Nonato Guedes
Ao fazer, ontem, um balanço do desempenho do Partido dos Trabalhadores nas eleições municipais deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que é preciso “rediscutir” o papel da legenda na conjuntura política brasileira. Segundo ele, o PT teve um bom desempenho no Nordeste; no Rio Grande do Sul, com a deputada federal Maria do Rosário indo para o segundo turno na capital, Porto Alegre, e em Minas Gerais, onde a agremiação garantiu as prefeituras de duas grandes cidades: Juiz de Fora, com Margarida Salomão, e Contagem, com Marília Campos. Já em São Paulo, o petista reconheceu que o partido não teve um bom desempenho. Na capital paulista, o PT está coligado com o PSOL, apoiando a candidatura do deputado Guilherme Boulos a prefeito e apresentando o nome da ex-prefeita Marta Suplicy para a vice.
– O PT cresceu em número de prefeitos, o PT cresceu em número de vereadores. Mas o PT já governou São Paulo, Porto Alegre, já governou outras capitais importantes, cidades que nós não governamos. Nós perdemos São Bernardo e Santo André em São Paulo, estamos no segundo turno em Diadema e Mauá, também no interior paulista. O dado concreto é que o PT perdeu, inclusive, em Araraquara (SP), que é uma cidade que todo mundo tinha certeza que a gente ia ganhar. Em Teresina, no Piauí, até uma semana antes das eleições, todo mundo dava a eleição do candidato do PT e não aconteceu, coisa de eleição. A gente nunca tinha ganhado em Teresina, é preciso lembrar que o Wellington Dias foi governador do Piauí por oito anos, deixou o governo e foi eleito senador, e depois de dois anos tentou ser candidato a prefeito e só teve 15% dos votos – relembrou. O presidente fez as declarações em entrevista à rádio O Povo/CBN do Ceará, ontem, e observou que a base de apoio ao governo em Brasília é muito ampla.
Lula admitiu que este ano teve uma participação mais acanhada na campanha eleitoral “porque eu sou o presidente da República e eu tenho uma base no Congresso Nacional muito ampla”. Revelou que em São Paulo se dedicou um pouco, tendo comparecido por duas vezes a eventos políticos-eleitorais e justificou que “lá é uma briga que está estabelecida, entre o lulismo e o bolsonarismo”. Garantiu que ajudará o candidato Guilherme Boulos como puder neste segundo turno, em que ele dá combate ao prefeito Ricardo Nunes, do MDB. A campanha deste ano é a primeira, na sua história, em que o Partido dos Trabalhadores não lançou candidatura própria, preferindo compor-se com o candidato do PSOL. A cidade já foi governada por petistas como a paraibana Luíza Erundina, Marta Suplicy e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para analistas da mídia sulista, as declarações de Lula com o alerta ao PT sobre seu papel sinalizam a preocupação do mandatário com a decadência experimentada pela legenda e, por outro lado, com a necessidade de o PT se “reinventar” para reconquistar eleitores e simpatizantes. As mudanças teriam em vista, simultaneamente, fortalecer o próprio projeto do presidente de se candidatar à reeleição em 2026.
O Partido dos Trabalhadores conseguiu eleger 248 prefeitos no primeiro turno e disputa o segundo turno em treze cidades, dentre elas quatro capitais: Fortaleza, Porto Alegre, Natal e Cuiabá. Na eleição de 2020 foram eleitos 182 prefeitos, mas nenhum foi em capitais. Este ano, 168 prefeitos eleitos foram no Nordeste, cerca de 70%. O Piauí com 50 e a Bahia com 49 foram os Estados com mais prefeituras eleitas. Em João Pessoa, expoentes do petismo como o ex-governador Ricardo Coutinho lutaram para que prevalecesse uma candidatura própria, e a cúpula nacional praticamente impôs o nome do deputado estadual Luciano Cartaxo, preterindo a deputada Cida Ramos, que lutou para ser indicada. O argumento foi o de que Cartaxo teria “recall” positivo de duas gestões consecutivas que empalmou à frente da prefeitura de João Pessoa, mas a contagem final das urnas apontou o deputado petista em quarto lugar. No contraponto, ascendeu ao segundo turno o candidato bolsonarista Marcelo Queiroga, do PL, ex-ministro da Saúde, que polariza a decisão final com Cícero Lucena (PP), apoiado pelo governador João Azevêdo (PSB) e que atraiu a adesão do diretório municipal do PT no segundo turno, apesar da neutralidade manifestada por Cartaxo.
O presidente Lula, embora reconhecendo a importância das prefeituras ante o acesso da população a políticas públicas, declarou que as eleições municipais não influenciam os resultados das eleições nacionais – numa tentativa de exorcizar “fantasmas” eventuais nas eleições de 2026. “Toda vez que termina uma eleição aparecem os vencedores, os heróis, e que acham que o mundo a partir dali mudou. A eleição de prefeito, na verdade, não tem muita incidência numa eleição presidencial. Porque nem todo prefeito no segundo ano de mandato está bem (…) O prefeito no primeiro ano herda o orçamento do antecessor e só vai começar a fazer o seu orçamento no ano seguinte. No primeiro ano, o povo não cobra nada porque é o ano que o cara ganhou e tem que arrumar a casa. Mas no segundo ano ele já começa a dever expectativas para o povo. Toda vez que você vai no palanque e anuncia o prefeito, ele é vaiado. Quando você anuncia o cara que perdeu, ele é aplaudido”, comentou o presidente Lula.