Nonato Guedes
O governador da Paraíba, João Azevêdo, e o prefeito reeleito do Recife, João Campos, concordam quanto às lições que as eleições municipais deste ano produziram, no sentido de mostrar o enfraquecimento da polarização ideológica e evidenciar a necessidade de uma comunicação melhor por parte dos líderes políticos com segmentos do eleitorado. Falando de São Paulo à rádio Arapuan, em meio a agenda administrativa cumprida nos últimos dias, o governador pontuou que o pleito não legitimou extremismos políticos, priorizando propostas de centro focadas em ações de resultados. De acordo com ele, é um recado que os líderes precisam assimilar e colocar em prática. João Campos, no programa Roda Viva, da TV Cultura, disse acreditar que houve um crescimento do centro e da centro-direita no Brasil e que a esquerda precisa fazer uma autocrítica. “É necessário que a esquerda entenda que sua forma de comunicação precisa mudar, mas que precisa ser consequência do que os candidatos realmente são. A direita tem uma maioria na presença nas redes sociais. Isso aproxima e a esquerda precisa ter essa leitura”, acrescentou. Campos e João Azevêdo são do PSB, sendo que o prefeito de Recife é um líder emergente com projeção nacional, cotado, inclusive, para concorrer à Presidência da República.
Na Paraíba, conforme a contabilidade do chefe do Executivo, partidos alinhados com sua liderança e projeto de governo obtiveram maioria no confronto com as oposições, inclusive, vencendo em João Pessoa, a Capital, onde o prefeito Cícero Lucena, do Progressistas, enfrentou intenso bombardeio de adversários, resvalando para o campo judiciário-policial. O entendimento do governador é o de que prevaleceu o reflexo do trabalho administrativo de Cícero, em parceria com a administração estadual, bem como a identidade do prefeito com as aspirações da cidade, sinalizando obras e serviços que possibilitarão concretamente as demandas de crescimento exigidas pela própria densidade populacional. “A aposta na continuidade foi um reconhecimento ao que se fez e ao muito que ainda pode ser feito”, traduziu João Azevêdo. Sobre Campina Grande, onde o candidato do PSB, Jhony Bezerra, foi derrotado por Bruno Cunha Lima (União Brasil), o governante ressalta que houve um avanço expressivo, a partir da realização de um segundo turno, contrabalançando hegemonia histórica de grupos políticos da Rainha da Borborema.
João Campos, que é filho do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, falecido em 2014 em acidente aéreo em São Paulo, quando estava em plena pré-campanha à Presidência da República, considera que as pessoas estão buscando políticos que mostrem ação e bom trabalho. Segundo ele, por conta disso, muitos eleitores votaram pela recondução dos antigos prefeitos. “Eu acho que essa eleição se deu no campo do trabalho. Há um crescimento do centro e da centro-direita e esse é um resultado que, a mim, não surpreende. Quem está em contato com a rua sentia que tinha uma tendência majoritária nesse sentido”, frisou. O prefeito foi reeleito em primeiro turno com uma das votações mais expressivas, proporcionalmente, em Capitais do país, e já descartou a precipitação de lançar-se ao Palácio do Planalto, chegando mesmo a dizer que tem compromisso com um novo mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sobre o enfraquecimento da polarização nas últimas eleições, afirma que a população “está mais desejosa de quem pode realizar no dia-a-dia”. E mais: “As pessoas querem saber o que funciona”. Para exemplificar o seu raciocínio, usou como argumento o fato de ele ter sido votado por muitos evangélicos em sua campanha à reeleição. Segundo ele, as pessoas usam a cidade e suas obras e não são resumidas ao fato de serem só evangélicas.
As candidaturas no Brasil, avalia o prefeito do Recife, são cada vez mais “estridentes”, mas as pautas que sensibilizam parcelas do eleitorado são mais objetivas ou consequentes, como espelho da nova realidade que está no radar nacional. Questionou, por isso mesmo, o alcance da candidatura lançada pela esquerda em São Paulo (PT-PSOL) representada pelo deputado federal Guilherme Boulos, mesmo com a constatação de que o eleitorado da cidade é bastante conservador. João Campos fez elogios à deputada federal Tábata Amaral, do PSB, que é sua namorada. “Eu diria que a Tábata fez a melhor campanha em São Paulo. No final, teve uma vitória política, saiu maior do que entrou. Foi vencedora dos debates e se mostrou como candidata e política. Para ganhar a eleição, era preciso ter a Tábata no segundo turno”. João Campos considerou as eleições da capital como “muito esquisitas”. O vitorioso foi o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, apoiado pelo governador Tarcísio de Freitas, do Republicanos, que enfrentou Guilherme Boulos, candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A corrida eleitoral contou, ainda, com a presença do ex-coach Pablo Marçal, que tumultuou o processo com acusações irresponsáveis e do jornalista José Luiz Datena, do PSDB, que ganhou visibilidade após atirar uma cadeira na direção de Marçal, em debate na TV Cultura.
Ao ser indagado sobre uma possível candidatura ao governo de Pernambuco em 2026, o prefeito João Campos alegou que é impossível fazer uma previsão sobre o que acontecerá daqui a dois anos, mas prometeu trabalhar ainda mais e melhor como prefeito do Recife e “fazer o dever de casa”. Tangenciou na pergunta sobre o sonho de ser presidente do país. Disse que apenas quer ser o melhor prefeito que Recife já teve e revelou que quando perdeu seu pai, Eduardo Campos, em 2014, aprendeu a viver um dia de cada vez. João Azevêdo comentou as candidaturas que já estão sendo lançadas à sua sucessão ao Executivo da Paraíba, observando que respeita as pretensões de quem quer que seja. Mas advertiu que a definição da candidatura ao governo terá que ser um processo de construção envolvendo diversas lideranças que integram o bloco governista, mediante avaliação criteriosa da conjuntura que estiver reinando lá na frente.