Nonato Guedes
Ficou patente, na última quinta-feira, que o Palácio do Planalto trata o deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos, como um dos fiadores da aprovação, naquela Casa Legislativa, do pacote de ajuste fiscal e corte de gastos anunciado enfaticamente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad e que constitui um conjunto de medidas polêmicas, demandando exaustiva negociação, principalmente, com parlamentares da bancada oposicionista. Naquele dia, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com Hugo Motta e outros líderes partidários na Câmara, a quem apelou por empenho para um resultado favorável no Parlamento. O parlamentar paraibano foi tratado na dupla condição de líder do Republicanos e de candidato favorito à presidência da Câmara, na sucessão de Arthur Lira (PP-AL), que deverá ser deflagrada em fevereiro de 2025.
A mídia nacional registrou que o deputado Hugo Motta recebeu destaque na reunião com o presidente Lula, de que participou outro paraibano, o deputado Gervásio Maia, do PSB, e que o mandatário sinalizou contar com o engajamento ativo do republicano, desde agora, para garantir a aprovação das propostas no Congresso. Trata-se de uma aposta na articulação política de bastidores, diante dos sinais de resistência ao pacote por parte de alguns parlamentares da própria base governista. Pelos cálculos de Arthur Lira, atual presidente da Câmara, e de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, haverá um esforço concentrado para a aprovação ainda este ano, a fim de que o Executivo possa dar partida a mecanismos do chamado arcabouço fiscal que envolvem questões cruciais da economia brasileira e do interesse do mercado, além de reflexos para a sociedade como um todo. Um interlocutor próximo ao presidente da República afirmou ao jornal “O Estado de São Paulo”, a propósito: “O Hugo Motta é peça chave para assegurar a estabilidade e o equilíbrio necessário na Câmara, e o governo confia na sua habilidade de diálogo e liderança para conduzir as negociações”. O ambiente da reunião foi descontraído, apesar da seriedade do assunto e Lula, em tom de blague, sugeriu que os parlamentares trabalhariam “até o Natal” para aprovar as medidas.
Na verdade, o fator decisivo para celeridade na apreciação do pacote e sua consequente aprovação é mesmo o ambiente político verificado entre o Palácio do Planalto e a Câmara dos Deputados, considerado sólido por eminências do governo, como o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que se confessou impressionado com a receptividade à Proposta de Emenda Constitucional e ao Projeto de Lei Complementar que são eixos de sustentação das mudanças. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em repetidas entrevistas e logo no pronunciamento que fez em rede nacional de televisão, definiu o pacote como necessário para controlar os gastos públicos e ajustar o orçamento para o próximo exercício, figurando, entre as medidas, cortes em áreas estratégicas e um plano de ajuste fiscal teoricamente mais brando que o inicialmente proposto, considerado menos impopular e mais viável para aprovação no Congresso. O ministro Haddad justificou que a demora na divulgação das medidas deveu-se à estratégia governamental para adequar sugestões à situação de realidade orçamentária com que o Planalto trabalha para 2025, visando evitar cenários de descontrole que chegaram a ocorrer no governo de Dilma Rousseff.
O tratamento que o presidente Lula vem dispensando ao deputado paraibano Hugo Motta é analisado nos meios políticos em Brasília como indício de que a vitória dele na sucessão de Arthur Lira já é considerada como praticamente certa, em virtude dos apoios que ele agregou e do trabalho de articulação que levou-o a conseguir a desistência do deputado Elmar Nascimento, do União Brasil da Bahia, que era, em princípio, um forte concorrente, bem como desidratar a pretensão de candidatura do deputado Antonio Brito, do PSD da Bahia, que foi respaldada pelo presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab. Motta só não terá a unanimidade na votação da Câmara dos Deputados porque o Psol lançou nos últimos dias a candidatura do deputado Pastor Henrique Vieira à presidência. Henrique, que também é ator e poeta e está em seu primeiro mandato como deputado, tendo integrado a CPMI que investigou os atos golpistas de 8 de janeiro. A candidatura do Pastor é avaliada como “simbólica” para marcar o desejo do seu partido de ocupar espaços na Mesa Diretora, mas, independente de ser mantida, não ameaça o favorito conquistado pelo representante do Republicanos da Paraíba. Henrique Vieira chegou a declarar que, se fosse eleito, não haveria anistia para quem “tentou um golpe contra a democracia”, pois entende que por um triz não houve uma ruptura institucional no Brasil. “Não é exagero ou sensacionalismo. Estranha-nos o presidente da Casa e o seu indicado não tratarem do arquivamento da proposta de anistia”, afirmou, cutucando Arthur Lira e Hugo Motta.
Sobre a questão da anistia, o assunto vem sendo conduzido com habilidade pelo deputado alagoano Arthur Lira, de forma a não vinculá-lo ao processo de eleição do seu sucessor no comando da Câmara Federal. Lira tem mesmo poupado Hugo Motta de maior envolvimento nas discussões a respeito para não se incompatibilizar com deputados bolsonaristas e, por conta disso, perder votos preciosos, especialmente dentro do PL, que detém a maior bancada na Câmara. Na prática, porém, Hugo Motta já ensaia passos para enfeixar o comando da instituição – e foi sintomática a sua participação nas discussões sobre o pacote econômico e fiscal, cujos desdobramentos vão se estender pela próxima legislatura quando Lira já não será mais o dirigente.