Nonato Guedes
O gesto do governador João Azevêdo (PSB), patrocinando um rodízio de poder entre o vice-governador Lucas Ribeiro (PP) e o presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino (Republicanos), no período de seu afastamento da chefia do Executivo para descansar da faina administrativa e da jornada eleitoral de 2024, traduziu ensaio do enredo da conciliação política entre grupos que compõem a sua base e que ele pretende fazer valer no processo de sua desincompatibilização em 2026 para, possivelmente, disputar uma vaga ao Senado. Numa entrevista que concedeu em cima dos resultados eleitorais deste ano, João Azevêdo falou claramente que as definições referentes ao projeto eleitoral de 2026 estariam condicionadas ao processo de “harmonização” das forças que seguem a sua liderança. Foi uma estratégia calculada para evitar assumir compromissos e desestimular conflitos antecipados, combinada com a necessidade de ganhar tempo para ajustar interesses no cenário de forma a não colaborar para o risco de desagregação e derrota lá na frente.
O governador tem consciência de que as oposições estão bastante motivadas para tentar vitoriar na revanche que perseguem desde a sua investidura no cargo em 2018 – e tem estado atento a defecções que já teve que enfrentar, como as dos senadores Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e Efraim Filho (União Brasil), que estreitaram a união com o grupo Cunha Lima para fazer frente ao esquema comandado por João. Todo o esforço que vier a ser feito, no bloco governista, portanto, é no sentido de não abrir a guarda para novas defecções decorrentes de insatisfações com pleitos não equacionados pelo chefe do Executivo ou pelos seus emissários credenciados. Acresce que na virada do ano para 2025 João Azevêdo tem a possibilidade concreta de vir a assumir o comando estadual do PSB, conforme desejo que expressou à direção nacional do partido, sendo esse projeto do conhecimento pleno do deputado federal Gervásio Maia, que por ora está à frente da agremiação mas já revelou que não será obstáculo a uma renovação. Encarapitado no comando do PSB, João estará fortalecido teoricamente para conduzir as negociações que levem a uma posição de favoritismo do seu esquema no confronto com os adversários.
O teste do rodízio entre Lucas Ribeiro e Adriano Galdino no exercício do poder foi importante para mostrar que há espaço de diálogo entre sócios de um projeto que possuem ambições próprias ou idênticas. Lucas chegou a lembrar que em caso de desincompatibilização de João ele estará alçado, naturalmente, à titularidade do cargo, podendo, daí, concorrer a um mandato que equivaleria a uma reeleição no Governo. Isto não significa que para se viabilizar candidato ao governo Lucas não tenha que se esforçar com vistas a atrair adesões dos outros aliados de João Azevêdo – pelo contrário, o processo demandará uma ampla e minuciosa costura que tenha o condão de acomodar a todos nos espaços que estiverem disponíveis, lá na frente, para ocupação na geografia do poder. Adriano Galdino já colocou ostensivamente na mesa a sua pretensão de se candidatar ao governo – e é certo que na interinidade agora assumida cumpriu agenda mais densa do que a do vice-governador Lucas, este limitado às inspeções de praxe do andamento de obras administrativas.
Mas do rodízio resultou, evidentemente, a “harmonização” de que fala o governador João Azevêdo, diante da postura de maturidade que foi demonstrada tanto por Lucas Ribeiro como por Adriano Galdino no ínterim das transmissões ocorridas com o titular já fora do país, no merecido descanso que se atribuiu. Nos bastidores, as divergências continuam latentes entre pelo menos três partidos da base de João – o PSB, o PP e o Republicanos, derivadas do entrechoque de posições hegemônicas na conjuntura paraibana, mas elas não afloraram em intensidade nem produziram desgaste no interregno de duas semanas da ausência do governador dos comandos estaduais. Houve como que uma espécie de trégua, até para possibilitar um objetivo maior e comum a todos os sócios do projeto – a continuidade das ações administrativas, sem o perigo de interrupções, dentro da própria compreensão de que a Paraíba vive um momento de redenção na sua história, com prestígio em cargos federais e com situação financeira equilibrada, além do deslanche de programas estruturantes pelos quais tem se empenhado a bancada federal em Brasília.
O governador João Azevêdo, no íntimo, está se preparando para a “Hora H”, ou seja, para o momento decisivo em que terá de resolver o dilema de permanecer no mandato até o último dia ou largá-lo no prazo legal para postular outros desafios, como o de concorrer ao Senado. Essa candidatura tem dividido o bloco de sustentação política do governante, não por contestação ao seu direito e à liderança para disputar os votos e assegurá-los, mas por visões táticas distintas sobre a fórmula ideal para garantir a hegemonia do esquema sem prejuízo da sobrevivência política do governador João Azevêdo. O cenário conflitante de opiniões é que tem provocado cautela por parte do chefe do Executivo, que se atém a outros fatos novos em vias de emergir como a provável eleição do deputado federal Hugo Motta, do Republicanos, para a presidência da Câmara dos Deputados. Haverá tempo para “processar” as análises e para tomar o melhor caminho – pelo menos é o que se diz entre interlocutores próximos do governador que esta semana retoma a titularidade do Palácio da Redenção.