Nonato Guedes
Depois de atrair os apoios do ex-candidato Ruy Carneiro (Podemos) e de líderes locais que estiveram com Ruy no primeiro turno, a exemplo do senador Efraim Filho (União Brasil) e do ex-candidato a governador Pedro Cunha Lima, do PSDB, o médico e candidato a prefeito de João Pessoa Marcelo Queiroga (PL) confirma para amanhã a vinda do ex-presidente Jair Bolsonaro para uma agenda política de impacto na Capital paraibana, com a realização de carreata que contará com outros expoentes do conservadorismo político no Estado. Trata-se da derradeira “cartada” do candidato do PL para impulsionar sua candidatura depois de ter surpreendido os analistas políticos ao avançar para o segundo turno num reduto onde a disputa não reproduz a polarização nacional que opõe Bolsonaro ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já que está centrada no âmbito municipal, com uma espécie de plebiscito sobre a gestão empalmada pelo adversário de Queiroga, o atual prefeito Cícero Lucena (PP), apoiado pelo governador João Azevêdo.
Desde que foi oficializada a sua passagem para o segundo turno, Marcelo Queiroga – um estreante na atividade política, empenha-se em adquirir musculatura para reduzir a grande desvantagem que, apesar dos pesares, colheu em relação a Cícero Lucena. No primeiro debate televisivo do segundo turno, promovido anteontem pela Arapuan, o ex-ministro partiu na frente na linha do ataque com o nítido propósito de buscar desqualificar e descredibilizar a imagem de Cícero, apesar da reconhecida experiência deste como prefeito de João Pessoa por três vezes, vice-governador e governador efetivo por 10 meses e Secretário de Políticas Regionais do governo federal, com status de ministério, na gestão de Fernando Henrique Cardoso. Ficou evidente no debate mediado pelo jornalista Luís Tôrres a “estratégia de urgência” de Queiroga para se apresentar melhor ao eleitorado, vencer resistências ao seu nome e lograr ultrapassar o oponente, dentro do raciocínio de que a virada é difícil mas não impossível. Em nome da sobrevivência, Queiroga priorizou o ataque em detrimento da pauta propositiva propriamente dita, e busca em figuras como Bolsonaro o reforço para imprimir uma reviravolta espetacular no processo eleitoral em curso na Capital paraibano.
No primeiro turno, a ausência do ex-presidente Jair Bolsonaro foi compensada parcialmente, na reta finalíssima, na semana da eleição, com a vinda da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que participou de um evento restrito, ainda assim relevante para a moldura da campanha do ex-ministro da Saúde, até então escassa de estrelas de grande projeção com cacife para alavancar, por mínimos que sejam, os percentuais de crescimento do candidato do PL. As adesões locais recebidas no segundo turno convenceram Queiroga da necessidade de ampliar o palanque e influenciar parcelas do eleitorado trazendo o próprio Jair Bolsonaro. O ex-presidente anuiu em vir cumprir agenda não só para socorrer um ex-ministro que lhe demonstrou fidelidade canina em pleno desmonte do bolsonarismo mas porque se esforça para manter-se em evidência no plano nacional, competindo com expressões recentes que eclodiram no campo da extrema-direita, caso do ex-candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal, que ainda hoje encanta até mesmo antigos apoiadores de Bolsonaro.
É difícil avaliar qual a repercussão que a presença de Jair Bolsonaro terá no andamento da campanha pilotada por Marcelo Queiroga – primeiro porque persiste junto aos analistas políticos a polêmica sobre a capacidade ou não de transferência de votos da parte de líderes nacionais para candidatos em eleições municipais ou estaduais. Seja como for, Bolsonaro é um ativo eleitoral que não pode ser subestimado em redutos como João Pessoa, onde frações da opinião pública “fecharam” com a chamada ideologia da direita em ascensão no país. No primeiro turno, Pablo Marçal não marcou presença aqui ou em outras capitais do Nordeste, concentrado que estava na sua própria mobilização para ir ao segundo turno em São Paulo, resultado que não aconteceu. De resto, o interesse de Marcelo Queiroga ficou patente, desde o começo da campanha, pelo apoio do ex-presidente a que serviu em Brasília, e que até então limitara-se a gravar áudio pedindo voto para o ex-auxiliar, notabilizado pela atuação polêmica à frente da Saúde em plena pandemia da covid-19. Esse trunfo ele está garantindo agora, na undécima hora.
No contraponto, permanece uma incógnita a possível vinda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pedir votos para o prefeito Cícero Lucena. Lula não veio no primeiro turno pedir votos para o candidato do PT, Luciano Cartaxo, que ficou em quarto lugar – na verdade, esteve em João Pessoa para cumprir agenda administrativa com o governador João Azevêdo, que é seu aliado de primeira hora. O presidente explicou a jornalistas que estava tendo uma participação acanhada na campanha eleitoral pelo desejo de não querer atiçar conflitos entre filiados a outros partidos que estariam na base de apoio ao seu governo no Congresso Nacional. O que se nota é que o próprio prefeito Cícero Lucena não força a barra nem faz pressão para a presença do presidente da República, como uma tática para não perder votos ao centro e à direita, ficando restrito o interesse a dirigentes do PT como o presidente estadual Jackson Macedo. Cícero parece confiar em que sua estratégia de municipalizar o pleito tem dado certo – e que, salvo fatores excepcionais, não cogita adicionar ingredientes complicados à campanha, diante do pouco tempo que resta para a decisão final do eleitorado.