Nonato Guedes
Em declarações recentes à imprensa paraibana, o deputado estadual Luciano Cartaxo, do Partido dos Trabalhadores, negou intenção de deixar a legenda, como chegou a ser especulado, mas não escondeu sua preocupação com a falta de perspectivas do PT no Estado, principalmente com relação às eleições de 2026. Até agora, enquanto diversos partidos já se movimentam em articulações sobre exame de alianças políticas e lançamento de candidaturas, inclusive, ao governo, o PT se mantém inerte e afastado do debate e das decisões. Na verdade, está fechado em copas, lambendo as feridas do processo eleitoral desgastante de 2024, sobretudo na disputa pela prefeitura de João Pessoa, quando foi empurrado para a quarta colocação, com uma votação ínfima atribuída a Luciano, que batalhou infatigavelmente para ser ungido candidato próprio, com o endosso do ex-governador Ricardo Coutinho.
A disputa interna que foi deflagrada na agremiação, com lances de confronto nada civilizado ou democrático, deixou sequelas, provocou a perda de espaços e, em certa medida, o isolamento do petismo na conjuntura política estadual, onde legendas como o PSB, Republicanos, União Brasil, PP e MDB atuam com desenvoltura, costurando ou ampliando espaços de poder. Com a iminência de uma candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição em 2026, o partido do presidente tende a deixar, mais uma vez, de ser protagonista na eleição majoritária estadual, vindo a reboque de outras organizações. Em 2022, ao invés de se aliar com o PSB do governador João Azevêdo, que é eleitor de primeira hora de Lula, o PT fechou chapa com o MDB em apoio à postulação do senador Veneziano Vital do Rêgo, que não avançou, sequer, para o segundo turno, distinção que foi conquistada pelo PSDB através do então candidato Pedro Cunha Lima. O PT improvisou o lançamento da candidatura de Ricardo Coutinho ao Senado, a qual foi batida nas urnas pelo candidato Efraim Filho, do União Brasil, como Veneziano foi derrotado ao Executivo por João Azevêdo na campanha da reeleição.
Nada indica que lideranças que comandam o PT paraibano, como o ex-governador Ricardo Coutinho, movam um passo na direção da abertura de entendimentos com o PSB para 2026. De sua parte, Veneziano está cada vez mais próximo do União Brasil e do grupo Cunha Lima, do PSDB, e trabalha com afinco a sua candidatura à reeleição, fechando acordos nos bastidores e buscando ampliar a correlação de forças que turbine o seu projeto, não descuidando de tentar atrair o presidente Lula para o seu palanque, já que vai estar plenamente engajado na estratégia do líder petista em busca de um novo mandato à Presidência. João Azevêdo, que também deverá apoiar a reeleição de Lula, articula-se com os segmentos que até hoje lhe têm dado sustentação, num arco que abriga líderes de esquerda, de centro e de centro-direita. Ele tem interlocutores no PSD (a senadora Daniella Ribeiro), no Republicanos (o deputado federal Hugo Motta), no PP (o vice-governador Lucas Ribeiro e o deputado federal Aguinaldo) e prepara-se para assumir o comando do PSB na virada do ano, ganhando condições para se impor naturalmente na legenda a que é filiado.
Cartaxo tem consciência de que a falta de perspectivas do PT paraibano decorre de uma série de erros que vem pontuando a trajetória do Partido dos Trabalhadores a nível local e que se refletiram, em toda a sua agudeza, nas eleições municipais deste ano. A disputa interna que ele encabeçou pela indicação de candidatura a prefeito da Capital contra a deputada Cida Ramos, que detinha o apoio da maioria dos expoentes de tendências petistas e a receptividade de segmentos ativos da sociedade, acabou produzindo um dos mais pífios desempenhos da legenda na história política pessoense, que não se comparou nem mesmo à atuação do partido nos seus primórdios, quando passou a se estruturar na década de 80. Depõem contra o definhamento do Partido dos Trabalhadores a falta de oxigenação interna, na própria discussão que antes era uma característica, até dogmática, da legenda, e o desrespeito à democracia interna, de que foi exemplo a imposição da candidatura de Cartaxo a prefeito à revelia de prévias internas e da busca de consenso. O resultado foi que os petistas derrotados pela intervenção da direção nacional cruzaram os braços na campanha de Luciano, embrenhando-se por cidades do interior na tentativa de manter viva a estrela vermelha, que, no entanto, não reluziu forte em cidades importantes da geografia estadual.
A cúpula nacional, presidida pela deputada Gleisi Hoffmann, do Paraná, e assessorada pelo senador Humberto Costa, de Pernambuco, presidente do Grupo de Tática Eleitoral do Partido dos Trabalhadores, não deu maior atenção à candidatura própria a prefeito de João Pessoa, praticamente terceirizando responsabilidade para o ex-governador Ricardo Coutinho que se expôs como “grande condutor” da legenda, apesar do desgaste provocado por denúncias de envolvimento com a Operação Calvário. Cartaxo, que foi prefeito duas vezes, tendo migrado do PT para legendas como o PV e o PSD, confiava em “recall” positivo de sua imagem para voltar ao Paço Municipal, mas acabou contribuindo, indiretamente, para que um bolsonarista, o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, avançasse para o segundo turno contra o prefeito Cícero Lucena (PP), que foi reeleito. Um resultado decepcionante que não motivou, sequer, autocrítica imediata sobre os rumos da legenda, o que está sendo feito agora por Cartaxo, no que parece uma tentativa desesperada para reconectar o partido com as bases ou a militância e tentar dar-lhe sobrevida mais efetiva para os próximos embates. Um prognóstico que é duvidoso para Cartaxo, e também para os líderes influentes do PT que acompanham a derrocada da legenda lulista no Estado.