Nonato Guedes
Aos 35 anos de idade, exercendo seu quarto mandato parlamentar, o deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos, está aparentemente “ungido” como o futuro presidente da Câmara, na sucessão de Arthur Lira (PP-AL), ocupando um dos postos mais importantes na hierarquia de poder do país. Ele é expoente de uma bem-sucedida estratégia de convergência que degolou outros postulantes e que conseguiu unificar os extremos ideológicos – do PL de Jair Bolsonaro ao PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Remanescente de períodos polêmicos na Casa, como o que foi liderado por Eduardo Cunha, mentor do processo de impeachment de Dilma Rousseff e que lhe prestigiou sobremaneira, Hugo Motta aproximou-se de Arthur Lira e levou-o a imolar um nome “in pectoris” que vinha até então abraçando, o do deputado Elmar Nascimento, do União Brasil da Bahia. Nas últimas horas, as adesões foram ocorrendo em cascata ao nome de Motta, com referências elogiosas à sua capacidade conciliadora em meio a extremos ideológicos que se enfrentam na conjuntura nacional. Se não houver surpresa desagradável ou traição, sua sagração será confirmada.
Conforme uma reportagem do site “O Antagonista”, o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira (SP) é peça importante no tabuleiro da sucessão presidencial da Câmara dos Deputados, adotando estratégias certeiras que têm logrado minar a resistência de outros partidos. Ele havia se lançado, originalmente, como candidato do partido à cadeira de Arthur Lira mas recuou ao perceber resistências ao seu nome e indicou o líder na Casa, Hugo Motta, a quem deu carta-branca para dialogar com representantes das diversas tendências políticas e ideológicas. Mesmo desistindo de ser candidato, Marcos Pereira não perdeu protagonismo e intensificou as tratativas com os partidos, conseguindo a façanha de forçar um recuo de Arthur Lira nas suas preferências iniciais. A adesão à campanha de Hugo Motta por parte de legendas de direita e de esquerda repete proeza ostentada por Marcos Pereira ao comemorar seu aniversário em abril deste ano, agregando figuras carimbadas, inclusive, ministros do governo Lula e do Supremo Tribunal Federal.
Após lançar Hugo Motta candidato da legenda na Câmara o resultado não foi diferente daquele projetado pela articulação de Marcos Pereira, revela “O Antagonista”, lembrando que a coalizão deriva de uma estratégia conciliadora que é típica do dirigente do Republicanos, uma agremiação que compôs o governo de Jair Bolsonaro mas também emplacou o deputado Sílvio Costa Filho (PE) para o Ministério de Portos e Aeroportos no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pereira, em entrevista, destacou as qualidades de Motta, que fortaleceram o partido no caminho rumo à presidência da Câmara. “A eleição de Hugo será muito importante para nosso partido. Ele é um grande quadro que contribui muito com o desenvolvimento do Republicanos. Sua jovialidade, energia, aliadas à sua experiência, são fatores preponderantes para ele chegar onde chegou”, explicou. Perguntado sobre a influência de seu nome para as negociações, Pereira admitiu, sem pestanejar. “Sim. Todos dizem isso” (que sua credibilidade foi determinante para os apoios). E sobre a fórmula para unir diferentes partidos em torno de uma candidatura, respondeu: “Diálogo com transparência”. Foi a esse mantra que Hugo Motta se aplicou, detendo resultados auspiciosos na sua empreitada.
Especialmente nos bastidores, Hugo Motta tem operado com habilidade e de forma veloz, buscando interlocutores de peso que possam colaborar para pavimentar sua ascensão à presidência da Câmara dos Deputados. O portal “Metrópoles” informa que o parlamentar teve um encontro reservado com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no início de setembro, na sede do próprio Ministério, embora a conversa não tenha sido registrada na agenda oficial do atual chefe da equipe econômica do governo Lula. Hugo Motta foi levado para o encontro com Haddad pelo ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, que é filiado ao Republicanos e tem ajudado o candidato a vencer resistências dentro do governo. Na época do encontro já circulava, nos bastidores, a informação de que Motta tinha virado o candidato de Arthur Lira na disputa. O apoio, contudo, só foi oficializado pelo presidente da Câmara nesta semana. Após anunciar seu apoio a Motta, o próprio Lira também procurou Haddad nos últimos dias e prometeu votar a agenda econômica do governo até o final do ano em troca do apoio do ministro à candidatura do deputado paraibano.
Numa entrevista à Folha de São Paulo publicada ontem, o deputado Arthur Lira informou que a bancada do PT fez uma exigência para apoiar o líder do Republicanos, Hugo Motta, à presidência: uma vaga no Tribunal de Contas da União. Houve acordo e agora o partido indicará o próximo ministro da Corte de Contas, onde não tem assento, e que deverá ser presidida no próximo biênio pelo ministro paraibano Vital do Rêgo, irmão do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), vice-presidente do Senado. Duas vagas serão abertas até o ano de 2027 para o TCU com as aposentadorias de Aroldo Cedraz e Augusto Nardes. Os dois completam 75 anos respectivamente em 2026 e 2027, justamente durante uma eventual gestão de Hugo Motta na presidência da Câmara. Além da vaga no TCU pesou na decisão dos petistas o receio de ficar de fora da Mesa Diretora, caso eles endossassem uma candidatura de oposição à do atual presidente da Casa. O presidente Lula não se envolve diretamente no processo mas já deu sinal verde para o apoio do PT a Hugo Motta, que continua trabalhando com afinco para manter os apoios até à eleição, prevista para fevereiro de 2025.