Nonato Guedes
Um oportuno editorial do jornal “O Estado de S. Paulo” na edição de ontem chamou a atenção para o tema da saúde e idade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que se recupera de intervenções cirúrgicas num hospital de São Paulo. Na avaliação do periódico, os procedimentos pelos quais o mandatário teve de passar esta semana após sofrer uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada em outubro, mostraram que, “ao menos nos próximos dois anos, o Brasil precisará lidar abertamente, e de maneira responsável”, com questionamentos sobre a aptidão de Lula para se candidatar à reeleição em 2026. No contraponto da preocupação com a saúde, sobressai a insistência do petismo em que Lula seja o candidato à reeleição à Presidência da República. Como definiu Jilmar Tato, deputado federal e secretário nacional de comunicação do PT, Lula é o “Plano A, B e C” do partido para a próxima disputa presidencial – para a qual, pelo menos por enquanto, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mantém-se inelegível por decisão do TSE.
Um dado que reforça a defesa do nome do presidente para candidato em 2026 é o bom nível de aprovação que ele sustenta na opinião pública, como mostrou a pesquisa Genial-Quaest recém-divulgada, com 52% contra 47% de desaprovação. O levantamento mostrou perda de apoio fora da margem de erro em Pernambuco, de 73% em abril, para 65%; em São Paulo, de 54% para 43% no mesmo período e, em Goiás, de 49% para 41%. Desde fevereiro, a avaliação positiva do governo perdeu sete pontos percentuais e está em 33%. O instituto também mediu as intenções de voto para presidente da República. Se a disputa fosse hoje, Lula venceria todos os possíveis adversários. Contra Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, 52% X 25, Ronaldo Caiado perderia por 54% a 20%. E Jair Bolsonaro, caso pudesse concorrer, seria novamente derrotado por 51% a 35%. Se o candidato governista fosse Fernando Haddad, ministro da Fazenda, ele venceria com folga tanto Tarcísio quanto Caiado. Mas Lula é o “queridinho” do PT e da sua “entourage” para concorrer novamente, e ninguém na cúpula admite outro nome que não seja o dele para o pleito de 2026. O eleitor, conforme a Quaest, está dividido: 52% acham que ele não deveria tentar a reeleição – percentual que era 58% em outubro. A decisão, claro, caberá a Lula, que pesará condições de saúde, idade e o cenário econômico.
Se preferir não enfrentar a briga pelo quarto mandato aos 81 anos – e a sétima disputa presidencial – Lula terá de usar toda a habilidade acumulada em mais de 40 anos para escolher seu substituto e, ao mesmo tempo, não virar um “pato manco”, sem contar a administração da economia. Vai precisar domar as divisões internas do PT, que torce o nariz para o ministro da Fazenda, e montar uma aliança sólida com os partidos de centro. Em matéria no “Congresso em Foco”, Lydia Medeiros observa que, seja qual for o caminho a ser adotado pelo presidente, descansar parece fora de cogitação na agenda dele. O editorial do “Estadão” afirma, ainda, a propósito da saúde do presidente: “Entre avaliações mais sensíveis e cuidadosas diante do estado de saúde do presidente, e outras que mal escondem o desejo de antecipação de sua retirada de cena, houve, também, aquelas que são negação em estado bruto: a sensação, exibida especialmente por morubixabas lulopetistas, de que é uma impossibilidade histórica não poder contar com a sua presença em 2026”. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, é fechada com a candidatura do presidente a um novo mandato.
Segundo “O Estado de São Paulo”, na visão das pessoas que não aceitam que Lula se aposente da vida pública, o petista é o maior trunfo da esquerda para enfrentar a direita – e, de fato é, entretanto, a saúde do presidente tem se tornado cada vez mais um tema em pauta. “Não é uma discussão trivial, mas um imperativo, levando-se em conta tanto a saúde do mandatário quanto a sua idade. Como se sabe, hoje com 79 anos, o presidente terá 81 em 2026 e encerrará um eventual segundo mandato com respeitáveis 85 anos. Se fosse um cidadão comum, suas condições de saúde só interessariam a ele próprio e à sua família. Mas Lula é, repita-se, o presidente da República”, enfatiza o jornal paulista. O “Estadão” ainda descartou que o tema seja decorrente de preconceito ou etarismo e descreve como “uma inevitabilidade da vida” que o país reflita sobre a capacidade de qualquer presidente de “entender a realidade à sua volta e de tomar as melhores decisões, assim como demonstrar condições físicas boas o suficiente para lidar com a rotina e as pressões que a Presidência exige”. Ainda agora, o Planalto está às voltas com exaustivas negociações junto a parlamentares para a aprovação de medidas que implicam em corte de recursos para programas que vinham sendo executados aparentemente sem maiores problemas. O periódico paulista pôs-se a citar o exemplo do atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que está concluindo o mandato depois de ter desistido da disputa, sendo substituído pela vice Kamala Harris, que perdeu para Donald Trump.
– Durante meses, a Casa Branca e lideranças do Partido Democrata tentaram ao máximo varrer para baixo do tapete o tema da idade de Biden. Quem ousasse questionar sua capacidade mental era tratado como agente de desinformação da extrema-direita. A ideia de que ele estava em forma para um novo mandato só fracassou mesmo num debate com Donald Trump: com lapsos, incoerências, gaguejos e outras demonstrações de fragilidade, Biden gerou a pressão definitiva para que renunciasse a uma candidatura. A saída tardia da disputa complicou ainda mais o que já era difícil para os democratas – analisou o editorial. O texto de “O Estado de S. Paulo” é finalizado com a observação de que “velhice não é sinônimo de senilidade, muito menos de doença” e que tudo dependerá se Lula terá saúde e lucidez “compatíveis com os imensos desafios à sua frente”.