Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (PSB) tem consciência de sequelas que ficaram das eleições municipais em primeiro turno na sua base de sustentação, devido à impossibilidade de conciliação de interesses em algumas regiões do Estado, mas está confiante em que poderá haver uma recomposição tendo como chamariz o projeto de poder para 2026. Ele já deixou claro, em entrevistas, que não acredita que o pleito municipal seja mais relevante, no contexto geral, do que as eleições majoritárias dentro de dois anos, ao próprio Executivo estadual, à vice-governança e a cadeiras no Senado Federal, além de vagas na Câmara. Aposta fichas na sensibilidade dos seus aliados, que se espalham por outros partidos, quanto à compreensão do caráter específico da disputa de 2024 e procura motivá-los fazendo acenos para prestigiamento do poder de plantão, que continua turbinado e aberto a parcerias que serão essenciais para o crescimento dos próprios municípios.
João Azevêdo lembra que ainda há dois pleitos decisivos aguardando um desfecho – a disputa em João Pessoa, onde o prefeito Cícero Lucena, do Progressistas, lidera com vantagem o páreo com o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, do PL bolsonarista, e o cenário em Campina Grande, onde o prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil) enfrenta o médico Jhony Bezerra (PSB), ex-secretário de Saúde do Estado. Em relação a Campina Grande, cabe observar que as projeções sinalizam a possibilidade de recondução do prefeito Bruno Cunha Lima, que conseguiu agrupar nomes como o do deputado federal Romero Rodrigues (Podemos) à sua campanha e aparece na frente em algumas pesquisas, mas os apoiadores do governador, diretamente envolvidos na refrega, avaliam que a ascensão de Jhony ao segundo turno deu fôlego ao esquema de Azevêdo, criando expectativas, por mais vagas que elas possam ser. Seja como for, o “staff” do governador já contabiliza maioria sobre os partidos de oposição no balanço das urnas do primeiro turno. Esse esquema é integrado, além do PSB, pelo Progressistas, PSD, Republicanos e por uma ala do Partido dos Trabalhadores que fechou no segundo turno com a candidatura de Cícero Lucena em João Pessoa, ignorando a neutralidade proposta pelo ex-candidato Luciano Cartaxo, que ficou em quarta posição.
O governador enfrentou problemas na sua base em municípios como Santa Rita, Cajazeiras, São Bento e alguns no Vale do Mamanguape, mas o governador insiste na opinião de que não havia como conciliar situações antagônicas ditadas pela realidade local, da mesma forma como não poderia se omitir na definição de apoio a candidaturas. Foi assim que, em Cajazeiras, o governador fez frente ao grupo do prefeito José Aldemir (PP) e da sua esposa, deputada Dra. Paula, ampliado pelo deputado Júnior Araújo, todos avalistas da candidatura vitoriosa da ex-secretária Socorro Delfino, que derrotou o médico Pablo Leitão, do PSB, lançado à última hora para substituir o líder do governo, deputado Chico Mendes, que foi declarado inelegível. Em Santa Rita, Azevêdo sinalizou com o apoio à candidatura do comunicador Nilvan Ferreira, do Republicanos, derrotada por Jackson Alvino, do Progressistas, apoiado pelo atual prefeito Emerson Panta e sua mulher, deputada estadual Jane Panta. Foram casos pontuais, que ocasionaram desdobramentos e ameaças de desalinhamento que ainda estão no ar.
A bem da verdade, houve municípios importantes em que o governador João Azevêdo abriu mão de candidatura própria para apoiar outros candidatos, mesmo em sociedade com políticos de partidos adversários. Isto se verificou, por exemplo, na cidade portuária de Cabedelo, onde o esquema oficial chegou a apostar fichas na pré-candidatura do ex-deputado Ricardo Barbosa (PSB), retirando posteriormente essa postulação e integrando-se à candidatura vitoriosa de André Coutinho, do Avante, reforçado pelo atual prefeito Vítor Hugo e pelos senadores Efraim Filho e Veneziano Vital do Rêgo. O cenário em Cabedelo, para 2026, projetou, no rescaldo das eleições municipais, a conquista de espaços por adversários do bloco de João Azevêdo, mas não deixou de abrir espaços para este, também. Houve demoradas negociações para acomodar interesses em certas localidades do interior paraibano tendo em perspectiva o embate eleitoral que iria ser travado, sem a correspondência consequente. Pela leitura do governo do Estado, nessas situações, era o peso da realidade local se impondo à própria conjuntura estadual, combinado com a radicalização paroquial que costuma ser intensa. Não havia o que fazer nesses casos.
As eleições municipais, via de regra, têm o condão de proporcionar um certo equilíbrio de forças entre esquemas políticos do governo e da oposição, por conta das peculiaridades de que se revestem. Na contabilidade que faz do pleito de 2024, o governo do Estado comemorou vitórias que foram conquistadas por candidatos de outros partidos, como Republicanos, PP ou PSD, que estão no entorno do oficialismo. A propósito de reclamações dentro do Progressistas, o próprio presidente estadual, ex-deputado Enivaldo Ribeiro, tomou a iniciativa de propor que fosse passada uma borracha nas divergências e que tivesse continuidade o projeto de poder que o governador lidera para manter a hegemonia estadual em 2026. A hipótese de candidatura de Azevêdo continua em aberto, porque ele ainda quer decantar melhor o saldo das urnas, juntamente com os espaços construídos para o futuro à vista. Até lá, investirá na ofensiva administrativa que, a seu ver, tem posicionado bem a Paraíba no ranking nacional dos Estados competitivos.