Ao reunir governadores em Brasília para tratar de ações conjuntas para a segurança pública, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um alerta, ontem, sobre o risco de o crime organizado se infiltrar perigosamente no poder público.
– O crime organizado hoje não é mais o bandido comum que a gente estava habituado a lidar. Hoje é uma organização poderosa, envolvida em todos os setores da sociedade, inclusive a nível internacional – destacou o petista em reunião no Palácio do Planalto.
O presidente convocou governadores, ministros e parlamentares para discutir uma proposta de emenda à Constituição que traz mudanças no regime de segurança pública do país. Sob coordenação do ministro Ricardo Lewandowski, da Justiça e Segurança Pública, o projeto foi apresentado às autoridades durante o encontro.
“Eu tenho tido uma preocupação com os concursos públicos porque, logo, logo, o crime organizado vai participar de concursos, vai indicar juiz, vai indicar procurador, político, candidato. Essa é uma coisa quase incontrolável se a gente não montar um pacto federativo que contemple todos os poderes da Federação, envolvidos direta e indiretamente nisso”, afirmou Lula.
O presidente abriu a reunião e ficou para ouvir as falas dos demais participantes, incluindo governadores que estão na oposição ao governo, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Ronaldo Caiado, do União Brasil, de Goiás. “A gente não vai resolver todos os problemas de segurança pública em apenas uma reunião. Lewandowski começa a reunião apresentando a proposta e a gente quer ouvir os governadores falarem de outros problemas da segurança pública”, continuou o presidente.
O petista ressaltou que na reunião não haveria censura ou impedimento para que os governadores se manifestassem. “Eu sei que cada governador tem os seus problemas, tem suas soluções. Mas o que a gente nota, efetivamente, é que o crime organizado está crescendo, as organizações nas cadeias estão crescendo. A gente ouve falar do Comando Vermelho, do PCC, e eles estão em quase todos os Estados, disputando eleições, elegendo vereador e quem sabe, indicando pessoas para utilizar cargos importantes nas instituições brasileiras”, concluiu o presidente.
O texto formulado pelo Ministério da Justiça propõe dar status constitucional ao Sistema Único de Segurança Pública, instituído em 2018, além de atualizar competências da Polícia Federal para permitir a atuação em combate a crimes ambientais, organizações criminosas e milícias privadas que tenham atuação interestadual. O projeto ainda altera as atribuições da Polícia Rodoviária Federal, ampliando o policiamento em ferrovias e hidrovias federais.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, se colocou contra a Proposta de Emenda Constitucional da Segurança que está sendo defendida. Representante do União Brasil, ele afirmou: “Sou governador de Estado, fui eleito pelo meu povo. Não vou botar câmera em policial meu de maneira alguma. Tenho que ter corregedoria séria, que não admita milícia. Não vou caminhar em uma situação como essa em que estamos aqui, a pagar salário e receber ordem do Congresso, da União, para dizer como vou me comportar em Goiás. É uma usurpação do poder, invasão de prerrogativa, que já está garantida a nós, governadores”, afirmou Caiado na reunião no Palácio do Planalto.