Nonato Guedes
O deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos, continua competitivo na disputa que se ensaia pela presidência da Câmara, sucedendo a Arthur Lira, do PP-AL, apesar da ofensiva deflagrada pelo dirigente do PSD, Gilberto Kassab, para emplacar o nome do deputado Antonio Brito, da Bahia. Motta foi lançado no páreo após a desistência do deputado Marcos Pereira, do Republicanos-SP, que não conseguiu unificar forças políticas do centro e da direita em torno do seu projeto. Na avaliação de Kassab, a saída de Marcos Pereira teria ampliado as chances de Antonio Brito e, nesse sentido, foi firmado um acordo de apoio mútuo com o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, para derrotar Motta. O PSD, conforme pontua reportagem do “Congresso em Foco” intitulada “A batalha pelo centro”, saiu das urnas como campeão em número de prefeituras conquistadas, e seu presidente acha que a eleição mostrou uma predominância das forças de centro-direita.
Kassab tem se dedicado a transmitir alguns recados no pós-eleitoral do primeiro turno em 2024. O primeiro, é que não despreza a força eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como candidato à reeleição ou como eleitor em 2026. Por isso, reafirma seu desejo de ver Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, filiado ao Republicanos, disputar a reeleição naquele Estado, ao mesmo tempo em que anuncia a disposição de ter candidato próprio ao Planalto. A segunda mensagem diz respeito à eleição para a presidência da Câmara e implica na sua análise de que o deputado Antonio Brito passa a ganhar cacife para dar combate a Hugo Motta. Ao classificar ideologicamente os partidos, Kassab isola PL, PP e Republicanos na direita e coloca no centro o PSD, MDB e União Brasil. Os demais (PT, PSB, PCdoB e PSOL) ficam à esquerda. O bloco do meio, de acordo com ele, somou a maior parte dos votos dados no domingo da eleição em primeiro turno, ou seja, cerca de 40 milhões. O primeiro pelotão chegou a 30 milhões e a esquerda atingiu em torno de 20 milhões.
Essa força eleitoral conferida ao “centro” – informa o “Congresso em Foco – pode jogar contra as pretensões de Arthur Lira em sua sucessão. Ele vive o último trimestre no poder, tendo abreviado seu mandato no cargo ao permitir que Marcos Pereira anunciasse Hugo Motta como seu candidato à sucessão, mas a manobra já tirou-lhe a chance de conduzir o processo eleitoral com mais tranquilidade até fevereiro de 2025 e abalou a amizade com outro postulante, o deputado Elmar Nascimento, do União Brasil, que o tratava por “irmão”. Lira se reelegeu com o apoio de praticamente todos os partidos – obteve 464 dos 513 votos. Mas, agora, o jogo é outro. O apoio do governo do presidente Lula será decisivo para o resultado e Lula tende a não apoiar qualquer candidato patrocinado por Lira, muito menos vinculado a partidos de direita. Lula fez o PT abrir mão de disputar diversas prefeituras para privilegiar alianças com partidos de centro que hoje integram o governo. PP e Republicanos também têm cargos no primeiro escalão mas são aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Para o “Congresso em Foco”, é o centro que fará a diferença em 2026 e Lula trabalha para ser o comandante dessa nova “frente ampla”.
A verdade é que a candidatura do deputado paraibano Hugo Motta surgiu como alternativa a um impasse, desenhado pela falta de apoio para legitimar a postulação do presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira. Isto se deu num momento em que a candidatura do deputado Elmar Nascimento parecia estar se consolidando, com a expectativa de manifestação favorável do presidente Arthur Lira, que ainda detém poder de articulação nos bastidores e que luta para não esvaziá-lo diante da iminência de concluir sua passagem pelo comando da Casa. Hugo Motta precipitou-se, no vácuo, conduzindo conversas pessoais tanto com o ex-presidente Jair Bolsonaro como com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – aparentemente colhendo simpatias que, depois, não se converteram em compromisso. O Partido dos Trabalhadores chegou a emitir nota através da sua presidente Gleisi Hoffmann informando que não tomou posição oficial de apoio a nenhum postulante à presidência da Câmara e que só no momento oportuno iria revelar sua opinião diante dos acontecimentos e das pretensões colocadas na mesa. Líderes do partido recuaram depois das versões de que Hugo Motta teria se comprometido, caso eleito, a pautar o projeto de anistia para Bolsonaro, que continua inelegível.
Nas últimas semanas, o deputado federal paraibano figurou nos holofotes da mídia nacional, com insinuações negativas sobre seu perfil político e acusações de ilegalidades que o próprio Hugo Motta teve a preocupação de desmentir taxativamente. As matérias veiculadas contra o parlamentar pareceram sinalizar que ele se mantém competitivo em meio a todo o fogo cruzado que está montado para a sucessão do presidente Arthur Lira. Em outra frente, nota-se que o deputado Hugo Motta mudou de tática no processo interno, evitando expor-se a desgaste político junto a grupos que têm rivalidade no campo ideológico como os liderados pelo presidente Lula e pelo ex-presidente Bolsonaro. A atitude de Motta, aparentemente submergindo no processo, objetivaria poupá-lo de queimação. Como observa um parlamentar ligado a ele, Motta continua hiperativo na conspiração de bastidores e não deve ser subestimado depois de tanto espaço que já conquistou no ambiente da Câmara dos Deputados.