Nonato Guedes
O prefeito de Araraquara, São Paulo, Edinho Silva, amigo pessoal do presidente Lula e cotado para ser o próximo presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, tem feito duras críticas à atual dirigente, Gleisi Hoffmann, deputada federal pelo Paraná, que assinou um manifesto contra o pacote de cortes de gastos que está sendo montado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por determinação do mandatário. “O desejável é que a discussão tivesse sido internamente. Não acho que a Gleisi tenha de abrir mão de suas convicções, mas não pode enfraquecer o ministro da Fazenda. Isso é tirar força do próprio governo”, comentou Edinho numa entrevista à revista “Veja”, que foi considerada descortês por colegas de partido. Gleisi havia justificado que o manifesto não era contra o governo nem contra Haddad, mas, sim, contra a pressão indevida do mercado e da mídia sobre o Executivo.
Com 59 anos de idade e reconhecidamente candidato “in pectoris” do presidente Lula para suceder Gleisi Hoffmann no comando petista em 2025, o prefeito de Araraquara está em campanha, tendo falado a diversos órgãos de comunicação nos últimos dias, abordando a conjuntura e sua visão sobre os rumos da agremiação. Sua tarefa, segundo reportagem do “Poder360” é dar uma feição mais amena à legenda, escoimando a abordagem da esquerda que sempre tem destaque nos discursos de Gleisi, algo que é criticado por petistas de tendência mais social-democrata. A escolha do presidente do PT ocorre por eleição direta dos filiados ao partido em data ainda não definida, mas com previsão de disputa para o meio do ano de 2025. A dificuldade de Edinho será convencer a maioria dos filiados a abraçar a ideia de que o PT deve ter uma atitude mais flexível sobre temas que antes eram abjurados pela agremiação. Nesse caso, a condução da política econômica é um ponto que estará sempre no centro do debate.
Para Edinho Silva, “o equilíbrio fiscal não deve ser uma bandeira da direita ou da esquerda”. Ele emenda seu raciocínio dizendo: “Se você não equaliza o orçamento, cria um problemão financeiro no futuro. Uma parte do corte de gastos é conjuntural, imposta pelo momento que atravessamos, enquanto a outra é estrutural. Precisamos, por exemplo, refletir sobre o modelo previdenciário e as desonerações de impostos, que não podem durar “ad aeternum”. Importante frisar que nossos fundamentos econômicos são sólidos. Corrigir o rumo não é difícil”. Edinho Silva é considerado um dos petistas mais moderados entre os que têm relação direta com Lula, mas a sua atuação resultou num fracasso em sua própria base eleitoral agora nas eleições municipais de 2024. Depois de ter governado Araraquara por quatro mandatos, o predileto de Lula para presidir o PT não conseguiu eleger um sucessor. Edinho havia escolhido Eliana Honain, do PT para administrar a cidade que fica a 273 km da capital, São Paulo, mas ela ficou em segundo lugar na contagem final, atrás de Doutor Lapena (PL), apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Edinho foi derrotado mesmo com o apoio explícito de Lula e com um tratamento generoso de verbas por parte do governo federal – mas o fato é que o PT teve um desempenho ruim no Estado de São Paulo, sem conseguir atingir a meta de aumentar o número de prefeituras paulistas. Manteve apenas quatro municípios, mas acabou perdendo Araraquara e quase sumiu de regiões metropolitanas.
Falando ao jornal “O Globo”, Edinho atribuiu a derrota à presença de líderes bolsonaristas em Araraquara na reta final da campanha. “Nós conseguimos segurar a polarização aqui até a reta final da campanha, mantivemos o debate de propostas. Mas na última semana tivemos aqui o Nikolas Ferreira, a Michelle Bolsonaro, o Eduardo Bolsonaro, live do ex-presidente Jair Bolsonaro, vídeo do Bolsonaro. Nenhuma outra cidade do interior de São Paulo viveu isso. Eles trouxeram a polarização para a cena, com ataques misóginos contra a nossa candidata. E o eleitor indeciso migrou para o bolsonarismo”. Até o resultado das eleições municipais, era dado como certo que Edinho seria ungido, com apoio de Lula, à presidência do PT a partir de 2025. A derrota suscitou um levante interno no partido em prol de outros nomes. A ala ligada à atual presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defende que seja escolhido um nome do Nordeste e indicou o apoio nos bastidores ao deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do Governo na Câmara. A sucessão no partido ficou em aberto e com expectativa de ser definida apenas em meados do próximo ano, mas, apesar do movimento interno na sigla, Lula deve manter a preferência por Edinho Silva.
O provável futuro dirigente nacional do Partido dos Trabalhadores foi ministro da Secretaria de Comunicação de Dilma Rousseff. Em 24 de maio de 2024, o presidente Lula visitou Araraquara quase em um gesto de desagravo a Edinho, um de seus principais conselheiros. Na ocasião, o presidente disse que o correligionário é “o melhor prefeito do Brasil”. Durante ato em que anunciou obras de macrodrenagem e reurbanização de áreas afetadas por enchentes no município, Lula foi enfático: “Araraquara tem um prefeito que, se você pegar os 5.700 prefeitos que tem nesse país, você não vai encontrar nenhum melhor do que o companheiro Edinho, nenhum mais qualificado, mais preparado”. Silva é um dos poucos que têm acesso mais fácil e mais constante ao presidente – costuma ir regularmente a Brasília para se reunir com Lula, quase sempre em encontros fora da agenda oficial do presidente. A proximidade com o petista ajudou o prefeito a obter recursos para obras de infraestrutura contra enchentes em Araraquara em menos de 24 horas. Lula quer, no comando do PT, alguém com capacidade de articulação com outros partidos, especialmente os de centro-direita, para ampliar suas alianças em 2026, e Edinho é encarado como esse nome. Lula pretende se candidatar à reeleição, o que dependerá de fatores a serem analisados, incluindo a idade.