Nonato Guedes
Até certo ponto chamou a atenção dos meios políticos paraibanos um trecho da resolução da Executiva Estadual do Partido dos Trabalhadores na Paraíba, propondo que seja discutida a reivindicação por espaço na chapa majoritária do esquema liderado pelo governador João Azevêdo (PSB) nas eleições de 2026. Embora segmentos do PT estejam alinhados com João Azevêdo desde sua campanha à reeleição em 2022 e tenham declarado apoio à candidatura do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP) à reeleição em 2024, a legenda segue rachada, com o grupo liderado pelo ex-governador Ricardo Coutinho distanciado de qualquer entendimento com o líder socialista e ainda sem rumos concretos para uma aliança dentro de dois anos. Em 2022, esse grupo fechou com a candidatura de Veneziano Vital do Rêgo, do MDB, e integrou a chapa, com os nomes de Maísa Cartaxo, esposa do deputado Luciano Cartaxo, para a vice, e do próprio ex-governador Ricardo Coutinho para a vaga de senador. Perderam Veneziano, Cartaxo e Coutinho, enquanto Azevêdo foi reeleito tendo como vice Lucas Ribeiro, mesmo sem conseguir eleger a sua candidata ao Senado, Pollyanna Dutra.
A rigor, a composição PSB-PT na Paraíba deveria ser encarada com naturalidade porque reproduz a coligação nacional no campo da esquerda que tem o petista Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República e o socialista Geraldo Alckmin na vice-presidência. Mas a rivalidade que foi declarada entre Ricardo Coutinho e João Azevêdo, que eram aliados até 2018, tem sido obstáculo na celebração de um pacto de unidade entre as duas agremiações no âmbito local. Ainda este ano, na disputa pela prefeitura de João Pessoa, Ricardo Coutinho manejou os cordéis para impor junto à cúpula nacional petista a candidatura própria do deputado estadual Luciano Cartaxo ao cargo que já havia ocupado, numa manobra com duplo objetivo: impedir que o petismo apoiasse a candidatura de Cícero por influência de João Azevêdo e implodir a pré-candidatura da deputada estadual Cida Ramos, que chegou a reunir apoios expressivos de expoentes de tendências do PT para a sua pretensão. Cida foi vítima de uma orquestração em diversas frentes, articulada por Coutinho e Cartaxo, de modo que não conseguiu sensibilizar a direção nacional sequer para realizar prévias internas, dando cumprimento a um rito democrático que figura no estatuto da agremiação. Todo esse esforço de aniquilamento foi em vão porque Cartaxo, o ungido de Ricardo, ficou confinado ao quarto lugar na disputa, deixando de contar, como esperava, com o “recall” de duas gestões empalmadas na Capital paraibana.
Depois do fracasso retumbante nas eleições municipais de 2024, o Partido dos Trabalhadores na Paraíba ficou à deriva porque o próprio Ricardo Coutinho escafedeu-se de maiores responsabilidades, enquanto a militantes burocratas que são dirigentes como Jackson Macedo, presidente estadual, foi dado o ônus de arcar com a dificílima reconstrução da agremiação, antes que ela desapareça do mapa político da Paraíba, como já se eclipsaram tantas agremiações na história política-eleitoral recente. Luciano Cartaxo, por sua vez, retomou o mandato na Assembleia Legislativa e reiterou a condição de integrante da base de apoio ao governo João Azevêdo, sem que tenha sido prestigiado efetivamente até agora em virtude desses gestos. Em todo o caso, abriu-se o PT para o escancaramento da discussão em forma de “mea culpa” sobre os erros sucessivos que vêm sendo cometidos na sua trajetória e quais as perspectivas – se é elas existem – para o futuro à vista.
A sinalização da Executiva Estadual por reivindicar espaço numa chapa majoritária que venha a ser construída por João Azevêdo à sua sucessão estimulou o debate sobre as alternativas e sobre nomes em disponibilidade, com capital político para compor o bloco que vai disputar o poder e que já reúne expoentes do PSB de João, do PP de Lucas e Aguinaldo Ribeiro, do Republicanos de Hugo Motta e do PSD da senadora Daniella Ribeiro. Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo, por razões óbvias, estariam descartados com antecedência de qualquer composição numa chapa patrocinada pelo governador João Azevêdo. O nome que ganha evidência é, mesmo, o da deputada Cida Ramos, que foi sacrificada na disputa de 2024, internamente cristianizada, alvo de violência política e ainda por cima impedida de disputar democraticamente as prévias internas para escolha de candidatura. Cida mantém-se na base de apoio ao governador João Azevêdo, conforme ela mesma tem declarado. O PT é que, oficialmente, não está no radar para a aliança política com o esquema de João, pelo menos do ponto de vista de integrar a chapa com um nome de seus quadros ou fileiras.
Um empecilho que analistas políticos apontam para a sobrevivência do PT paraibano diz respeito à definição sobre quem lidera, realmente, os destinos da agremiação em termos locais, uma vez que os dirigentes estadual Jackson Macedo e o municipal de João Pessoa, Marcos Túlio, já foram desautorizados abertamente pela cúpula nacional quando se aplicaram a pôr em prática decisões internas tomadas pela maioria. Depararam-se com atitudes de intervenção e descredenciamento da legitimidade dos diretórios locais para se manifestar sobre a realidade de João Pessoa e da Paraíba. Ainda há quem acredite, dentro do PT da Paraíba, que uma palavra ou um gesto do presidente Lula sobre o respeito à democracia interna na tomada de decisões poderia reabilitar o petismo, mas Lula está ocupado demais com outros desafios para se envolver com as futricas paraibanas. Seja como for, o nome de Cida está colocado, como tantos outros estão colocados na chamada base governista. A incógnita é sobre o verdadeiro destino do PT no Estado, diante do processo vertiginoso de desidratação que está experimentando nos últimos anos.