O Partido dos Trabalhadores (PT), partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assinou um manifesto em conjunto com outras siglas da base aliada do governo em que critica o corte de gastos elaborado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ainda a ser apresentada, a revisão das despesas se arrasta há semanas, mas tem conclusão encaminhada para os próximos dias. O manifesto critica os cortes aventados e a limitação de reajustes de programas sociais, como o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e o seguro-desemprego.
Outras duas áreas com possível restrição no pacote são saúde e educação. Há resistência de Lula, do PT e de legendas de esquerda que hoje apoiam o Palácio do Planalto. Um trecho do manifesto enfatiza: “Agora querem cortar na carne da maioria do povo, avançando seu facão sobre conquistas históricas como o reajuste real do salário mínimo e sua vinculação às aposentadorias e ao BPC, o seguro-desemprego, os direitos do trabalhador sobre o FGTS, os pisos constitucionais da saúde e da educação”.
O documento também aproveita para criticar o governo do ex-presidente Jair Bolsoinaro (PL). Questiona onde estavam os críticos do que considera ser uma “inexistente crise fiscal” quando a inflação esteve próxima a 12% em maio de 2022. “O poder financeiro, os mercados e seus porta-vozes na mídia agitam o fantasma de uma inexistente crise fiscal, quando o que estamos vivendo é a retomada dos fundamentos econômicos, destruídos pelo governo anterior. Onde estavam esses críticos quando Bolsonaro e Paulo Guedes romperam os orçamentos públicos e a credibilidade do Brasil?”, questiona o manifesto.
Aliado longevo do presidente Lula, o deputado federal Emídio de Souza, do PT-SP, foi um dos que criticou a rubrica do partido no manifesto. Segundo ele, o PT não pode ser oposição à própria gestão e “fazer de conta que não é governo nem desconhecer os claros limites do Orçamento público”. Declarou ainda: “Não é razoável que nossos dirigentes propaguem que as medidas ora debatidas no governo são desnecessárias ou que seriam apenas caprichos do mercado”. Emídio, que foi derrotado no pleito à prefeitura de Osasco (SP) neste ano, afirma que o partido pode e deve debater o governo, suas medidas e condutas, “mas jamais num clima de confrontação e muito menos na mídia”.
Contrária ao corte de benefícios, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, criticou jornais que, segundo ela, esperam “impor ao governo e ao país o sacrifício dos aposentados, dos trabalhadores, da saúde e da educação”. Acrescentou: “Podem até combinar com o neoliberalismo frenético do governo passado, mas não com o governo que foi eleito para reconstruir o país. Invertem a equação da economia real, que pede mais crédito e investimentos para continuar crescendo e ameaçam com mais câmbio, como se isso fosse trazer o tal equilíbrio fiscal e reduzir a inflação”. Segundo a deputada federal, o presidente Lula age com cautela, responsabilidade e tem resistido às pressões do mercado e de seus porta-vozes na mídia.