Nonato Guedes
Cacifado na eleição municipal deste ano com a reeleição do prefeito Bruno Cunha Lima em Campina Grande, ainda que no segundo turno, dando combate ao candidato Jhony Bezerra, do esquema do governador João Azevêdo (PSB), o senador Efraim Filho, dirigente do União Brasil, dispõe de credenciais para articular a unidade e o fortalecimento da oposição com vistas a confrontos decisivos que constam do calendário de 2026 como a disputa pelo governo do Estado, vice-governança e duas vagas ao Senado Federal com respectivos suplentes. Na verdade, Efraim tenta ser o arauto de uma revanche contra o esquema de Azevêdo, que completará oito anos no poder e já se movimenta nos bastidores para tentar sequenciar a hegemonia, com nomes ainda em fase de pré-lançamento. O próprio Efraim é cogitado como alternativa ao Executivo, num agrupamento que tem outros nomes como o do ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) e do deputado federal Romero Rodrigues (Podemos).
Conhecido na Paraíba pela bem-sucedida e antecipada estratégia que pôs em prática em 2022 e que assegurou-lhe cadeira de senador, Efraim ganhou respeito como articulador por ter saído da base de apoio do governador João Azevêdo, com quem decidiu romper, e ter se lançado ao Senado compondo a chapa de Pedro Cunha Lima e logrando a proeza de manter no arco de apoio da sua postulação o Republicanos, que estava fechado com João ao governo mas que agiu de forma independente ao Senado, cumprindo acertos de controle de redutos à Câmara Federal que estavam sob o domínio de Efraim. Foi uma ação classificada por Efraim como de “inteligência política” e que inaugurou um “modus operandi” na conjuntura política estadual, baseada no equilibrismo, no pragmatismo e no cumprimento de palavra empenhada. Em alguns círculos acredita-se que aquela engenharia arquitetada em 2022 dificilmente se reproduzirá em outros pleitos – e desde agora Efraim e expoentes do Republicanos se desentendem sobre quem deve a quem na relação, mas diante do dinamismo da política nenhuma possibilidade é descartada em meio a conchavos mais concretos que ainda vão ser firmados até a nova disputa propriamente dita.
Independente de vir a se entender ou não com partidos como o Republicanos, da base de Azevêdo, Efraim mira em defecções de deputados supostamente insatisfeitos no esquema do governador e aparentemente interessados em viver novas experiências no cenário local. Em paralelo, avalia os espaços porventura disponíveis para conseguir envolver forças da direita paraibana na composição da chapa majoritária que será sacramentada. Não é segredo para ninguém que o pastor Sérgio Queiroz, do Novo, que se destacou como candidato a vice-prefeito de João Pessoa na chapa liderada pelo ex-ministro Marcelo Queiroga (PL) continua obcecado pela ideia de candidatar-se novamente a uma vaga ao Senado, em 2026. Chegou a promover espécie de consulta informal entre seguidores que o acompanham em rede social e obteve receptividade animadora, já tendo inscrito um precedente no seu currículo, que foi o de ser o mais votado como candidato a senador em João Pessoa no pleito de 2022. Marcelo Queiroga, que surpreendeu positivamente ao avançar para o segundo turno como candidato a prefeito da Capital, é outro interlocutor que precisará ser auscultado, não só pela liderança que firmou como pelas ligações notórias que possui com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que veio pedir votos à sua pretensão.
O diálogo entre representantes da direita bolsonarista e adversários locais do governador João Azevêdo, também identificados com Bolsonaro, nem sempre foi proveitoso nos últimos pleitos na Paraíba, bastando lembrar a dificuldade de entendimento entre Pedro Cunha Lima e o comunicador Nilvan Ferreira, que foi candidato a prefeito de João Pessoa, a governador do Estado e a prefeito de Santa Rita. Mas Efraim tem consciência de que expoentes bolsonaristas são importantes para os próximos embates, quando ainda deverá se manter acesa a chama da polarização entre os discípulos do ex-presidente e os apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Se ficarem isolados em 2026, no “gueto bolsonarista”, Queiroga e Queiroz dificilmente irão longe nos seus propósitos, daí porque deverão considerar a hipótese de aproximação com os demais segmentos que fazem oposição a João Azevêdo e que, por via de consequência, têm aproximação com as bandeiras bolsonaristas no Estado da Paraíba. É essa a construção que o senador Efraim Filho terá o desafio de montar com habilidade para dar musculatura ao agrupamento oposicionista em solo paraibano.
A disputa de 2026 ao governo estadual prenuncia-se como bastante acirrada, justamente por causa do caráter de revanche que vem assumindo para figuras como Efraim Filho. Em tese, o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima seria o candidato natural para o Executivo tendo em vista a excelente performance que acabou conquistando no pleito de 2022, quando empurrou o confronto com João Azevêdo para o segundo turno e saiu com resultados triunfantes em João Pessoa, Campina Grande e cidades da região metropolitana. Mas é o senador Efraim Filho, agraciado com o mandato de senador, que está na crista da onda, fortalecido por vitórias pontuais nas eleições municipais de 2024, a mais relevante delas em Campina Grande com Bruno Cunha Lima. Efraim, que em 2022 popularizou a imagem do “foguete” na campanha ao Senado, tenta se reinventar ao governo do Estado em 2026 – e é fora de dúvidas que já está em campo, conduzindo negociações e projetando esboços de composições para infligir derrota espetacular a um esquema que quer prolongar sua permanência nos quadros de poder na Paraíba.