Nonato Guedes
Embora aparente sinais de que, pessoalmente, só se sente inclinado a discutir as eleições de 2026 em 2026, diante da distância que ainda demanda para aquele confronto, não se descarta nos meios políticos que o governador João Azevêdo (PSB) possa abreviar, pelo menos, a tomada de decisão sobre sua permanência ou não no Executivo até o último dia do mandato ou, alternativamente, sobre a desincompatibilização como passaporte para concorrer a outro mandato eletivo, que seria uma vaga ao Senado. O que se alega, até entre aliados fiéis do chefe do Executivo, é que dificilmente ele conseguirá ser o “senhor absoluto” das definições, não obstante a incontestável liderança que exerce sobre um agrupamento político distribuído por siglas variadas. Prevê-se a emergência de fatos novos decorrentes da realidade que cada partido vive e do multifacetado cenário de interesses e ambições que se agitam nos esconsos das organizações partidárias, com precipitações de lançamentos e ensaios de costura de alianças, compondo situação que pode fugir ao controle do governador no momento em que este julgar que está sendo chamado irremediavelmente à colação para dar as coordenadas do jogo.
Os obstáculos que eclodiram para a campanha majoritária de 2022 estão bastante nítidos no imaginário dos líderes políticos paraibanos, ensejando reflexões e todo o tipo de ilações atinentes à conjuntura vindoura. O excesso de confiança reinante no “staff” de João para a referida campanha possibilitou que figuras como Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e Efraim Filho, do União Brasil, rompessem com o governo e tomassem o rumo da oposição quando o processo já se mostrava adiantado e ambos já abriam setas para a oposição – Veneziano impondo-se, afinal, como candidato a governador com a proeza de ser o primeiro voto do futuro presidente Lula na Paraíba e Efraim chutando o pau da barraca no oficialismo e abraçando uma candidatura que vinha florescendo nos bastidores – a do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) ao Executivo. Efraim, nesse contexto, abocanhou apoios para concorrer à vaga de senador, lançando a mídia do “foguete que não dá ré” num momento de fragilidade do grupo de João, que se debatia com a resistência de Aguinaldo Ribeiro em enfrentar o Senado, o que levou os Ribeiro a indicar Lucas para a vice na chapa do socialista.
O fator marcante ou decisivo das eleições de 2022, constituindo-se em evento inédito na história política da Paraíba, estava por vir: foi a manutenção do apoio simultâneo do Republicanos à candidatura de João Azevêdo à reeleição e à recém-lançada candidatura de Efraim Filho ao Senado pela oposição, o que enfraqueceu a unidade do projeto e prejudicou as pretensões da ex-deputada Pollyanna Dutra, ungida na undécima hora para suprir o vácuo gerado pela desistência de Aguinaldo Ribeiro. Conquanto tenha tido votação expressiva, nas condições de temperatura e pressão, Pollyanna quebrou a lógica de vitória da chapa-casada no pleito majoritário estadual, assistindo, descompensada, à consagração de João tendo na outra extremidade o então deputado federal Efraim Filho. O Republicanos entrou nesse jogo, indiscutivelmente, como fiel da balança, credenciando-se, também, pelo cumprimento da palavra empenhada, num raro exemplo de autonomia registrado na crônica das eleições no Estado. Foi com esse trunfo simultâneo – ainda que enviesado e politicamente incoerente – que o Republicanos engrossou a musculatura, hoje amplamente reforçada com a recondução de Adriano Galdino à presidência da Assembleia Legislativa, superando acidentes de percurso, e com a perspectiva iminente de sacramentação do deputado Hugo Motta para a presidência da Câmara Federal. Atento a essas mudanças, Adriano tem se apresentado como pré-candidato ao governo, o que mexe possivelmente na equação original que supostamente João Azevêdo vinha ensaiando.
A verdade é que o governador esperava dispor de uma trégua maior para se refazer de embates acirrados e consecutivos que enfrentou nos últimos anos na Paraíba – em 2022, testando sua própria capacidade de alcançar a recondução, em 2024 atuando no papel de cabo eleitoral das eleições municipais com a missão de fortalecer significativamente o seu esquema no cotejo com agremiações de oposição. Esse quadro ficou balanceado na correlação de forças, ainda que o PSB e outros partidos da base governista tenham elegido o maior número de candidatos a prefeito nos municípios. De resto, cada eleição é uma eleição, com suas peculiaridades – e um exemplo do balanceamento de forças nas eleições municipais foi a manutenção da prefeitura de João Pessoa com o esquema do governador e a hegemonia da oposição no controle da prefeitura de Campina Grande, segundo colégio eleitoral, mediante reeleição do prefeito Bruno Cunha Lima, que foi admitido com honras no União Brasil pelo senador Efraim Filho, interessado em multiplicar seus espaços de poder na geografia estadual, em aliança com o “clã” Cunha Lima e com segmentos bolsonaristas que combatem, a nível local, tanto o governo de João Azevêdo como a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em todas as bolsas de apostas que já começaram a ser ativadas ainda este ano na Paraíba, para as eleições de 2026, a grande incógnita é a decisão do governador João Azevêdo sobre seu futuro político. Ficar no governo e não dispor de um mandato político é o seu grande dilema, por mais que ele tente minimizar a extensão do drama. 2018 ainda está bem vivo na memória, com a autossuficiência de Ricardo Coutinho em permanecer até o último dia de mandato e não disputar o Senado, como se esperava. Sem imunidade e rompido com João, em cujo governo queria mandar, Ricardo enfrentou os dissabores da Operação Calvário e tentou voltar pelo voto ao poder, perdendo para a prefeitura de João Pessoa e, adivinhem, para o Senado. A decisão sobre o futuro de João é pessoal e intransferível – para o Bem ou para o Mal, este é um ponto. O outro ponto é que os aliados não querem atrelar sua própria sobrevivência aos planos que povoam a cabeça do governador, porque em política o tempo urge a qualquer tempo e o poder só atrai adesões se tiver, realmente, o que oferecer, como já ensinavam as antigas raposas políticas de Minas Gerais. O poder que não pode não tem atrativo nem é chamariz para ninguém – nem mesmo para o contínuo do Palácio.