Nonato Guedes
Uma reportagem do UOL revela que o plano envolvendo militares para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes tem precedentes na história política brasileira recente. A matéria assinada por Andreza Matais lembra que em setembro de 1961 oficiais da Aeronáutica tramaram o abate do avião que levaria João Goulart de Porto Alegre para Brasília. O objetivo da denominada Operação Mosquito era evitar a posse de “Jango” na Presidência, com a vacância aberta pela renúncia do então presidente Jânio Quadros, que se disse pressionado por “forças ocultas” a deixar o cargo. No caso de Jango, a aeronave voou com as luzes apagadas e chegou à capital. O vice-presidente escapou da tragédia graças a oficiais legalistas que se recusaram a cumprir a missão recebida.
A trama havia começado no final do mês anterior, com a renúncia de Jânio Quadros. A cúpula das Forças Armadas foi incisiva contra a posse do vice-presidente, que estava em viagem oficial à República Popular da China. João Goulart sofria restrições por causa de suas posições à esquerda num ambiente de polarização acirrada que guarda semelhanças com a conjuntura vigente atualmente no Brasil. Jango foi para Montevidéu, de onde começou a negociar a sua posse. Ele, no entanto, teve dificuldades no diálogo com os chefes militares. A Operação Mosquito só foi revelada no período democrático. Naquele tempo, o golpismo das Forças Armadas mirou, também, o Supremo Tribunal Federal. O ex-ministro Celso de Mello lembrou, esta semana, que em 1963 uma insurreição de cabos, sargentos e suboficiais da Aeronáutica e da Marinha causou impacto na capital federal.
O então ministro do Supremo, Victor Nunes Leal, foi sequestrado e levado para a Base Aérea de Brasília depois que o Supremo decidiu tornar inelegíveis militares que haviam concorrido nas eleições legislativas do ano anterior. Surgida dentro da caserna, a Revolta dos Sargentos foi utilizada como pretexto pelos oficiais para acusar o governo Jango de quebra de hierarquia, inflando os ânimos. Os golpistas estariam entre os que ajudaram a derrubar o governo Jango três anos depois, em março de 1964. E os oficiais que não obedeceram às ordens de abater o avião do presidente da República foram expulsos da Aeronáutica, sem apelação ou direito de defesa. Outra figura política que teve dificuldades para assumir a Presidência, como relata o UOL, foi Juscelino Kubitscheck de Oliveira. A UDN, em especial, argumentava que JK não conseguira maioria absoluta dos votos nas eleições de 1955.
No entanto, o líder do PSD assumiu a Presidência por meio de uma ofensiva do general Henrique Teixeira Lott, que pôs os tanques nas ruas do Rio e derrubou Carlos Luz, que após o afastamento de Café Filho, assumira a Presidência e estaria tramando um golpe para evitar a posse do eleito. Uma vez no exercício do poder, Juscelino Kubitscheck voltou a ter problemas com os militares. Em 1956, oficiais da Aeronáutica sequestraram um avião e tentaram um movimento golpista a partir de Aragarças, em Goiás. Em 1959, voltaram a tramar contra o governo JK, quando tomaram a base de Jacareacanga, no Pará. Os golpistas acabaram sendo anistiados pelo próprio Juscelino. O UOL menciona: “A história mostra que todas as vezes que interferiram, por meio das armas e da violência, no processo democrático, os militares nunca foram banidos de fato. Até mesmo quando, na ditadura militar tentaram dar um golpe para derrubar o governo do general Ernesto Geisel. Em relação a Geisel, o “instrumento” para simbolizar o golpe foi o general Sílvio Frota, da linha dura, que ocupava o Ministério do Exército. Geisel agiu preventivamente chamando a Brasília comandantes militares para repassar uma “ordem unida” e exonerando pessoalmente o então ministro do Exército, que acabou no ostracismo do poder.
No que diz respeito à orquestração para assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, a estratégia tinha por objetivo manter no poder, de forma inconstitucional, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que nunca escondeu seu saudosismo do regime de arbítrio que foi instaurado em 1964 e expirou em 1985. Bolsonaro fez inúmeras pregações conclamando a um golpe de Estado a pretexto de dispor de poderes excepcionais para cometer arbitrariedades à frente do Palácio do Planalto. Ficaram notórias as declarações de Jair Bolsonaro com apologia ao Ato Institucional Número Cinco, decretado na ditadura militar, que impôs a censura à imprensa, bem como a cassação de mandatos de políticos e autoridades do Judiciário, favorecendo medidas de repressão contra opositores do regime. A revelação da nova conspiração militar no Brasil tem repercutido em todo o mundo e ocasionado manifestações de protesto. A expectativa é quanto aos desdobramentos que as investigações venham a ter sobre a sorte de Bolsonaro, que, por enquanto, permanece inelegível para a disputa de cargos eletivos no Brasil, mas conta até com suposto reforço externo para tentar voltar ao Poder.