Nonato Guedes
A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), comparou que a figura do líder Luiz Inácio Lula da Silva é “uma peça praticamente insubstituível nos quadros da legenda”, destacando que o presidente da República trata-se de um dos maiores políticos da história do Brasil. “Nacionalmente, uma liderança como Lula, não nasce por vontade da gente, ela é forjada na luta (…) Nós vamos levar muito, muito, muito tempo para ter uma outra figura como o Lula”, definiu ela, numa entrevista ao podcast Reconversa, do jornalista e colunista Reinaldo Azevedo. A parlamentar, que está se preparando para deixar a direção do PT, podendo vir a ocupar um ministério na gestão de Lula, tratou de quase todos os temas caros ao PT na disputa política e falou, também, da reconstrução e da renovação interna da legenda, fazendo questão de enaltecer a resiliência da militância nos períodos mais sombrios, especialmente a partir de 2014, ainda no governo de Dilma Rousseff.
Sobre renovação interna, Gleisi enumerou as principais lideranças regionais do PT, algumas com notório destaque, como é o caso da ministro da Educação, Camilo Santana (PT-CE), um fenômeno de votos no Ceará, e do próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A deputada mencionou a necessidade de eles “se forjarem nacionalmente”, explicando: “Eu não tenho dúvidas: daí vai sair o nome que, no futuro, vai substituir o Lula”. Mas preconizou que o presidente deve ser o candidato do partido em 2026. Sabe-se que, nas discussões internas, Hoffmann tem defendido a ascensão de um nordestino à sua sucessão no comando do Partido dos Trabalhadores, diante da liderança do partido nesta região. Essa tese, todavia, não é compartilhada por expoentes petistas, que teriam preferência pelo prefeito Edinho Silva, de Araraquara, São Paulo. “Eu acho que esses ministros nossos, que já tiveram experiência nos Estados, têm uma grande oportunidade para fazer isso, para fazer essa disputa política, entrar na disputa política, precisam fazer isso, era importante fazer. E a gente tem que incentivar”, acrescentou Gleisi, ao esclarecer como se desenvolve a renovação do partido.
Para ela, o impeachment de Dilma e a Operação Lava Jato serviram ao desgaste de imagem do Partido dos Trabalhadores, mesmo com Lula tendo liderado os dois mais bem avaliados governos da história do país, entre 2003 e 2010. Reconheceu que esse processo a que o partido foi submetido está longe de ser irrelevante, mas que não foi capaz de lhe arrefecer o espírito de luta, como queriam seus algozes em Curitiba, o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol. “Quando começou a denúncia do mensalão, já teve um desgaste grande, que afetou nossas lideranças nacionais (…) E aí, quando veio a Lava Jato, ali estava o epicentro: Moro era dali, as figuras eram dali, o discurso foi muito forte, foi uma coisa devastadora para nós, para a gente segurar aquilo. E isso influenciou o interior do Paraná, influenciou muito Santa Catarina”, admite a parlamentar, referindo-se à contaminação do eleitorado da região Sul pelo discurso extremista.
Gleisi fez um balanço das eleições municipais ainda em andamento, com o partido disputando o segundo turno em algumas capitais como Cuiabá, Fortaleza, Natal e Porto Alegre. A presidente do PT reiterou que as expectativas eram moderadas, embora tenha pontuado a recuperação do terreno em 2022 com a vitória de Lula pela terceira vez e, agora, em 2024, quando o partido conseguiu eleger mais prefeitos e vereadores que em 2020. “Onde a gente teve mais votos foi em 2012: 630 prefeituras. Nós ganhamos em São Paulo, então foi uma vitória muito retumbante, mas nós perdemos Belo Horizonte. Em 2016, a gente tem uma queda abrupta: não vai para o segundo turno em São Paulo, perde e faz 256 prefeituras. Então ali começou o nosso calvário. Aquilo já coincidia com o golpe do impeachment contra a Dilma e com o início da Operação Lava Jato. A situação do PT ficou muito difícil porque nós éramos “bandidos”, “ladrões”, a gente não podia sair na rua, prenderam um monte de gente. E aí culmina com a prisão do Lula, inclusive (…) E a mídia sempre forçando isso”, completou.
A dirigente do PT observa, no entanto, que o partido começou a dar sinais de recuperação já em 2018, quando o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conseguiu ir ao segundo turno das eleições presidenciais contra Jair Bolsonaro (PL) e obteve votação expressiva. Lula, que estava preso em Curitiba, foi impedido de disputar o pleito, de manifestar seu apoio a Haddad e até de conceder entrevistas. Nas corridas municipais de 2020, novas dificuldades se apresentaram ao PT – Gleisi conta que ninguém queria fazer alianças. “Nós éramos o patinho feio”. Ela lembrou que ao final daquelas eleições, em que o partido havia feito apenas 178 prefeituras, os críticos lhe anteciparam o fim na política. “É, desde 1980 que nós estamos mortos. Já nascemos mortos”, ironizou a parlamentar. Por fim, Gleisi Hoffmann defende que o Partido dos Trabalhadores não abra mão de suas causas históricas nas disputas políticas doravante. Criticou, ainda, as gritantes e persistentes desigualdades socioeconômicas no Brasil e a ausência de proteção para os trabalhadores, salientando que há bandeiras urgentes que o PT não pode deixar de empalmar na conjuntura brasileira.