mais importante, tem apregoado o senador em suas falas em cidades do interior, é a união da oposição para quebrar a hegemonia que o esquema do governador João Azevêdo vem conseguindo implementar na Paraíba.
O governador, pelas reações que tem deixado escapar ultimamente em entrevistas, já percebeu que é o alvo principal da ofensiva dos adversários e também mobiliza-se com todo o afinco possível para consolidar a unidade entre partidos como o PSB, o PP e o Republicanos, que emergiram das urnas no primeiro turno este ano com resultados promissores em termos de controle de prefeituras de cidades importantes. O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, como protagonista político principal do esquema governista no pleito em curso, procura aprimorar a estratégia para dar combate a Marcelo Queiroga no segundo turno, mas é certo que ele tem atuado em sintonia fina com outras lideranças políticas de expressão. O foco na questão nacional deverá ganhar evidência por ser o adversário um ex-ministro da cozinha de Bolsonaro, mas Lucena não abre mão de discursar sobre gestão municipal, com resultados que o adversário não tem condições de oferecer na conjuntura de agora.