Uma análise realizada pela Polícia Federal (PF), detalhada na Petição 12.100/DF, revela que o ex-presidente Jair Bolsonaro fez alterações e ajustes em um documento denominado “minuta do golpe”, um decreto com potencial para consolidar a ruptura democrática no Brasil. As informações surgem no contexto de mensagens enviadas por Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, ao General Freire Gomes, então comandante do Exército. Essas mensagens indicam que o ex-presidente esteve diretamente envolvido na redação do decreto golpista e buscou apoio militar para fazê-lo.
A investigação aponta que Bolsonaro, entre 7 e 9 de dezembro de 2022, intensificou reuniões e diálogos com líderes militares, incluindo o General Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, comandante do COTER (Comando de Operações Terrestres). Durante encontro no Palácio do Planalto em 9 de dezembro, Bolsonaro teve que formalizar o apoio do general, que sinalizou concordância com o plano desde que o decreto foi aprovado. No entanto, o General Freire Gomes, comandante do Exército, não teria aderido à proposta.
Além disso, mensagens recuperadas do celular de Mauro Cid reforçam que a operação para viabilizar o golpe já estava em andamento, com ações coordenadas para monitorar o ministro Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Essas ações incluíam planos para sua detenção ilegal e até a possibilidade de homicídios relacionados à chapa presidencial eleita
Em uma reunião realizada em 7 de dezembro de 2022, Bolsonaro e outros envolvidos apresentaram a minuta do decreto aos comandantes das Forças Armadas, acompanhados pelo então ministro da Defesa. Mensagens trocadas entre Mario Fernandes e Mauro Cid indicam que vídeos e materiais com conteúdo antidemocrático foram usados na tentativa de convencer o General Freire Gomes a aderir ao golpe.
No dia seguinte, Mario Fernandes relatou preocupações com os movimentos antidemocráticos que se espalhavam pelas ruas, mencionando o risco de perder o controle das manifestações, incluindo caminhoneiros e membros do setor agropecuário acampados em frente aos quartéis. Fernandes alertou que o golpe precisaria ser consumado antes do dia 20 de dezembro, quando o comando das forças armadas seria transferido para militares nomeados pelo governo eleito.
Os detalhes descritos pela PF estão embasados no Relatório de Análise de Polícia Judiciária nº 4401196.2023, que traz diálogos entre Mauro Cid, Bernardo Romão Correa Neto e Mario Fernandes. Essas comunicações confirmaram a articulação para um golpe de Estado, evidenciando tanto o planejamento quanto as dificuldades enfrentadas pelo grupo para consolidar o apoio necessário.
A minuta do golpe, que veio a público no início de 2023, causou grande repercussão nacional e internacional. A revelação de que Jair Bolsonaro teve papel ativo na redação e articulação para implementação do plano levanta sérias questões sobre o alcance de sua tentativa de interferência no resultado das eleições de 2022.