Nonato Guedes
O prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, do União Brasil, emplacou sua reeleição ao cargo no segundo turno demonstrando vitalidade diante de “fantasmas” que eclodiram no curso da campanha e da mobilização ruidosa de um grupo oposicionista, liderado pelo governador João Azevêdo (PSB), que apostou fichas na candidatura de um estreante em política – o médico Jhony Bezerra, ex-secretário de Saúde do Estado, natural do Ceará. O investimento no nome de Jhony foi maciço, com presença constante do governador e de auxiliares na cidade, entregando obras e anunciando ordens de serviço, além de acenar com uma parceria proveitosa em prol da população campinense. Isto terá contribuído, seguramente, para viabilizar o segundo turno, no qual Bruno foi reeleito com 93,56% das urnas apuradas, o equivalente a 136.191, contra cerca de cem mil votos do adversário. Derrotado, Jhony disse que seu projeto político não foi cancelado, mas apenas adiado.
Com seu triunfo, Bruno manteve a tradição de hegemonia do esquema político a que pertence, cujo domínio à frente da prefeitura do segundo colégio eleitoral do Estado beira os 22 anos e passou por nomes destacados como o do poeta Ronaldo Cunha Lima e o do seu filho, Cássio, (este, três vezes prefeito, além de ter sido governador por duas vezes). Este ano, incorporaram-se à sua campanha o senador Efraim Filho, artífice do ingresso de Bruno no União Brasil, e o senador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB. As análises indicam que a vitória de Bruno em Campina Grande fortaleceu a ambição de Efraim de ser candidato ao governo do Estado em 2026, bem como o projeto de Veneziano de candidatar-se à reeleição ao Senado. O senador Efraim Filho não descarta o interesse de concorrer ao Executivo mas é cauteloso, evitando precipitar uma definição sob o pretexto de que há outros nomes no radar, como o do ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSDB), que foi derrotado em 2022, e o do deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos, que governou a Rainha da Borborema por duas vezes.
Romero, aliás, foi um dos “fantasmas” que gravitaram na órbita da candidatura do prefeito Bruno Cunha Lima à reeleição, diante do noticiário insistente sobre uma suposta nova candidatura dele ao Palácio do Bispo como é denominada a sede da edilidade local. O suspense alimentado durante cerca de um ano ganhou força com a postura ambígua de Romero, que se distanciou de Bruno e da sua administração e se declarou, reiteradas vezes, indefinido quanto a disputar ou não o executivo municipal. Para agravar o contencioso, houve um cerco intenso da parte de emissários ou de aliados do governador João Azevêdo, a exemplo do deputado estadual Adriano Galdino, do Republicanos, presidente da Assembleia Legislativa, que exortou Rodrigues a romper com Bruno e dar um grito de independência. Expoentes como Cássio Cunha Lima e o presidente estadual do PSDB, Fábio Ramalho, acenaram a Romero com apoio para uma candidatura a governador em 2026, no esforço para integrá-lo ao bloco e evitar sua defecção. O deputado acabou se definindo pelo apoio a Bruno e, no segundo turno, coordenou a campanha na reta decisiva.
No contraponto às vicissitudes enfrentadas, Bruno Cunha Lima buscou o reforço decisivo do senador Veneziano Vital do Rêgo, conhecido pelas suas ligações e afinidades com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para obter o “placet” com vistas ao livre trânsito junto a gabinetes de ministérios e órgãos do governo federal em Brasília, no périplo para carrear recursos e obras e, ao mesmo tempo, destravar pleitos que estavam engavetados nas esferas oficiais. Cunha Lima dependia crucialmente dessas liberações para dar partida ao processo de dinamização da sua gestão, que pareceu tolhida na entrega de resultados concretos ao povo campinense. Da força-tarefa em torno de Bruno participou ativamente, também, o senador Efraim Filho, que tem posição independente em relação ao governo do presidente Lula, no qual integrantes do União Brasil ocupam ministérios. Enfim, a estratégia de sobrevivência foi cimentada com cálculo e profissionalismo, dentro da filosofia de dotar o prefeito-candidato de instrumentos eficazes que pudessem pavimentar a sua recondução no confronto com um candidato que, apesar de desdenhado na largada, passou a ser respeitado no andamento da batalha eleitoral acirrada.
Já no calor da vitória, exorcizados todos os “fantasmas” que poderiam perturbar sua marcha, Bruno Cunha Lima sinalizou com reformulações no “modus operandi” no segundo mandato, não somente para harmonizar ou homogeneizar interesses de líderes e grupos que o apoiaram mas para viabilizar escala de produtividade que consagre o seu nome e a sua gestão na história de Campina Grande. Esta é a expectativa, também, dos segmentos do eleitorado que sufragaram o seu nome e renovaram o crédito de confiança na sua capacidade de levar adiante o processo de desenvolvimento de uma das maiores cidades do interior do Nordeste. Bruno Cunha Lima saiu da campanha à reeleição com potencial para influenciar decisivamente nas disputas estaduais em 2026, confirmando-se o prognóstico do senador Efraim Filho, que nunca duvidou dessa possibilidade, tanto que se empenhou nos bastidores para unificar as oposições ao esquema de João Azevêdo.