Nonato Guedes
O deputado federal e ex-presidenciável Aécio Neves voltou a ganhar evidência política no cenário nacional, depois de ter “submergido” por um bom período em meio ao seu próprio desgaste pessoal. Agora, é considerado um dos principais articuladores tucanos na Câmara dos Deputados, conforme matéria do UOL, e empenha-se em atrair forças políticas de centro para dar combate ao PT e seus aliados. Governador de Minas Gerais por dois mandatos e ex-presidente da Câmara, Aécio considera que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um líder “ultrapassado” para a conjuntura de 2026 e admite que está tomando para si a responsabilidade de manter o PSDB expressivo, depois de reconhecer que o partido encolheu. “Fomos os primeiros a avaliar que perdemos muito”, declarou o neto de Tancredo Neves em entrevista, acrescentando que, sozinho, o PSDB não sobrevive na política brasileira, daí a sua iniciativa de fazer reuniões com lideranças de partidos que julga “mais ao centro” com a intenção inicial de ampliar a federação partidária.
O propósito de Aécio é anunciar ainda este ano a ampliação da federação e, assim que a ideia estiver amadurecida, quer propor uma fusão entre os partidos PSDB, Cidadania e Solidariedade – algo similar com o que aconteceu com o União Brasil, a partir da fusão entre o Democratas e o PSL. Para o parlamentar, os erros do partido começaram com a desistência da disputa pela Presidência da República em 2022. “Na hora que uma candidatura que jamais foi viável, como a do ex-governador João Dória, privilegia o projeto de poder de São Paulo, aí o partido se desvirtua e acaba se fragilizando muito”, ressalta, ponderando: “No momento em que nós abdicamos da nossa responsabilidade de lançar uma candidatura à Presidência da República nós caímos para 13 deputados e nós reconhecemos isso. E eu apontava isso à época, eu dizia que isso ia causar muito caro ao PSDB”. Parte do PSDB trocou o partido por outras siglas desde 2018 – seus principais destinos foram o PSD, o União Brasil ou mesmo o PL. “Antes, nós tínhamos mais de 30 parlamentares. Foram para 18 no momento em que nós abdicamos de espaços”.
O ex-governador de Minas Gerais teoriza que, solitariamente, é muito difícil para o PSDB ou para qualquer partido político construir um projeto viável na realidade brasileira. Por isso ele tem conversado com forças políticas próximas ao centro, em busca de dar musculatura a esse projeto e confirmou que o partido Solidariedade deve ampliar a federação PSDB-Cidadania, que no futuro pode resultar na fusão dos três partidos. O PDT também passou por negociações, mas o presidente do partido, Carlos Lupi, decidiu não continuar no projeto de criação de um novo partido. Aécio Neves acredita que outros virão ao longo do próximo ano. “Por melhor que seja a nossa relação e minha relação pessoal com o presidente Carlos Lupi, que é amigo de uma vida inteira, o PDT hoje está extremamente vinculado ao projeto do PT. Ali existem afinidades históricas, que de alguma forma dificultam a construção de um projeto independente. Não é um projeto aliado ao que o lulopetismo significa, é o que nós sempre combatemos”, enfatizou. Para ele, é preciso levar essas questões com muita cautela porque é natural que existam alguns conflitos “e nós temos que superá-los”. O passo seguinte é, sim, a incorporação ou mesmo a fusão entre agremiações.
O número de parlamentares, de acordo com Aécio Neves, não é um impeditivo para que o PSDB, com a sua história, com os seus quadros, com os governadores que tem, passe a construir ou até mesmo liderar uma alternativa para o Brasil. “Mas nós, que estamos no PSDB, acreditamos em primeiro lugar que existe espaço para um partido de centro no Brasil. Não devemos ser medidos ou quantificados pelo número de prefeitos e vereadores, mas, sim, pelo que nós representamos e poucos partidos, hoje, se dispõem a construir um projeto de país”. Ele disse discordar de uma declaração do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, comparando o eleitorado do PSD com o antigo eleitor do PSDB. Para Aécio Neves, o PSDB tem um projeto político bem definido e ele critica Kassab por apoiar diferentes espectros políticos “sem qualquer constrangimento” como estratégia para aumentar a participação de seus quadros no governo. “Discordo de forma extremamente respeitosa. O PSDB, goste ou não, forte ou fraco, sempre teve clareza de um projeto de oposição a esse projeto do PT, de distanciamento do bolsonarismo. E isso nos fez ter muitas dificuldades, inclusive, nessas últimas eleições”, salientou Aécio Neves.
Lembra que o PSD tem representante, de um lado, com o governo Lula, e, de outro, com um representante de Bolsonaro, que é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, filiado ao Republicanos. Para Aécio, com essa postura, o PSD se considera vitorioso por ter elegido, por exemplo, o maior número de prefeitos na disputa de 2024 no país. “Mas essa é uma lógica que não atende ao PSDB”, emenda ele, defendendo que na busca de alternativas “mais ao centro” para formar uma aliança para as eleições presidenciais os tucanos devem fazer oposição ao PT e pensar no governador de São Paulo como uma possibilidade. “O DNA do PSDB é de oposição ao que o PT representa. É um governo ultrapassado em vigor, sem projetos estratégicos para o país. Nós não somos uma oposição irracional. Nós somos uma oposição que conversa, que dialoga. Nós fazemos oposição ao PT a vida inteira, e uma oposição diferente, inclusive, da que o PT fez aos governos do PSDB, contra FHC, com o Plano Real, contra a lei de responsabilidade fiscal, que são conquistas dos brasileiros”, conclui Aécio, dizendo que vê Tarcísio de Freitas “muito mais amplo” do que o próprio Jair Bolsonaro. “Ele vai além do bolsonarismo, tem um diálogo muito efetivo com as forças de centro, e nós temos que estar dialogando”, frisou.