Nonato Guedes
A eleição de 2024 para um novo mandato como prefeito de João Pessoa constituiu para Cícero Lucena, do Progressistas, o mais duro teste político da sua carreira, uma verdadeira odisseia diante do fogo cruzado impenitente de adversários políticos, de operações policiais que ligaram a gestão ao tráfico na Capital e da orquestração para descredibilizar sua imagem e a da sua família. Cícero venceu o tempo todo nas pesquisas de intenção de voto e na contagem das urnas, em primeiro e segundo turnos, demonstrando um potencial de liderança que o leva a assumir protagonismo no cenário paraibano, deixando de ser coadjuvante para figurar como ator principal ao lado de outros expoentes da conjuntura local. Quebrou recordes, tornando-se prefeito de João Pessoa pela quarta vez e deixando para trás quem tentou desafiá-lo, a exemplo de ex-prefeitos como Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo (PT) ou estreantes como o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, Marcelo Queiroga (PL), que dividiu o segundo turno com ele este ano.
A reabilitação política de Cícero é espetacular quando se leva em conta que ele estava afastado há quase dez anos da militância, período em que refez alianças táticas, abandonando parcerias antigas como as que cultivou com o “clã” Cunha Lima e firmando novos pactos, como o que fez com o esquema do governador João Azevêdo (PSB), uma revelação na história política recente da Paraíba desde que ganhou o Executivo em primeiro turno na disputa de 2018. Os adversários tentam minimizar a liderança de Lucena argumentando que ele foi vitorioso porque teve o suporte de duas máquinas – a do Estado e a do município, mas alguns desses adversários tinham o amparo de máquinas, como Luciano Cartaxo, e não conseguiram eleger sucessores ou transferir votos. O resultado de agora espelhou o grau de identidade entre Cícero e a Capital paraibana e, para além disso, o crédito de confiança depositado pela maioria do eleitorado, tanto na sua capacidade de avançar em termos administrativos quanto na perspectiva de comprovação de sua inocência diante de acusações violentas que lhe foram dirigidas durante todo o curso da campanha. Opositores de Cícero tentaram ganhar no grito, elevando decibéis de suas falas e encenando teatros de “santidade” que não comoveram o eleitorado nem ilaquearam a boa-fé das pessoas.
Por outro lado, os que se empenharam numa guerra desesperada, de vida ou de morte, para destruir Cícero a todo custo, fizeram dessa obsessão doentia sua bandeira primacial na campanha e, com isto, deixaram de discutir a gestão pública e revelaram-se incapazes de formular propostas inovadoras que sensibilizassem parcelas da população quanto a um choque voltado para o futuro, para a projeção estatística do hum milhão de habitantes em uma das mais antigas cidades do país. O prefeito, por sua vez, massificou não somente as obras e serviços que conseguiu implementar depois de adversidades como a pandemia da covid-19, que teve reflexos no funcionamento da própria atividade comercial, como, sobretudo, as obras e serviços que estão por chegar, com recursos já assegurados e com planejamento mais bem elaborado e com potencial para alavancar João Pessoa, aproveitando-se o bom momento que a Capital experimenta no ranking turístico nacional. Um exemplo da superioridade de Cícero no confronto com adversários em questões pertinentes à Felipéia de Nossa Senhora das Neves foi o naufrágio da tentativa de ex-prefeitos como Luciano Cartaxo de forçar um comparativo para tirar proveito. Cícero foi quem tirou de letra esse quesito.
A própria ascensão, no segundo turno, do ex-ministro Marcelo Queiroga, foi sintomática da tendência do eleitorado pessoense de testar uma opção nova mais uma vez, tal como se deu em 2020 quando o combate de Cícero no segundo turno foi contra Nilvan Ferreira (então MDB), também jejuno na disputa política. Nas duas oportunidades, a experiência e o compromisso de Cícero com a cidade foram fatores decisivos para dar-lhe a vitória, levando o eleitorado a não apostar no escuro ou a não dar um cheque em branco a candidatos que tatearam na discussão dos problemas e na solução dos desafios de João Pessoa, Capital em que Lucena tornou-se PhD por vivenciar, verdadeiramente, o seu dia a dia. Nos debates que foram travados à exaustão, era comum perceber o quanto Luciano Cartaxo parecia perdido sobre propostas, apesar de ter governado João Pessoa até 2020 e o quanto Ruy Carneiro parecia viver em outro planeta, tal como insinuado por Marcelo Queiroga. Todo esse conjunto abriu caminho para que Cícero Lucena investisse nos temas que mais uma vez o consagraram na preferência popular. Em meio a difíceis condições de temperatura e pressão, ele tinha o que mostrar e, sobretudo, tinha o que oferecer à população pessoense.
O compromisso, agora, à frente de mais um mandato, é redobrado – na direção do avanço pugnado pelo próprio Cícero Lucena em sua retórica de campanha. Ele deve à população a melhor de todas as suas gestões e igualmente deve a responsabilidade de repaginar sua imagem, desvinculando-a de ligações que em nada acrescentam à sua biografia – pelo contrário. Precisa ter um secretariado mais ágil, mais eficiente, a fim de proporcionar à população o que ela merece, bem como estreitar relações com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já que com o governador João Azevêdo a parceria indissolúvel segue mantida. Fala-se em Cícero, nos bastidores, como opção para eleições majoritárias em 2026. É cedo mas não é necessariamente tarde. Ele garantiu definitivamente seu protagonismo na mesa de decisões referentes a todo o Estado, podendo, até mesmo, mudar de partido para ter mais autonomia e para tornar-se uma liderança competitiva capaz de fazer frente a tantos que se julgavam vitoriosos e tiveram suas previsões frustradas. Como o ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSDB), que chegou a vaticinar que em Campina Grande o mote era a continuidade, mas em João Pessoa o trunfo era a renovação. Essa, Pedro perdeu.