Nonato Guedes
Nos meios políticos, em Brasília, chama a atenção a desenvoltura com que o deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos, credencia-se na sua jornada para se eleger presidente da Câmara, sucedendo a Arthur Lira, do PP-AL, no pleito agendado para fevereiro de 2025. Ele segue em ‘marcha batida’ para virar o ano como candidato único ao comando da instituição. Ontem, o líder do União Brasil na Casa, Elmar Nascimento (BA), confirmou que não disputará a presidência e adiantou que ele e seu partido optaram por apoiar Hugo Motta. Esse movimento já havia sido antecipado por dirigentes do União Brasil nos bastidores e o próprio senador Efraim Filho (PB) chegou a sugerir que a desistência de Elmar seria a melhor alternativa diante da gama de adesões que Motta vem conquistando. Um outro provável candidato, Antonio Brito (PSD-BA), é dado, igualmente, como fora do páreo, depois de toda a articulação engendrada por Gilberto Kassab para emplacar o seu nome.
Na contagem que é feita, agora, o grupo de apoio ao parlamentar paraibano conta com 488 deputados, ultrapassando com folga os 257 votos necessários para uma vitória em primeiro turno. A candidatura de Hugo Motta, apoiadas por Arthur Lira, tem o respaldo oficial do PL, PT, PCdoB, PV, PSD, Republicanos, MDB, PDT, PSDB-Cidadania, PSB, Podemos, Solidariedade, PRD e Rede Solidariedade, permanecendo fora do bloco apenas o PSOL e o Novo. Trata-se de uma constelação monumental, avaliada como inédita no processo de eleição da Mesa da Câmara dos Deputados nos últimos anos. Hugo Motta, confrontado com a realidade que lhe é amplamente favorável, reforçou que sua candidatura é um grande sinal, para a política brasileira, de maturidade e de compromisso com um Parlamento que funcione, respeitando as diferenças. A musculatura do projeto de Hugo Motta está sendo alcançada num momento em que ainda persistem reflexos da polarização que passou a vigorar entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O favoritismo de Hugo Motta no referido cenário apenas contribui para reforçar a constatação de que ele soube construir a unidade no respeito à diversidade, tendo em vista que adversários ferrenhos ou declarados dentro do Congresso Nacional concordaram em formar ao seu lado na perspectiva de valorização dos espaços do Parlamento, que cada vez mais luta por influência nas decisões, inclusive, as que dizem respeito à definição do próprio Orçamento da União, com execução de competência da União. Tido como “cria política” do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que deu partida ao processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, Hugo Motta demonstrou habilidade para transitar junto a diferentes correntes do universo político nacional, o que, teoricamente, lhe assegura condições para executar uma gestão proativa à frente da Câmara, agilizando a pauta de matérias e projetos de interesse público e contribuindo para eliminar alguns gargalos que não só prejudicam a imagem do Parlamento como afetam a situação de governabilidade institucional no país. A postura equilibrada do deputado do Republicanos é apontada como elemento fiador da gestão de resultados que poderá imprimir quando estiver sentado na cadeira de presidente, integrando a linha hierárquica de sucessão presidencial.
A campanha de Hugo Motta avalia que o principal motivo para a demora no anúncio do apoio pelo União Brasil foi a posição de Elmar Nascimento, que enfrentou “processo doloroso” com repercussões pessoais em meio à tentativa de viabilizar candidatura. O baiano chegou a dizer que perdeu seu “melhor amigo” ao se referir ao presidente Arthur Lira, que num primeiro momento se inclinou pela sua candidatura mas depois recuou por entender que Hugo Motta aglutinaria mais apoios e, consequentemente, viabilizaria o consenso dentro do Legislativo. O União Brasil, na verdade, havia decidido em outubro fechar com Motta para garantir espaços estratégicos de poder na Câmara e evitar seu isolamento, todavia, o anúncio formal só foi efetivado agora, após o fim das negociações sobre os cargos que o partido deverá ocupar na estrutura legislativa no próximo ano. Nesse ínterim, Arthur Lira fez gestos de reaproximação com o deputado Elmar Nascimento, prestigiando-o ao indicá-lo para relatar emendas de iniciativa dos parlamentares. A expectativa é que o União Brasil comande a Comissão de Constituição e Justiça e assuma a segunda secretaria da Mesa Diretora. A relatoria do orçamento, outro cargo almejado, já está comprometida com o MDB.
A postulação de Hugo Motta começou a ganhar corpo, para valer, no âmbito da Câmara, depois que o presidente nacional do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), desistiu de ser candidato, ao constatar que seu nome enfrentava resistências em alguns partidos políticos. Foi por essa época que a pretensão de Elmar Nascimento se insinuou dentro do União Brasil, com intensa mobilização junto a políticos de vários partidos e com acenos de endosso pelo presidente Arthur Lira. Na sequência, Lira sentiu-se inseguro quanto à sua liderança e autonomia para conduzir o processo da própria sucessão e recebeu de Marcos Pereira a oferta para apoio à candidatura de Hugo Motta. A costura nesse sentido passou a se desenvolver em ritmo frenético e Hugo Motta encontrou-se com o presidente Lula e com o ex-presidente Bolsonaro, pedindo apoios para se eleger. Daí em diante, foi só deslanche, o que abre, de forma concreta, a possibilidade de candidatura única do parlamentar paraibano ao comando da Casa.