Nonato Guedes
Antecipando-se à disputa nas urnas, em segundo turno, prevista para o próximo domingo, as campanhas dos candidatos Cícero Lucena (Progressistas) e Marcelo Queiroga (Partido Liberal) já deflagraram uma espécie de terceiro turno em João Pessoa, travando embates na esfera judicial, mediante impetração de Aijes (Ações de Investigação Judicial Eleitoral) que reivindicam a cassação dos registros de candidaturas ou dos respectivos diplomas. Na Aije de Cícero, os advogados alegam abuso de poder político e econômico por parte do adversário, através da utilização indevida dos meios de comunicação. Conforme o teor da ação, durante o primeiro turno o ex-ministro da Saúde e candidato bolsonarista teria exagerado em peças publicitárias difamatórias. São mais de 50 processos cujas decisões foram favoráveis a Cícero, segundo ele. Apesar disso, Queiroga teria continuado a replicar acusações sobre supostas ligações da atual gestão da prefeitura com o crime organizado.
O tema chegou a ser explorado anteontem pela ex-primeira-dama do país Michelle Bolsonaro, mulher do ex-presidente Jair Bolsonaro, que veio cumprir agenda em prol de Queiroga em João Pessoa e fez referência a supostos atos de violência política na campanha que ora se desenrola. Da parte do candidato do PL, os advogados que protocolaram uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral questionam o registro da candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição e o possível diploma com base em conteúdo das investigações da operação Território Livre, insinuando, igualmente, abuso de poder econômico e político por parte do adversário, cuja defesa argumenta que já se manifestou no processo e acrescenta que, especificamente, o candidato não foi alvo de operação da Polícia Federal. Em certa medida, esse fogo cruzado não surpreende os analistas políticos e os eleitores dada a expectativa que vinha sendo alimentada sobre a possibilidade de judicialização da disputa em meio ao ambiente de radicalização que é respirado.
Há um consenso entre os analistas de que a Capital paraibana vive uma das mais radicalizadas campanhas eleitorais da sua história, pela virulência de ataques verbais e pela proliferação de acusações, ainda que não tenha descambado para incidentes de rua com agressões ou hostilidades e confrontos entre apoiadores dos dois candidatos que estão no segundo turno. A coligação do prefeito Cícero Lucena atribui agressividade ao candidato Marcelo Queiroga e ao seu vice, o pastor Sérgio Queiroz, que no Guia Eleitoral procuram incitar eleitores indecisos a votar “contra o domínio do crime organizado” no território pessoense. Esse tom tem sido massificado em cada pronunciamento ou intervenção feita pelos postulantes bolsonaristas na comunicação com os eleitores, obrigando o “staff” do candidato Cícero Lucena a oferecer seguidas respostas de defesa própria, com isto desviando-se o debate dos problemas da população e a apresentação de propostas ao eleitorado.
Queiroga tem sido considerado um “azarão” na disputa eleitoral em andamento este ano em João Pessoa. Ele faz sua estreia na atividade política, depois de ter sido ministro da Saúde no governo de Bolsonaro em plena pandemia de covid-19, quando sua atuação foi criticada por entidades médicas e organismos da sociedade civil. Quando iniciou sua campanha a prefeito, foi considerado pelos adversários como um “estranho” e um “desconhecido” perante a realidade local, pelo fato de que residiu muito tempo fora da Paraíba apesar de ter suas origens aqui fincadas. O ex-ministro tentou contornar essas dificuldades dizendo-se preparado para administrar a Capital a partir da sua experiência administrativa e do conhecimento sobre a natureza de questões estruturais. Em algumas sabatinas e debates de que participou, chegou a derrapar na abordagem mais segura de temas envolvendo o interesse público da população de João Pessoa e apelou para a estratégia de “dourar” a pílula com a apresentação de inovações que, conforme ele, mudariam radicalmente a paisagem da Capital, impulsionando-a para o crescimento em paralelo com a meta de um milhão de habitantes para a qual se encaminha.
Cícero Lucena, por sua vez, tem concentrado seu discurso na massificação das obras e investimentos que têm sido assegurados para João Pessoa, realçando, com ênfase, a importância da parceria que mantém com o governo do Estado, o que foi confirmado pelo governador João Azevêdo (PSB), seu principal apoiador, destacando projetos que já estão idealizados e recursos que foram garantidos junto ao próprio governo federal e a organismos financeiros internacionais para a promoção do “choque de crescimento” da Capital paraibana. No primeiro turno, marcaram presença, ainda, os candidatos Ruy Carneiro, do Podemos, e Luciano Cartaxo, do Partido dos Trabalhadores. O deputado Ruy Carneiro chegou a avançar na corrida, suplantando percentuais de Cartaxo, que já foi prefeito por duas vezes até 2020, mas ambos acabaram atropelados pela candidatura do médico Marcelo Queiroga, numa verdadeira reviravolta no processo eleitoral. As pesquisas continuam apontando vantagem do prefeito Cícero Lucena, mas Queiroga desenvolve na reta finalíssima uma ofensiva permanente para neutralizar a diferença expressiva mediante atração de eleitores indecisos. Em paralelo, recorre, agora, ao “terceiro turno”, no que é seguido, por medida de precaução, pelo seu adversário Cícero Lucena.