Nonato Guedes
O ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, que foi candidato do PSDB ao governo do Estado, com o apoio de líderes da oposição, e disputou o segundo turno contra João Azevêdo (PSB), reeleito por diferença estreita, admitiu, ontem, voltar a disputar o Executivo em 2026 se houver consenso no seu bloco, de que fazem parte, ainda, os senadores Efraim Filho, do União Brasil, e Veneziano Vital do Rêgo, do MDB, além de expoentes do Podemos. Numa entrevista ao “Correio Debate”, no Sistema Correio de Comunicação, Pedro ressaltou que, em termos pessoais, não tem interesse em voltar a pleitear o Legislativo, embora tenha se sentido recompensado na Câmara, onde presidiu a Comissão de Educação e projetou-se como um dos parlamentares mais atuantes. Ele considera que o nome do senador Efraim Filho também é forte para concorrer pelo bloco de oposição, mas disse que se coloca à disposição para o desafio.
Pedro Cunha Lima avalia que as oposições na Paraíba estão cada vez mais fortalecidas, como consequência dos resultados de 2022 e do pleito recente, este ano, para prefeituras municipais, quando conseguiram eleger um número expressivo de candidatos em diferentes regiões. Também defende o ponto de vista de que a escolha de uma candidatura de consenso contra o esquema governista deverá estar definida, pelo menos, até os festejos juninos de 2025, possibilitando que seja construída uma estratégia de aproximação com o eleitorado com condições de ser vitoriosa em 2026. Lembrou, a propósito, que no episódio da definição e anúncio de sua candidatura em 2022 a oposição demorou a se manifestar (na época, havia dúvidas quanto a uma possível candidatura do deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos, que acabou postulando a reeleição à Câmara). Pedro foi lançado candidato tendo como vice o empresário Domiciano Cabral e contando, na disputa pela vaga ao Senado, com a candidatura do então deputado federal Efraim Filho. No segundo turno daquele pleito, o filho do ex-governador Cássio Cunha Lima obteve o apoio engajado do senador Veneziano Vital do Rêgo, que havia concorrido no primeiro turno e que, com o gesto, oficializou uma pacificação política em Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado.
No desenho do cenário para 2026, Pedro assume que não cogita o Legislativo porque entende que o Executivo oferece possibilidade concreta de realização de ações em favor da população – e é nessa perspectiva que ele se coloca, juntamente com Efraim Filho ou com o próprio Romero Rodrigues. Mas o ex-deputado deixa claro que não se trata de uma “obsessão” a ascensão ao Executivo e reiterou um antigo bordão que espalhou através da imprensa de que não precisa de mandato para fazer política. O seu diagnóstico é o de que a campanha de 2022 já espelhou crescimento da oposição, comprovado com a votação expressiva que ele obteve em centros eleitorais da Grande João Pessoa, ultrapassando o adversário mais próximo, o governador João Azevêdo. Igualmente analisa que não houve propriamente uma vitória de Azevêdo, mas, sim, do esquema atrelado à máquina governamental, com influência reconhecida em municípios de regiões do interior paraibano, nos quais o chefe do Executivo reeleito extraiu a vantagem para assegurar-se mais um mandato à frente do Palácio da Redenção. “O espaço está cada vez mais aberto para a alternância de poder no Estado”, acredita o ex-parlamentar.
Pedro Cunha Lima, que na campanha a governador descolou-se da polarização política-ideológica nacional, representada pelo confronto entre bolsonarismo e lulismo, ressalta que a polarização continua cada vez mais acentuada, dividindo interesses junto à própria sociedade e, a seu ver, prejudicando o avanço de pautas que poderiam estar implementadas pelo poder público. No íntimo, ele parece apostar, ainda, em espaço para o surgimento, com viabilidade, de uma terceira força política no cenário nacional, citando que à direita há nomes alternativos como o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e à esquerda expoentes como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que em 2018 disputou a Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores e acabou derrotado por Jair Bolsonaro. Cunha Lima alertou que o processo de mutação na política tem sido bastante acentuado ao longo dos anos e que, por isso, há sempre um aceno de quebra do “status quo”, na dependência da evolução da consciência crítica da própria sociedade em relação aos temas mais polêmicos que estão colocados na ordem do dia dos debates nacionais,
Pedro Cunha Lima faz uma autocrítica a respeito do definhamento do PSDB em Estados como a Paraíba, dizendo que se trata de uma nota deplorável para o projeto de retomada de espaços dos tucanos em nível nacional, mas lembrou que ainda há governadores da legenda e líderes políticos de expressão que se empenham com vistas a promover saídas de sobrevivência para a agremiação que levou ao poder o presidente Fernando Henrique Cardoso. No que diz respeito às questões da Paraíba, avalia que há uma realidade imutável quanto a políticas públicas de resultados e que esse fenômeno apenas contribui para agravar o cenário de esvaziamento sócio-econômico. “Mas não podemos perder a esperança de que o eleitorado tome a iniciativa de fazer a sociedade avançar, juntamente com a representação política paraibana”, disse ele, acrescentando que se considera um militante político proativo e que está preparado para os embates e desafios.