Nonato Guedes
Coincidindo com o fiasco da passagem por João Pessoa do ex-presidente Jair Bolsonaro, que já não empolga como antigamente, a primeira pesquisa da Quaest Consultoria, contratada pela TV Cabo Branco e divulgada na noite de ontem, referente ao segundo das eleições para prefeito, apontou que Cícero Lucena (PP), candidato à reeleição, segue na liderança com 58% contra 31% atribuídos ao seu oponente, o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga (PL). Esses dados se referem ao cenário de intenção de voto estimulado, quando o entrevistado é informado sobre nome e partido dos candidatos concorrentes no segundo turno. Os indecisos somam 2%, enquanto o percentual que votaria em branco, nulo ou não pretende ir votar é de 9%. No cenário de intenção de voto espontâneo, Lucena aparece com 52% contra 25%. Esse levantamento já mostrou o impacto dos apoios manifestados na segunda rodada, sobretudo os que foram declarados a Queiroga, como os do ex-candidato Ruy Carneiro (Podemos), do ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) e do senador Efraim Filho, do União Brasil.
Também é oportuno registrar que a “fotografia de momento” apresentada pela pesquisa Quaest já captou episódios policiais e judiciários que afetaram o “staff” de campanha do prefeito Cícero Lucena e que têm sido largamente explorados pelo candidato Marcelo Queiroga, quer no Guia Eleitoral, quer em debates ou sabatinas nos meios de comunicação, como parte da sua estratégia para tentar desqualificar o adversário e fazê-lo beijar a lona. Queiroga entrou no segundo turno exibindo uma postura triunfante por ter desbancado nomes como o próprio Ruy Carneiro e o deputado Luciano Cartaxo, do PT, que têm histórico de atuação na Capital paraibana, em antítese a ele, que somente agora faz sua estreia no processo político, na disputa de mandatos. Aliás, a pesquisa Quaest revelou que Queiroga é o mais desconhecido junto ao eleitorado, com percentual de 25%. No reverso da medalha, Cícero Lucena desponta com 65% de imagem positiva contra 3% negativo, o que traduz um “recall” favorável das gestões empalmadas à frente da prefeitura pessoense, bem como um grau de confiança da maioria do eleitorado com os compromissos assumidos para um eventual novo mandato, em parceria com o governador João Azevêdo (PSB).
No primeiro turno a Quaest divulgou três rodadas de pesquisa na Capital paraibana e Cícero Lucena oscilou mas em nenhum momento perdeu a vantagem ou a liderança nas intenções de voto, fator que indica uma posição consolidada com chances de vitoriar no pleito propriamente dito. Neste segundo turno, o ex-ministro Marcelo Queiroga partiu para a agressividade contra o atual prefeito e seus familiares, tecendo juízo de valor sobre fatos que ainda estão sendo apurados e que dizem respeito ao envolvimento com facções marginais que atuam em pontos estratégicos da Capital paraibana tentando influenciar no resultado das eleições. Se essa tática surtiu efeito, a impressão que resta é de que foi mínimo o impacto, o suficiente apenas para alavancar o nome de Marcelo Queiroga entre os eleitores anti-Cícero. Mas não houve indicativo de qualquer movimento mais intenso com potencial para provocar uma reviravolta excepcional no cenário de disputa em João Pessoa. A confusão decorrente da falta de opções levou figuras como o deputado Luciano Cartaxo, ex-candidato, a declarar neutralidade, enquanto o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), ambos do entorno do presidente Lula, liberou seguidores a votarem livremente na rodada decisiva. Esse posicionamento colidiu com o do diretório municipal do PT de João Pessoa, que tomou partido, engajando-se na campanha de Cícero, com o endosso do presidente do diretório estadual, Jackson Macedo, e do ministro das Relações Institucionais do governo federal, Alexandre Padilha.
O levantamento realizado pela Quaest Consultoria e divulgado na noite de ontem foi processado entre os dias 14 e 16 de outubro, com a efetuação de 852 entrevistas com eleitores de 16 anos ou mais. A margem de erro máxima para o total da amostra é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95% e o levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral com o número PB-07476/2024. O que se constata, conforme analistas políticos, é que Queiroga avançou dentro do teto que lhe estava reservado, levando-se em consideração as condições de temperatura e pressão da disputa eleitoral para prefeito de João Pessoa. Sem ter maiores vínculos com a Paraíba, posto que passou décadas atuando lá fora, o ex-ministro teve outro componente desfavorável no curso da sua trajetória: a falta de atenção ao seu Estado natal no período em que ocupou o Ministério da Saúde. Tem sido tão cobrado por isso que já se obrigou a dar constantes explicações no Guia Eleitoral e nos debates, com o argumento de que foi ministro de todo o Brasil e não apenas da Paraíba. Essa parte deixou dúvidas quanto ao compromisso verdadeiro de Queiroga com a solução de demandas urgentes da população, como ele tem alardeado na sua propaganda.
Sobre a visita do ex-presidente Jair Bolsonaro a João Pessoa, ontem, para “reforçar” o seu ex-auxiliar na Pasta da Saúde, com atuação polêmica em plena pandemia da covid-19, avaliações isentas indicam que o resultado esteve aquém das expectativas – seja porque o ex-mandatário já não monopoliza mais sozinho a direita conservadora no país, seja porque Queiroga não tem maior ligação com a Paraíba em termos de investimentos e de realizações mesmo tendo ocupado uma Pasta estratégica e de suma relevância. O tom de Bolsonaro, aliás, não foi tão enfático como esperavam seus aliados e apoiadores paraibanos. Ele chegou a afirmar que não veio a João Pessoa criticar candidato nenhum mas pedir votos para o seu candidato, que foi seu ministro e cuja competência exaltou. Bolsonaro tem preocupações mais urgentes, como derrubar a sua própria inelegibilidade e preparar-se para um possível confronto com Pablo Marçal, “cria” da direita hidrófoba que se expande pelo país e que, reconhecidamente, fez um estrago na disputa em São Paulo no primeiro turno este ano.