Nonato Guedes
O senador Veneziano Vital do Rêgo, dirigente estadual do MDB e um dos aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o político que mais se move ostensivamente na campanha eleitoral para prefeito este ano como estratégia para fortalecer o seu projeto de reeleição senatorial dentro de dois anos. No primeiro turno, ele apostou em candidaturas próprias do MDB onde isto foi possível e, em outros municípios, partiu para composição com outros partidos e líderes de quem se aproximou, independente de suas preferências – por Lula ou pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Assim é que, em Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, segue firme no apoio à candidatura do prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil), que tem viés bolsonarista e é reforçado por expoentes bolsonaristas como o senador Efraim Filho e o ex-deputado Pedro Cunha Lima, do PSDB. Em João Pessoa, optou por “liberar” filiados emedebistas a votarem em quem quiserem no dia 27 – seja em Cícero Lucena (PP), apoiado pelo PT local e pelo governador João Azevêdo (PSB), seja no ex-ministro Marcelo Queiroga, do PL, que é ortodoxo como militante da direita conservadora.
A decisão sobre a posição do MDB no segundo turno na Capital paraibana foi uma das mais difíceis que o senador Veneziano Vital do Rêgo enfrentou em sua trajetória. Em 2022, por exemplo, ele não teve dificuldades em dar combate ao governador João Azevêdo na campanha pelo Palácio da Redenção e atraiu, mesmo, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva para seu palanque. No segundo turno, quando João postou-se, com o apoio de Lula, à frente de Pedro Cunha Lima, Veneziano continuou apoiando Lula para a presidência da República contra Jair Bolsonaro mas, em termos locais, fechou com a candidatura de Pedro Cunha Lima. Plantou, ali, a semente de uma pacificação política histórica na cidade de Campina Grande com o “clã” Cunha Lima, que já havia enfrentado (e derrotado) em outras oportunidades, na disputa pela prefeitura. Do apoio a Pedro à aproximação com Bruno foi um passo – e esta posição foi entendida pelo líder Lula como tática de sobrevivência de Veneziano, que a esta altura fazia planos sobre como oxigenar uma candidatura a um novo mandato em um cenário que tem se tornado extremamente dinâmico na Paraíba nas disputas mais recentes.
Desde então, o foco de Veneziano tem sido o reforço do seu próprio projeto – e para isso ele tem recorrido a todo o seu repertório de habilidade ou jogo de cintura nas composições, às vezes contrariando aliados que recém-converteu à sua jornada. Em João Pessoa, nas eleições municipais de segundo turno este ano, Veneziano optou pela “liberação” do voto indo de encontro ao deputado Ruy Carneiro, a quem apoiou no primeiro turno mas que anunciou sua pronta adesão à candidatura de Marcelo Queiroga. A postura da “liberação” bateu de frente, também, com o voto em Queiroga declarado pela perita Amanda Mello, que o MDB indicou como vice de Ruy, do Podemos, no primeiro turno eleitoral. Mas Veneziano informou ter avaliado que no contexto da rodada decisiva do pleito em João Pessoa não poderia se compor com um candidato do governador João, muito menos com uma candidatura declaradamente bolsonarista. Afinal de contas, o senador do MDB, que é vice-presidente do Senado Federal, tem se colocado na linha de frente do combate ao bolsonarismo e se apresentado, na Paraíba, como interlocutor privilegiado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até pelo conhecimento e pela parcela de poder que detém na atual estrutura daquela Casa do Congresso Nacional.
Duas cadeiras ao Senado estarão em jogo no pleito de 2026 – a de Veneziano e a da senadora Daniella Ribeiro, do PSD, que em 2018 derrotaram nomes como o ex-governador Cássio Cunha Lima e o deputado federal Luiz Couto, do Partido dos Trabalhadores. Há a perspectiva concreta de oficialização da candidatura do governador João Azevêdo a uma vaga. Ele já foi firme e já recuou quanto a essa possibilidade mas ultimamente voltou a agitá-la, talvez atento a fatos novos da conjuntura política estadual, como a provável ascensão do deputado Hugo Motta á presidência da Câmara Federal pelo Republicanos. Lá atrás, Hugo foi lançado como alternativa senatorial em dobradinha com o governador João Azevêdo, mas o “clã” dos Ribeiro fez valer a manutenção da candidatura de Daniella para um novo mandato, e a parlamentar tem se empenhado prioritariamente com esse objetivo, confiante no apoio do atual chefe do Executivo. Com uma eventual saída de João para concorrer, o Executivo será ocupado pelo vice-governador Lucas Ribeiro, do PP, que é filho de Daniella e sobrinho do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, relator da reforma tributária na Câmara.
Veneziano trabalha com a projeção de que uma cadeira de senador poderá ficar sob o controle da oposição na Paraíba, reproduzindo tendência que tem se acentuado nas eleições mais recentes na história política estadual. Ele não tem definido, ainda, o nome do companheiro com quem fará dobradinha nas eleições de 2026 e acompanha com interesse a queda-de-braço entre o senador Efraim Filho e o ex-deputado Pedro Cunha Lima pela indicação de candidatura ao governo no campo oposicionista. Independente de definição sobre parcerias, Veneziano cuida da própria retaguarda, cortejando lulistas e bolsonaristas que tenham interesse em reconduzi-lo ao Senado da República, onde, inegavelmente, tem se projetado pela sua atuação competente no trato, inclusive, de grandes questões nacionais que ali são agitadas. 2024 é, indiscutivelmente, plataforma de lançamento do projeto de Veneziano para se manter na carreira política no futuro à vista.