Nonato Guedes
O nome do secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos Deusdete Queiroga fecha 2024 em alta como opção do PSB para ser candidato ao governo do Estado, faltando quase dois anos para o pleito propriamente dito e sendo cogitado em meio a variadas pretensões concorrentes que já são colocadas no interior do esquema liderado pelo governador João Azevêdo, a exemplo do interesse do vice-governador Lucas Ribeiro, do Progressistas, em ser indicado, ou do auto-lançamento feito pelo deputado estadual Adriano Galdino, do Republicanos, que nos últimos dias foi reconduzido para presidir mais um biênio na Assembleia Legislativa do Estado. Fala-se, também, numa provável candidatura do prefeito reeleito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP) ao Executivo, embora este não precipite definições, muito menos pressione o governador João Azevêdo a pautar seu nome. João Azevêdo é considerado “o grande eleitor” dentro do bloco oficial, não apenas por ter se consolidado na liderança como porque guarda a sete chaves a decisão sobre se vai ou não desincompatibilizar-se do cargo para concorrer a uma vaga ao Senado.
Com raízes na cidade de Sousa, no Alto Sertão paraibano, Deusdete teve uma remota militância política no cenário do Estado na década de 90, quando, inclusive, por estar no exercício da presidência da Assembleia Legislativa, empossou o governador eleito no segundo turno daquele ano, o poeta Ronaldo Cunha Lima, que derrotou o ex-governador Wilson Braga. Mas mesmo não exercendo mandatos eletivos sequenciados, Queiroga sempre esteve próximo do poder estadual, com passagem pelo governo de Ricardo Coutinho. No reinado de João Azevêdo, ele tornou-se uma espécie de super-secretário, respeitado pela sua qualificação profissional e competência técnica, e é referenciado como figura de livre trânsito junto à classe política, inclusive, junto a parlamentares de oposição. Diz-se que a afinidade entre ele e João é muito sólida, e não apenas pela coincidência de Deusdete estar ocupando a secretaria que João exerceu até ser ungido candidato a governador, em 2018, por Ricardo Coutinho. Os dois – Ricardo e João romperam pouco tempo depois do primeiro mandato de Azevêdo, mas Deusdete permaneceu prestigiado no “staff” governista, estendendo tentáculos de influência por gabinetes privilegiados em Brasília.
Em princípio, uma eventual candidatura do secretário de Infraestrutura ao governo enfrentaria restrições ou dificuldades por se tratar de um representante do PSB, que está no poder desde 2010 quando Ricardo Coutinho se elegeu pela primeira vez ao Executivo, reelegendo-se em 2014. Com o protagonismo de João Azevêdo na cena política paraibana, Ricardo tentou todo tipo de sortilégio para manter controle absoluto do PSB na Paraíba – e houve, mesmo, uma ocasião em que ele praticamente forçou a saída do ex-aliado João Azevêdo, que buscou refúgio, então, no Cidadania, até conseguir vencer a queda-de-braço junto à cúpula nacional e passar a comandar, por meio de prepostos, a legenda socialista no Estado. Ricardo buscou espaços de sobrevivência retornando ao Partido dos Trabalhadores, do qual havia saído por não ter conseguido emplacar a sua indicação como candidato a prefeito de João Pessoa na disputa de 2004, que ele venceu estando filiado ao PSB. Com a reeleição de João em 2022, depois de ter passado pela presidência do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Nordeste, não restou dúvida quanto ao “dono” da sigla socialista na Paraíba, tendo Ricardo acumulado derrota ao ser lançado pelo PT como candidato a senador.
No arco de sustentação política do governador João Azevêdo, o PP (reforçado pelo PSD da senadora Daniella Ribeiro) e o Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, tentam quebrar a hegemonia socialista, logrando a primazia de indicar cabeça de chapa nas eleições de 2026. João Azevêdo não é infenso à possibilidade de abertura de vaga para outro partido ou para o chamado revezamento de aliados no poder estadual. Mas ele quer fazer uma análise mais a vagar da conjuntura política na Paraíba para a próxima disputa majoritária, envolvendo sua própria sucessão, e que poderá envolver, também, o seu afastamento da cadeira no Executivo para poder se habilitar a outra candidatura – quer de senador ou de deputado federal. Depois que foram fechadas as urnas das eleições municipais de 2024 e os resultados foram proclamados, com equilíbrio de forças no páreo, começaram as pressões para montagem da chapa do pleito seguinte. E por mais que o chefe do Executivo esteja se empenhando para neutralizar lançamentos de candidaturas ou até mesmo livrar-se de cobranças que desde já impliquem na celebração de compromissos, o movimento é intenso nos bastidores, alimentado pelo próprio interesse da oposição em fomentar dissidências no esquema oficial para tirar proveito e fortalecer seus quadros, em busca de uma revanche.
Além de ter uma agenda administrativa bastante promissora a cumprir neste segundo mandato, que poderá assinalar seu governo na História como divisor de águas no cenário de poder, João Azevêdo precisa acomodar interesses políticos na sua base e aguardar fatos novos, como a quase certa – a dados de hoje – vitória do deputado Hugo Motta para a presidência da Câmara dos Deputados, escala da hierarquia sucessória da própria presidência da República. A expectativa sobre a performance de Hugo Motta é grande porque a ascensão do deputado terá grande influência na correlação de forças políticas na Paraíba – tanto assim que o Republicanos segue na base de João mas continua tendo acenos de partidos e pré-candidatos de oposição ao governo. Deusdete é um político que evita criar arestas – pelo menos, esta é a imagem pública que se tem dele, mas precisará de outras credenciais para ser aceito em bloco como candidato ao governo. Uma engenharia que caberá ao próprio João Azevêdo destrinchar com sua habilidade proverbial.