Nonato Guedes
O presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), qualificou como “extremamente preocupantes” as suspeitas de que militares tenham planejado um golpe com atentados contra a vida de autoridades brasileiras, a exemplo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. A nota oficial do Senado foi expedida após a prisão, em operação da Polícia Federal, de quatro militares e um policial federal dentro das investigações relacionadas a tentativas de golpe de Estado no Brasil após as eleições presidenciais de 2022. O general de Brigada Mario Fernandes, da reserva, e os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Rafael Martins de Oliveira, além do policial federal Wladimir Matos Soares, planejaram em 2022 o assassinato do presidente Lula e do vice Alckmin, que ainda não haviam sido empossados, além do ministro Moraes, que comandava o Tribunal Superior Eleitoral.
A nota do presidente do Senado declara, baseado nas investigações, que o grupo tramava contra a democracia brasileira em uma clara ação com viés ideológico. E o mais grave, conforme a polícia, esses militares e o policial federal tinham um plano para assassinar o presidente da República e o seu vice, além do ministro do Supremo. “Não há espaço no Brasil para ações que atentam contra o regime democrático e menos ainda para quem planeja tirar a vida de quem quer que seja. Que a investigação alcance todos os envolvidos para que sejam julgados sob o rigor da lei”, expressou o senador Rodrigo Pacheco. Essa manifestação do presidente do Senado refletiu, em certa medida, o sentimento dominante junto a diferentes segmentos da sociedade brasileira, de inquietação com os desdobramentos que vão tomando os acontecimentos relacionados à preparação de um golpe de Estado no país. No dizer de alguns parlamentares, vai ficando provado que não havia qualquer amadorismo da parte de pessoas ligadas ao governo anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na orquestração montada e que começou questionando a credibilidade das urnas eleitorais, passando pela dúvida sobre a imparcialidade do Judiciário na condução de eleições legítimas. O projeto era, mesmo, o da tomada do Poder pela via golpista.
A minuciosa investigação da Polícia Federal detalhou um complexo esquema golpista que articulava atentados contra lideranças políticas, manipulação da opinião pública e ações clandestinas lideradas por militares. Documentos revelaram que a operação incluía um plano para neutralizar fisicamente a chapa eleita em 2022 e minar a legitimidade das instituições democráticas, enquanto mensagens conspiratórias circulavam amplamente em grupos bolsonaristas para mobilizar a base e justificar uma possível intervenção militar. Em 9 de novembro de 2022, três dias antes de uma reunião estratégica na residência do general Walter Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Bolsonaro à reeleição e que foi derrotada, mensagens começaram a circular em grupos bolsonaristas de aplicativos de mensagens e Telegram. Uma delas sugeria que “a morte de Lula” poderia ser causada por envenenamento ou encenada como “morte forjada para fuga”. A mensagem incentivava os apoiadores a permanecerem acampados em frente aos quartéis e se organizarem para pressionar as Forças Armadas por uma intervenção. Uma das narrativas fazia parte de uma estratégia identificada nos documentos como “Linha de Operação Informacional”, cujo objetivo era disseminar desinformação, fomentar paranoia e desestabilizar a confiança nas eleições e nas instituições brasileiras.
De acordo com os documentos investigativos, o plano para atacar Lula e Alckmin foi denominado “Punhal Verde Amarelo” e a finalidade precípua era, a todo custo, neutralizar fisicamente a chapa eleita antes da posse, impedindo, assim, a ocorrência de uma transição democrática e abrindo espaço, consequentemente, para aventuras golpistas, com a consumação do movimento que teria a confirmação da liderança de Jair Bolsonaro. As investigações mostraram que o núcleo operacional contava com militares treinados em forças especiais, capacitados para conduzir operações clandestinas com alto nível de sofisticação técnica. Entre os métodos discutidos estava o uso de técnicas de monitoramento e possível execução por envenenamento, conforme relatado nas mensagens trocadas entre os envolvidos. As mensagens compartilhadas em 9 de novembro de 2022 são exemplos claros da estratégia de desinformação integrada ao plano golpista. Elas sugeriam cenários fictícios, como a morte de Lula por envenenamento da própria esquerda ou morte forjada para fuga, com o intuito de mobilizar apoiadores e gerar desconfiança.
Três dias após a circulação das mensagens, em 12 de novembro de 2022, lideranças militares e civis reuniram-se na residência do general Walter Braga Netto para dar seguimento aos planos golpistas, presentes Mauro Cid, Major Rafael Martins de Oliveira e Tenente-Coronel Rafael Ferreira Lima. Na reunião, discutiram a logística das ações, incluindo orçamento, recursos e recrutamento de participantes. Mensagens interceptadas pela Polícia Federal mostram que após o encontro os envolvidos começaram a planejar a execução prática do golpe – e um arquivo nomeado “Copa 2022” foi compartilhado entre eles, contendo estimativas de custos para transporte, alimentação e equipamentos necessários para a operação. Técnicas de anonimização, como a habilitação de linhas telefônicas em nome de terceiros, foram usadas para dificultar o rastreamento das comunicações. A combinação de desinformação em massa e operações clandestinas evidencia a gravidade do ataque planejado contra a democracia brasileira, como registra a grande mídia. O desvendamento de detalhes põe a nu uma trama insana que, se executada, chegaria a requintes de extremismo político – mas que, diante das evidências, já pesaria fortemente para uma decretação da prisão de Bolsonaro.