Nonato Guedes
O vice-governador da Paraíba, Lucas Ribeiro (Progressistas), está sendo investido no exercício da titularidade por dez dias, substituindo a João Azevêdo (PSB) que passa a cumprir roteiro de descanso no exterior após a maratona política-administrativa deste ano, em que se engajou ativamente nas eleições para prefeito em diversas regiões do Estado. Para Lucas, a ascensão ao cargo, ainda que interinamente, tem um caráter simbólico especial: é uma espécie de “treino” para enfrentar desafios à frente do Executivo estadual, preparando-se para a eventualidade de ter que assumir efetivamente o comando da gestão no final do atual mandato, caso o titular se desincompatibilize nos termos da Lei para concorrer a uma vaga ao Senado nas eleições de 2026.
Como vice, Lucas – que é filho da senadora Daniella Ribeiro, dirigente estadual do PSD – está num lugar estratégico, na ante-sala do poder exercido por João Azevêdo, e tem a possibilidade de concorrer ao Executivo (no caso, à reeleição) caso se confirme o afastamento do titular para postular outro cargo. Essa circunstância cria uma situação de expectativa junto ao vice, pela duplicidade do desafio que encerra e pela habilidade política que precisa ter para construir tal possibilidade junto a grupos filiados a outros partidos, que estão no entorno ou na base de apoio ao atual chefe do Executivo e que também nutrem ambições focadas na ocupação de espaços e de protagonismo na disputa eleitoral de 2026. No Republicanos, por exemplo, o deputado estadual Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa, lançou-se com antecedência candidato ao Palácio da Redenção e tem reiterado esse projeto em diversas ocasiões, como um coroamento da sua trajetória na vida pública. Enquanto isso, dentro do PSB do governador João Azevêdo, lideranças políticas atuam para viabilizar uma candidatura que prolongue a hegemonia da agremiação nos quadros do poder paraibano, agitando-se com frequência o nome do secretário de Infraestrutura, Deusdete Queiroga, para liderar a chapa a ser constituída no moimento oportuno.
A posição do governador tem sido extremamente cautelosa diante de movimentos que não ignora mas que, de certa forma, avalia como precipitados. Recém-saído de uma dura campanha municipal, em que seu esquema contabilizou vitórias expressivas em redutos como João Pessoa mas também enfrentou revezes em colégios eleitorais influentes, como Campina Grande, onde triunfou o prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil) a despeito da ofensiva do adversário, Jhony Bezerra (PSB) que logrou arrastar a contenda para o segundo turno, João Azevêdo tem que resolver, com urgência e prioridade, o seu próprio dilema de se afastar ou não do governo para concorrer a uma vaga de senador. No seu círculo íntimo, as opiniões se dividem entre os que acham que ele deve se desincompatibilizar sem o receio de traições no curso da campanha e os que consideram que seria mais tático permanecer e, assim, comandar o seu bloco para uma vitória mais segura, reforçada pelos instrumentos de poder em mãos e pelo reflexo colateral das ações administrativas que, segundo se acredita, tendem a ser impulsionadas daqui para a frente, em sintonia fina com investimentos do governo federal e investimentos da iniciativa privada, aproveitando-se o momento favorável que a Paraíba experimenta, com finanças equilibradas e aporte de recursos.
João Azevêdo tem deixado claro que a estratégia para manutenção da hegemonia política do seu agrupamento em 2026 passa pela continuidade da união das forças políticas que até agora têm acompanhado a sua liderança, e pessoalmente defende que esse processo de união seja perseguido como um mantra pelos seus aliados, a fim de fazer frente a armadilhas do bloco oposicionista que, liderado pelos senadores Efraim Filho e Veneziano Vital do Rêgo e pelo ex-deputado federal Pedro Cunha Lima busca pescar em águas turvas, fazendo acenos a eventuais insatisfeitos com demandas pontuais não atendidas pela atual administração. Na prática, o governador ainda está processando a “decantação” dos resultados das eleições municipais de 2024 para aferir, concretamente, quantos estão engajados no esquema e quais os próceres que ameaçam vacilar nas suas convicções e alinhamento, podendo surpreender mediante composição com as forças oposicionistas, sequiosas por revanche nas urnas e pela perspectiva de enfeixar as rédeas do governo do Estado. Ciente desses detalhes é que o governador administra o relógio na base que comanda, aguardando, até mesmo, uma reestruturação dentro dos partidos para adaptação à dinâmica da conjuntura política que em 2022 resultou na sua recondução ao Executivo e em 2024 fortaleceu a representatividade do esquema em regiões estratégicas que compõem o mapa político estadual.
João está atento, igualmente, a fatores externos que se entrelaçam com o processo em andamento, a exemplo da perspectiva de eleição do deputado federal Hugo Motta, do Republicanos, para a presidência da Câmara dos Deputados, o que abrirá uma vaga na chapa majoritária estadual a ser formada para os próximos anos – afinal, Hugo chegou a ser pré-lançado, lá atrás, pelo próprio João Azevêdo, como alternativa ao Senado em dobradinha com ele, numa chapa que teoricamente seria competitiva também ao governo do Estado. Tudo está sendo analisado com paciência e profissionalismo político para evitar erros fatais que abraçam espaço para o crescimento das oposições. O vice-governador Lucas Ribeiro, que tem se portado com equilíbrio na missão de colaborar com a governabilidade, coloca-se como pretendente de forma natural, como consequência da posição a que foi alçado. Mas sabe que poderá ser remanejado para outras missões se a necessidade de sobrevivência do esquema impor outros desenhos e recortes ao panorama sucessório estadual. Até lá, ele vai se aprimorando no conhecimento da máquina administrativa estadual.