Nonato Guedes
Versões de Brasília indicam que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), passou a intensificar as articulações para eleger o deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos, à sua sucessão no comando da Casa. Interlocutores do dirigente do Poder asseguram que ele está confiante quanto à formação de um blocão capaz de eleger Motta e ligou para o presidente do PSD, Gilberto Kassab, propondo uma conversa sobre o assunto. O pleito está marcado para fevereiro de 2025, mas a movimentação foi deflagrada com antecedência, em pleno período das eleições municipais, depois que o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), desistiu de entrar no páreo por não reunir apoios suficientes e passou a trabalhar para viabilizar a “alternativa Hugo Motta”, que tem bom trânsito entre diferentes correntes políticas, dos bolsonaristas a apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo o UOL, Arthur Lira deseja mostrar que o atual acordo firmado entre o PSD e União Brasil em torno de outro nome não terá efetividade. Lira tenta convencer Gilberto Kassab de que a junção entre os deputados Antônio Brito (PSD-BA) e Elmar Nascimento (União Brasil-BA) para formar um “bloco governista” contra Hugo Motta não tem chance de prosperar. Após Lira frustrar as expectativas de Elmar Nascimento e não anunciá-lo como seu sucessor, ele e Brito resolveram manter suas candidaturas na tentativa de forçar um segundo turno de votação contra o deputado paraibano. A ideia é que, ao final, eles somem esforços para derrotar o republicano. Lira, entretanto, fala em blocão que pode reunir, além do PP e Republicanos, outras siglas como o PL, MDB, Podemos e a Federação PT, PCdoB e PV. Os líderes desses partidos estavam no almoço de aniversário de Motta, quando houve uma contagem inicial de votos que passou de 300, de acordo com os participantes da reunião. PDT e PSB também devem se integrar à articulação em prol da candidatura de Hugo Motta.
Caso a formação do blocão se concretize, os partidos de Kassab e de Antônio Rueda podem ficar isolados, sem espaço na Mesa Diretora da Câmara, caso não decidam aderir ao grupo que está se consolidando. O presidente do PSD tem usado o sucesso do partido nas eleições municipais como moeda de valor nas negociações da sucessão do Legislativo. Para convencer Brito a abandonar a disputa, Kassab pode reivindicar mais espaço na Esplanada dos Ministérios em uma eventual reforma ministerial que venha a ser promovida em 2025 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em busca do consenso, Arthur Lira também telefonou para Elmar Nascimento após quase um mês sem conversas entre os dois. A conversa, conforme informações de aliados dos dois, teria sido rápida e sem nenhum acordo firmado. O deputado Elmar Nascimento continua alimentando ressentimentos por ter sido preterido por Lira no processo sucessório, depois de acenos amplamente favoráveis que haviam sido feitos na sua direção. Mas o bloco pró-Elmar já teria se desmobilizado diante de fatos novos que projetaram a ascensão do deputado Hugo Motta na corrida sucessória na Câmara, segundo analistas políticos bem informados.
Apurou-se que o atual presidente da Câmara também tem conversado com o presidente Lula a respeito das negociações, por avaliar que a candidatura de um sucessor mediante consenso também passa por uma costura com o Palácio do Planalto e por concessões ao Partido dos Trabalhadores, que, desde o início, está alijado da disputa pela presidência e pleiteia outros cargos considerados importantes na estrutura da Mesa Diretora. O deputado Hugo Motta ofereceu a primeira secretaria aos petistas que, hoje, ocupam a segunda secretaria. A posição tem atribuições mais administrativas na Câmara, tais como ratificar as despesas da Casa, encaminhar requerimentos de informação e solicitar que o Executivo envie projetos de lei, entre outros. Com o apoio de Kassab, a dupla Antônio Brito-Elmar Nascimento também procura atrair o PT e ofereceu a primeira vice-presidência da Casa à federação liderada pelo Partido dos Trabalhadores. O parlamentar que ocupar este cargo também será o vice-presidente do Congresso Nacional. O tamanho dos blocos e partidos também é levado em consideração no processo de escolha dos cargos.
De acordo com o regimento, a distribuição das posições na Mesa Diretora é feita por escolha da liderança partidária, da maior para a menor. Na prática, o maior bloco tem preferência nos pedidos para compor a mesa diretora, condição que também serve ao maior partido. O líder do PT, Odair Cunha (MG), depois de uma reunião com a bancada na terça-feira, 15, afirmou que o partido está debatendo qual tese irá seguir: a permanência no blocão formado para reeleger Arthur Lira em 2023, com todos os partidos, exceto o Novo e o PSOL, ou se a sigla irá produzir um novo bloco na Casa. Segundo ele, “uma disputa acirrada não é boa para os interesses do PT, muito menos para os interesses do governo”. Textualmente, afirma Odair Cunha: “Nessa tese de permanência, nós temos uma candidatura que significa a convergência dessas forças políticas, que é a do deputado Hugo Motta. Então, esse é um debate que está posto e vamos aprofundar. Estamos em processo de consultas”. O partido só deve bater o martelo depois do segundo turno das eleições municipais, marcado para 27 de outubro.