Nonato Guedes
A disputa pela prefeitura de Campina Grande nas eleições deste ano foi marcada por um ‘fator surpresa’ – a candidatura do ex-secretário de Saúde do Estado, Jhony Bezerra (PSB) pelo esquema do governador João Azevêdo, a qual venceu resistências e tornou-se competitiva a ponto de provocar um segundo turno contra Bruno Cunha Lima (União Brasil), que pleiteia a reeleição. A dúvida, a esta altura, é se a postulação de Jhony, um neófito em política, avançou o suficiente para imprimir reviravolta na reta finalíssima, destronando Bruno da liderança que tem sustentado. Algumas pesquisas cogitam a possibilidade de um empate técnico, mas analistas consideram que Cunha Lima ainda é o favorito. De qualquer forma, o acirramento que tem se registrado dá contornos dramáticos ao embate nas urnas no próximo domingo.
Havia a expectativa de que a novidade no páreo, na Rainha da Borborema, fosse uma candidatura do ex-prefeito Romero Rodrigues (Podemos), atual deputado federal, que até 2020 exerceu dois mandatos consecutivos no Palácio do Bispo. Esse cenário foi alimentado pela demora de Romero em firmar uma posição acerca da disputa, conjugada com acenos que o esquema do governador João Azevêdo lhe fez, através de deputados do Republicanos como o presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino. Em paralelo, Rodrigues cultivou por um bom período distanciamento da gestão de Bruno, não tendo participado das estratégias iniciais que tiveram participação direta dos senadores Efraim Filho, do União Brasil, e Veneziano Vital do Rêgo, do MDB. O apoio de Veneziano a Bruno, que tem viés bolsonarista, selou pacificação política com o “clã” Cunha Lima, onde o ex-governador Cássio ainda é voz ativa e respeitada, juntamente com seu filho Pedro, ex-candidato ao Palácio da Redenção em 2022. A incorporação de Romero à campanha foi ocorrendo de forma natural e culminou com o seu “aceite” para comandar a campanha no segundo turno.
Uma eventual vitória do médico Jhony Bezerra equivaleria a uma derrota da hegemonia dos Cunha Lima, em conluio com o grupo do senador Veneziano, que formou no palanque pelo interesse de obter apoios capazes de reforçar sua candidatura novamente ao Senado em 2026. A perspectiva de acertos de contas na campanha eleitoral elevou o grau de radicalização, que foi a tônica em debates de que participaram Bruno Cunha Lima e Jhony Bezerra. O ex-secretário de Saúde do Estado ganhou, também, no curso do embate, a pecha de “forasteiro” por suas origens no Ceará e dedicou boa parte do seu tempo para demonstrar que está engajado às coisas da Paraíba e, em particular, aos interesses da população campinense. O acordo para a acomodação de Romero Rodrigues envolveu a indicação, por este, do candidato a vice-prefeito na chapa de Bruno Cunha Lima, sendo escolhido o empresário Alcindor Villarim. O primeiro turno contou com candidaturas à direita, como a do empresário Arthur Bolinha, e à esquerda, como a do deputado estadual Inácio Falcão.
Fato significativo ou relevante na conjuntura, desde o primeiro turno, tem sido, inegavelmente, a presença constante do governador João Azevêdo no segundo colégio eleitoral do Estado. Apoiado pelos deputados do Republicanos, pelo vice-governador Lucas Ribeiro, do PP e pela senadora Daniella Ribeiro, do PSD, o chefe do Executivo desdobrou-se em agendas administrativas com repercussão política-eleitoral, levando obras e investimentos para a cidade e acenando com parcerias promissoras com o ex-secretário Jhony Bezerra na hipótese deste alçar ao comando da edilidade local. O tom empregado pelos aliados de João Azevêdo foi o da renovação, aludindo ao domínio por cerca de 30 anos de grupos políticos que se alternam na prefeitura. Esse discurso foi rechaçado por líderes como o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, para quem a continuidade de Bruno é benéfica para a Rainha da Borborema e auspiciosa para demandas que ainda não puderam ser concretizadas ao longo dos anos.
Dentro do esquema liderado pelo governador havia, ainda, a hipótese de lançamento da candidatura da senadora Daniella Ribeiro, que lá atrás concorreu ao cargo e foi derrotada. A perspectiva não evoluiu por desinteresse da própria Daniella, que passou a marcar posição defendendo sua candidatura à reeleição ao Senado em 2026. Com a hesitação do ex-prefeito Romero Rodrigues, o esquema de Azevêdo engendrou a “solução Jhony Bezerra”, que num primeiro momento não chegou a empolgar nem mesmo liderados do governante estadual, mas que gradativamente foi se impondo como tática legítima para fazer frente ao desafio de abalar a hegemonia dos que estão no centro do poder em Campina Grande. Pela importância estratégica da cidade, que já foi berço de governadores, Campina Grande desperta, juntamente com João Pessoa, as atenções de todo o Estado nesta reta decisiva, tendo em vista que por trás do confronto envolvendo Bruno Cunha Lima e Jhony Bezerra está a montagem de chapas majoritárias para as eleições de 2026, segundo admitem próceres políticos engajados na batalha.